Duas Copas do Mundo já estão no currículo. Nelas, duas frustrações. Cicatrizes diferentes, já que o 7 a 1 nem se compara à queda diante da Bélgica. Mas o que se repete quando se trata de Paulinho é a necessidade de provar a utilidade para a seleção brasileira nos compromissos que se sucedem aos Mundiais.
Depois de 2014, a resposta demorou, mas veio. Agora, no pós-Copa-2018, Tite esperou quatro jogos para dar ao jogador do Guangzhou Evergrande uma nova chance de recomeço. Titular na Rússia, Paulinho é um dos chamados para os amistosos contra Uruguai, sexta-feira, em Londres, e Camarões, dia 20, em Milton Keynes, também na Inglaterra.
— Em todo recomeço, deve-se analisar o que foi feito de bom e ruim. As experiências em 2014 e 2018 devem ser usadas para este novo ciclo. Sempre há uma expectativa de servir a seleção da melhor forma possível — disse o jogador, ao GLOBO.
Como tem 30 anos, Paulinho não sabe se estará em alto nível na Copa de 2022, no Qatar. Essa incerteza e o surgimento de concorrentes talentosos — como Arthur, Paquetá e, na convocação atual, Allan — são fatores que contribuem para o aumento do nível da dificuldade de seguir na seleção. Paulinho entende a política recente de testes.
— É o início de um novo ciclo e, por serem jogadores capacitados, terão a oportunidade de lutar por seus espaços, como também tive a minha em outro momento — disse o volante, que elogiou Arthur e prevê, pela precisão dele nos passes, chance alta de sucesso no Barcelona.
Paulinho traz à seleção brasileira característica singular para um volante: a capacidade de infiltração e presença na área adversária. Foi assim, por exemplo, que ele fez o gol contra a Sérvia, na primeira fase da Copa da Rússia.
Faz tempo que Tite conhece esse atributo do jogador, já que foi campeão com ele da Libertadores e do Mundial, nos tempos de Corinthians. A relação entre os dois tranquiliza Paulinho para as missões que virão pela frente.
— Independentemente da minha característica, sinto ter a confiança do treinador e isso é muito importante. Penso em poder contribuir sempre da melhor forma e, se ele e a comissão técnica entenderem que o melhor é explorar essa característica, estarei à vontade para realizá-la — disse o volante, que tem 23 jogos e oito gols durante a gestão de Tite na seleção brasileira.
Depois da passagem ruim pelo Tottenham, da Inglaterra, e de não ter correspondido às expectativas na Copa-2014, Paulinho se viu como uma carta fora do baralho. Na China, ele encontrou o espaço para recomeçar e voltar à seleção. Mas tão surpreendente quanto ser contratado em 2017 pelo Barcelona foi a decisão de, um ano depois, voltar ao Guangzhou. Paulinho cita que aceitou a proposta por uma “conjuntura profissional e familiar”.
No campeonato nacional deste ano, fez 15 gols em 19 jogos. Essa opção, porém, o tira das principais competições de clubes do planeta e o coloca em um nível de exigência maior para justificar as convocações.
— O crescimento da liga chinesa existe, com maior internacionalização. A chance de estar melhor condicionado para servir a seleção é maior — argumentou.
O amistoso contra o Uruguai será a primeira chance de mostrar que a estratégia de recomeço dará certo novamente para Paulinho. Uma coincidência que pode servir de motivação no reinício de jornada é o retrospecto positivo contra os uruguaios. Na Copa das Confederações-2013, foi dele o gol que classificou o Brasil na semifinal. Nas Eliminatórias, já com Tite no comando, Paulinho fez três na goleada por 4 a 1, em pleno Estádio Centenário.