Rui Car
11/05/2017 15h40 - Atualizado em 11/05/2017 13h55

Brasileirão começa com técnicos mais jovens e agora protagonistas

Nem todos os experientes estão ultrapassados e nem todos os jovens estão preparados

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Globo Esporte

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Em dezembro do ano passado, em um curso de aperfeiçoamento de treinadores na CBF, o professor pediu a seus alunos que se reunissem em pequenos grupos para fazer um trabalho. Jair Ventura, 38 anos, logo puxou uma cadeira e se juntou a Zé Ricardo, 45, e Eduardo Baptista, 47. Ali estava, em uma sala de aula, a personificação de um rejuvenescimento do mercado brasileiro de técnicos – uma renovação com reflexo na Série A deste ano, que começará com a menor média de idade entre os comandantes desde 2010.

 

Em comparação com a temporada passada, a queda é superior a três anos. A média dos treinadores na primeira rodada do Brasileirão de 2016 foi de 53 anos; em 2017, com começo neste sábado, será de 49,5 – levando em conta o interino do Vitória, Wesley Carvalho, já que o clube ainda não anunciou o substituto de Argel Fucks.

 

Quebrar a barreira dos 50 anos é simbólico. A última vez que isso aconteceu foi em 2010 – média de 48,9. A diferença agora é que os novatos são protagonistas. E os Estaduais deixaram isso bem claro.

 

Em São Paulo, o campeão foi Fábio Carille, do Corinthians, que tem 43 anos e vive sua primeira temporada como treinador de um elenco profissional; no Rio, o título ficou com Zé Ricardo, 45, alçado no ano passado ao comando do grupo principal do Flamengo; em Minas Gerais, a taça ficou com Roger Machado, 42 – que tem no Atlético-MG seu quarto clube, depois de passar por Juventude, Novo Hamburgo e Grêmio em três anos de carreira.

 

 

Treinadores campeões dos Estaduais com clubes na Série A mostram renovação no mercado; Pernambucano será decidido em junho  (Foto: GloboEsporte.com)Treinadores campeões dos Estaduais com clubes na Série A mostram renovação no mercado; Pernambucano será decidido em junho  (Foto: GloboEsporte.com)

Treinadores campeões dos Estaduais com clubes na Série A mostram renovação no mercado; Pernambucano será decidido em junho (Foto: GloboEsporte.com)

 

Nos Estaduais com representantes no Brasileirão, o treinador campeão mais velho foi Beto Campos, de 52 anos – o surpreendente vencedor do Gauchão com o Novo Hamburgo. Dois interinos foram campeões em Goiás e na Bahia: Silvio Criciúma (Goiás) e Wesley Carvalho (Vitória). Eles tentam traçar o mesmo caminho de Fábio Carille, de Zé Ricardo e também de Pachequinho (46), campeão paranaense e efetivado no Coritiba.

 

MAIS JOVENS

Dos 16 clubes que disputaram o Brasileirão passado e estarão novamente na edição de 2017, apenas cinco apostaram em treinadores mais velhos do que na temporada passada (levando-se em conta a primeira rodada): Cruzeiro, Fluminense, Grêmio, Ponte Preta e Vitória. Três repetem o treinador (Atlético-PR, Palmeiras e Santos). Os demais preferiram técnicos mais jovens. E é importante observar que os cinco mais novos treinam equipes que estão entre as mais populares do país – clubes como Corinthians, Flamengo, São Paulo, Atlético-MG e Botafogo.

 

Houve rejuvenescimento nos dois extremos: o treinador mais velho de 2017 é Abel Braga, de 64 anos, e na largada do campeonato passado era Givanildo, de 67; o mais novo em 2016, na primeira rodada, era Roger, então com 41, e agora é Jair Ventura, com 38. Treinadores que há poucos anos eram símbolos de novidade agora estão entre os mais velhos – casos de Dorival Júnior (55), Mano Menezes (54) e Renato Portaluppi (54), que só são mais jovens que Abel Braga e Paulo Autuori (60).

 

 

Treinadores mais jovens do Brasileirão são de clubes muito populares; lista não tem o interino do Vitória, que ainda procura substituto de Argel Fucks (Foto: GloboEsporte.com)Treinadores mais jovens do Brasileirão são de clubes muito populares; lista não tem o interino do Vitória, que ainda procura substituto de Argel Fucks (Foto: GloboEsporte.com)

Treinadores mais jovens do Brasileirão são de clubes muito populares; lista não tem o interino do Vitória, que ainda procura substituto de Argel Fucks (Foto: GloboEsporte.com)

 

A mudança é resultado da ausência de figuras habituais do mercado brasileiro – nomes como Luiz Felipe Scolari (68 anos), atualmente na China, Vanderlei Luxemburgo (65) e Levir Culpi (64), que estão sem clube.

 

E os números poderiam ser ainda menores. Às vésperas do Brasileirão, ocorreram duas trocas que aumentaram um pouco a média de idade: Eduardo Baptista (47) por Cuca (53) no Palmeiras e Argel (42) por, momentaneamente, Wesley Carvalho (43) no Vitória.

 

O CAÇULA

O treinador mais jovem do Brasileirão é experiente. Jair Ventura tem apenas 38 anos, mas carrega no Botafogo a vivência de 11 anos fora dos campos: como técnico em categorias de base, analista de desempenho e auxiliar. No ano passado, com a saída de Ricardo Gomes para o São Paulo, herdou a vaga e tirou o time da zona de rebaixamento para classificá-lo à Libertadores da América. Tem 50 jogos e 61% de aproveitamento no Botafogo.

 

 

O curioso é que a carreira teve uma decepção como alavanca. Em 2000, ainda como jogador, Jair tentou fazer parte do elenco do Caxias. Mas foi vetado pelo treinador do clube gaúcho na época – um tal de Tite, que hoje calha de comandar a Seleção e ser o treinador mais respeitado do país.

 

– Ele foi um visionário – diverte-se Jair.

 

Ser o caçula entre os técnicos da Série A orgulha Jair. “Não conquistei meus jogadores por causa dos meus cabelos brancos”, ele brinca. Mas também faz um alerta:

 

“Nem todos os treinadores experientes estão ultrapassados e nem todos os treinadores jovens estão preparados. Conheço bastante treinador com mais de 60 anos que ainda troca ideia de futebol, usa tecnologia, faz tudo que um treinador jovem faz.”

E ele sabe, como especialmente os treinadores mais jovens costumam saber, que resultados são fundamentais.

 

Eu tinha certeza, quando assumi com o time na zona do rebaixamento, que ia acabar minha carreira se fosse rebaixado. Você só tem uma chance. O vagão passa uma vez e você tem que segurar. Eu segurei com todas as forças.

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