Rui Car
08/05/2017 09h30 - Atualizado em 08/05/2017 08h36

Da tragédia ao título em 159 dias: cinco passos na reconstrução da Chape campeã

Força na Arena Condá pavimenta caminho até inédito bi estadual

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Um bicampeonato inédito, um processo de reconstrução consolidado, e a certeza de que Chapecó voltou a sorrir. Tudo aconteceu muito rápido para Chapecoense desde o fatídico acidente de 29 de novembro, na Colômbia. Sem muito tempo para pensar, o clube remontou o elenco para a temporada mais importante de sua história, soube lidar com os erros e precisou de apenas 159 dias para trocar as lágrimas que tomaram conta da cidade pelos sorrisos com direito a buzinaço nas ruas e gritos de campeão. O GloboEsporte.com listou pontos determinantes na volta por cima do Verdão, que, mesmo com a derrota por 1 a 0 para o Avaí, levantou o sexto campeonato catarinense de sua história:

 

Montagem do elenco

Quatro meses e um dia. Esse foi o tempo necessário para Chapecoense transformar um elenco montado praticamente do zero em campeão estadual. Ao todo, foram 25 contratações para temporada. Do time titular na decisão com o Avaí, apenas Moisés Ribeiro estava no clube no ano passado. Sucesso que reflete a paciência de uma equipe que soube sofrer no primeiro turno em busca do conhecimento e entrosamento necessários para atropelar os adversários no segundo turno, em campanha que rendeu a vantagem determinante para conquista do bicampeonato. Mas a nova Chape não para por aí. A expectativa é pela confirmação da chegada de Seijas nesta semana e cerca de outras três peças para disputa do Brasileirão.

 

Equipe mutante

A Chapecoense soube se reinventar durante o Campeonato Catarinense até encontrar a formação ideal. Uma prova disso é que metade do time da estreia, diante do Inter de Lages, no fim de janeiro, foi alterado para última partida com o Avaí. Luiz Otávio, Nathan, Moisés Ribeiro, Luiz Antonio e Arthur Caíke ganharam a posição durante a competição, e Vagner Mancini não se privou de fazer as alterações necessárias. Neste período, encontrou a formação ideal com Girotto como primeiro volante e Luiz Antonio com maior liberdade, e depois ainda descobriu Nathan e João Pedro como meio-campistas. Por mais que o esquema 4-3-3 tenha sido mantido, a alternância nas peças mudou bastante o posicionamento e postura do time.

 

Mancini não se privou de fazer as alterações necessárias na Chape durante o Catarinense (Foto: Márcio Cunha/Estadão Conteúdo)Mancini não se privou de fazer as alterações necessárias na Chape durante o Catarinense (Foto: Márcio Cunha/Estadão Conteúdo)

Mancini não se privou de fazer as alterações necessárias na Chape durante o Catarinense (Foto: Márcio Cunha/Estadão Conteúdo)

 
 

Capacidade de recuperação

Não foram poucas as situações em que a Chape foi testada em momentos adversos ao longo desses quatro meses, mas sempre soube dar a resposta imediata. Os primeiros questionamentos surgiram após as derrotas para Avaí e Brusque, fora de casa. A volta por cima veio com uma série de 12 partidas invictas no Estadual. Neste período, houve a frustração diante do Lanús, em casa, pela Libertadores, que marcou a mudança na forma de jogar, com Girotto e Luiz Antonio ditando o ritmo no meio-campo, e iniciou a sequência de sete vitórias consecutivas determinantes para garantir a melhor campanha e vantagem na decisão. Por fim, a péssima atuação no 3 a 0 para o Nacional, no Uruguai, não abalou uma equipe que se recuperou com a vitória por 1 a 0 sobre o Avaí, na Ressacada, que lhe valeu o título.

 

Sobreviventes e remanescentes

Substituir as vítimas do acidente de 29 de novembro nunca foi um peso para o novo elenco da Chape, e isso vai muito da forma como clube e sobreviventes conduziram a situação. Por mais que manter viva a memória do grupo campeão da Sul-Americana seja uma preocupação, sempre bateu-se na tecla de que uma nova história estava sendo escrita. Follmann, Alan Ruschel e Neto se colocaram como parte do processo de reconstrução, sem distinção, tanto que os dois primeiros estiveram no gramado na festa do bi. A inclusão do lateral e do zagueiro nos treinamentos no CT da Água Amarela também ajudou a “unificar” a Chape. Papel importante que tiveram também Moisés Ribeiro e Nenén, que também faziam parte do grupo de 2016 e são os únicos bicampeões jogando.

 

 

Follmann (foto), Alan Ruschel e Neto se colocaram como parte do processo de reconstrução do clube em 2017 (Foto: Jamira Furlani/Avaí FC)Follmann (foto), Alan Ruschel e Neto se colocaram como parte do processo de reconstrução do clube em 2017 (Foto: Jamira Furlani/Avaí FC)

Follmann (foto), Alan Ruschel e Neto se colocaram como parte do processo de reconstrução do clube em 2017 (Foto: Jamira Furlani/Avaí FC)

 

Alçapão Condá

A derrota para o Avaí na última partida tirou a invencibilidade, mas não diminuiu a importância da Arena Condá na volta por cima da Chape. Desde o amistoso com o Palmeiras, o minuto 71 (aos 26 do segundo tempo) se tornou um marco na união entre time e torcida. Em casa, o time mostrou força em momentos determinantes, como na arrancada no segundo turno com direito a goleadas sobre Tubarão e Brusque, e vitórias convincentes em clássicos com Avaí e Joinville. Para finalizar, casa cheia no jogo do título e quase um novo recorde de público. Com 19.141 presentes, faltaram 34 para igualar o número da partida com o Grêmio pelo Brasileirão de 2014. O palco que ficou marcado pelas homenagens e pelo velório coletivo há tão pouco tempo voltou a sorrir e a receber uma festa.

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