Rui Car
21/01/2019 14h40 - Atualizado em 21/01/2019 13h50

Marta chora ao ”medir” legado e rechaça pressão por Copa: ”Messi não entrou para história?”

Ela evita falar em data de aposentaria e valoriza caminho aberto por sua geração no esporte

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Falta aquele título, Marta? A pergunta é repetida inúmeras vezes ao longo da carreira. Nesta segunda-feira, não foi diferente. Perto de sua quinta Copa do Mundo, a atleta que carrega nada menos que seis títulos de melhor do mundo no futebol, ainda busca uma conquista com a seleção brasileira. Para ela, a disputa na França, em junho, será uma nova oportunidade. Mas não é vista como uma necessidade para valorizar sua trajetória.

 

 

Muito pelo contrário. Em coletiva na Granja Comary, Marta foi questionada se o Mundial é algo que pode fazer falta em sua história tão brilhante. Com bom humor, a jogadora lembrou de um companheiro de profissão, tão premiado quanto, mas que jamais chegou ao topo com sua seleção.

 

– Mas o Messi não entrou na história do futebol? Pelo que me lembro, não conquistou Copa do Mundo. Isso é do brasileiro, cobra muito. Principalmente no futebol. Tem que entrar para ganhar, não pode entrar para competir (…) Em várias competições, sentia que a gente era melhor e não ganhamos. E não é por que não ganhou que não deixa seu nome na história. Não considero que marquei, trabalho para que o futebol feminino permaneça vivo e constante – disse.

 

 

Marta não considera que marcou a história. É uma opinião modesta diante de seus feitos. Mas, com lágrimas dos olhos, reconhece que talvez sua maior conquista com a camisa da Seleção não esteja em troféus ou medalhas. E é isso que ela faz questão de valorizar às vésperas de mais um grande torneio representando o país.

 

– A gente trabalha para ganhar títulos, algo nítido, oportunidades. Mas voltar aqui na Granja e ver como tudo mudou. Ver que realmente nossa modalidade está crescendo porque a Formiga há 25 anos começou, pela Pretinha, há 30 anos. Não é uma coisa que acontece de um dia para o outro. Para nós que estamos voltadas para essa luta, isso é muito melhor que um título – disse Marta, sem segurar as lágrimas.

 

A Copa do Mundo de futebol feminino será disputada em junho, na França. O Brasil está no Grupo C do torneio, ao lado de Austrália, Itália e Jamaica.

 

Leia mais trechos da entrevista:

 

Sobre a Copa?
A Copa é um objetivo. A gente tem essa oportunidade. Vejo como oportunidade, não necessidade. Isso nãõ existe na minha cabeça. Trabalhamos para conquistar objetivos. Se tiver que ser, vai ser. Se não, também não tira o mérito de toda uma história.

 

Como a Marta mudou desde a primeira Copa, em 2003?
Primeiro, cansava menos. Isso é nítido. Era um futuro meio incerto naquela época. Não imaginava que tudo isso ia acontecer. A diferença maior é a questão física. Nem sempre vamos dar dez piques. Mas a vontade de vencer, a gana, é a mesma.

 

Marta em coletiva na Granja Comary — Foto: Cintia BarlemMarta em coletiva na Granja Comary — Foto: Cintia Barlem

Marta em coletiva na Granja Comary — Foto: Cintia Barlem

 

Qual o papel dentro da Seleção para Marta, Formiga e Cristiane?
Nossa participação requer também a questão da experiência. Usar isso de forma positiva. Ajudar as meninas que estão chegando agora. A gente faz isso muito bem. A gente precisa que elas (as mais novas) se sintam bem. Contar com Cristiane e Fromiga é uma motivação a mais. Importante para equipe, com lenha para queimar.

 

Sobre aposentadoria?
Eu já fiz as contas em outras ocasiões. E continuo jogando. Isso não é uma coisa que me tira foco. Procuro viver um dia de cada vez. Tentando me manter da melhor maneira. Tentando competir em alto nível. Sentindo se dá para levar mais alguns anos. Não vou conseguir jogar tanto como a Formiga, mas é uma motivação acompanhá-la nos treinamentos.

 

Rivais na Copa do Mundo
O adversário mais díficil (da fase de grupos) é a Austrália. Sempre fez jogos difíceis com a gente. A Itália, vi alguns jogos agora. É estilo europeu, bate bastante. A Jamaica é a equipe que tenho menos informação. Mas é focar na nossa equipe, ester bem. Esse período de treinos é importantíssimo.

 

A Marta se reinventou?
Meu estilo de jogo é o mesmo. Qualquer atleta quando chega a idade pensa mais para agir. Só precisei mudar mais as oportunidades. Cada ano que passa, tento sentir que estou jogando no mesmo nível das atletas mais novas. Em competições de alto nível, quero sempre disputar competições de alto nível para sentir exatamente a hora de parar, quando não estiver dando mais. Por enquanto, sinto que tem coisa para rolar.

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