A tranquilidade não é o traço mais marcante da personalidade do presidente do Corinthians, Roberto de Andrade. Mas poucas coisas foram tão capazes de tirar o dirigente do sério em 2017 como as negociações para tentar manter o zagueiro Pablo no clube.
As tratativas se arrastaram durante quase toda a temporada e chegaram a ter momentos de tensão. Um deles aconteceu quando, tentando convencer a diretoria a atender às suas exigências, Fernando César, empresário do atleta, afirmou que o Corinthians precisava entender que estava decidindo o futuro de um ídolo. Andrade ficou indignado e, segundo relatos, alterou o tom de voz.
– O cara tem seis meses de clube, e ele vem me falar que é ídolo? – bradou o presidente ao contar o episódio a pessoas próximas, disparando junto alguns palavrões.
As exigências e o modo de negociar do representante de Pablo incomodavam os cartolas alvinegros. Mas havia algo ainda pior. O que mais tirava os dirigentes do sério era a exposição pública da negociação, por meio das redes sociais e de declarações do agente à imprensa.
Em agosto, Fernando César usou sua conta no Instagram para anunciar que as negociações com o Timão estavam suspensas. A cúpula corintiana ficou incrédula ao ler o texto, que entre outras coisas dizia que o clube “não conseguiu os recursos ou dar garantias de pagamento para viabilizar a finalização do contrato”.
Quando leram a publicação, o gerente de futebol Alessandro Nunes e o diretor Flávio Adauto estavam a caminho de Minas Gerais, onde a equipe jogaria no dia seguinte. Roberto de Andrade ficou em São Paulo e fez questão de responder pessoalmente ao representante de Pablo. Apesar de aconselhado a se acalmar, ele não conseguiu conter o temperamento explosivo ao falar com Fernando César. Foi outro momento tenso desta “novela”.
No início, a irritação dos dirigentes era apenas com o empresário. Com o tempo, porém, a relação com o Pablo também foi se desgastando. A cúpula do clube chegou a se reunir com o jogador e apresentar a ele todas as ofertas feitas ao seu representante. No entanto, ouviram do zagueiro que ele tinha plena confiança em Fernando César e que apenas ele conduziria as tratativas.
A fidelidade de Pablo ao empresário, com quem trabalha desde a infância, era vista como um grande entrave para um desfecho positivo das conversas.
– Será que ele não está vendo que o Fernando vai ferrar com a carreira dele? – indagavam os dirigentes, que suspeitavam que o agente usara outros clubes, como Palmeiras e Flamengo, para promover uma espécie de leilão pelo atleta.
O Corinthians chegou a acertar salários e tempo de contrato com o zagueiro, mas esbarrou em valores e forma de pagamento das luvas e da comissão ao agente. Fernando César também pedia garantias financeiras apontadas como exageradas pelos cartolas do Timão.
– Desde quando querer receber o que lhe é devido é privilégio? Desde quando tomar cautelas para receber o que lhe é devido é privilégio? – questionou o empresário no mês passado, quando o clube decidiu encerrar as tratativas.
Fernando César, que é advogado, alega que sempre buscou o melhor para Pablo. Ele também afirma que apresentou diversas alternativas ao Corinthians para viabilizar a permanência do jogador.