Rui Car
08/12/2020 16h55

Museu do Futebol quer contar histórias esquecidas do futebol feminino

Campanha Minha Voz Faz História visa arrecadar fundos para a produção de um áudio guia que relembre personagens dos 100 anos da modalidade no Brasil

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Jogadoras do ABC Football Club e Centro Sportivo Natalense em 1920 (Foto: Instituto Tavares de Lyra/ Macaíba-RN)

Jogadoras do ABC Football Club e Centro Sportivo Natalense em 1920 (Foto: Instituto Tavares de Lyra/ Macaíba-RN)

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Quando Getúlio Vargas deu um tiro contra o próprio peito, em agosto de 1954, o vice João Fernandes Campos Café Filho herdou o cargo mais alto do governo. O 18º Presidente da República comandou o país por um ano e quatro meses, mas antes de se envolver com política, era o futebol que fazia a cabeça do potiguar. Café Filho é até hoje o único presidente a ter atuado como jogador profissional.

 

Ele foi um dos fundadores do Alecrim Futebol Clube, de Natal (RN), e defendeu as cores da equipe como goleiro entre 1918 e 1919. Além disso, foi também o responsável pela criação da primeira equipe feminina do Rio Grande do Norte, a do Centro Sportivo Natalense, em 1918. Entre as jogadoras, destaque pra uma jovem volante de 14 anos. Jandira de Oliveira viraria mais tarde Jandira Café, esposa de Café Filho e primeira-dama do Brasil. Ela foi uma das primeiras jogadoras de futebol conhecidas por aqui.

 

Para resgatar esse tipo de narrativa, o Museu do Futebol lançou a campanha Minha Voz Faz História, que pretende arrecadar recursos para a produção de um audioguia sobre os mais de cem anos do futebol feminino no Brasil.

 

– Hoje, na exposição principal do Museu do Futebol, ainda é difícil entender onde estão as mulheres. Então, ao entrar no Museu, uma voz vai te contar que essas histórias existem, que essas personagens têm nome, endereço e que elas são representativas de um Brasil desse tamanho – explica Aira Bonfim, historiadora e produtora responsável pela campanha Minha Voz Faz História.

 

Há registros de capas de revistas da década de 1920 que já destacavam o futebol praticado por mulheres. Há notícias dos anos 30 sobre partidas femininas no subúrbio carioca. Em 1940, equipes femininas jogaram nas festividades inaugurais do Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Desde então, a paixão nacional já era, também, uma paixão delas. E, segundo Aira, isso assustou algumas pessoas.

 

Revista Vida Sportiva de março de 1920 trouxe na capa uma foto da equipe feminina do ABC Football Club — Foto: Acervo Pessoal

Revista Vida Sportiva de março de 1920 trouxe na capa uma foto da equipe feminina do ABC Football Club (Foto: Acervo Pessoal)

– Esse futebol tinha tudo pra decolar, mas de alguma forma essas notícias nos ajudam a entender inclusive por que ele foi proibido. Como esse esporte se popularizava entre pessoas pobres, entre pessoas negras e até entre mulheres, isso vai incomodar uma elite esportiva a ponto de pedirem que se encerre esse movimento crescente – afirma a historiadora.

 

Um decreto-lei proibindo a prática do futebol entre mulheres ficou vigente de 1941 a 1979 e provocou um apagamento da história de times que existiam em todo o Brasil desde o início do século XX. Mas ele foi incapaz de interromper definitivamente a modalidade. Equipes femininas desenvolveram suas próprias estratégias pra continuar em campo. Diziam organizar jogos beneficentes para levantar fundos pra reforma de uma escola, por exemplo. Mas nunca abandonaram o esporte. E se foram abandonadas por ele, o Museu do Futebol quer resgatar as suas histórias e dar a elas o devido espaço. Para isso, a campanha Minha Voz Faz História tem até o dia 20 de dezembro para arrecadar R$ 80.600,00.

 

– São histórias de mulheres prostitutas, de mulheres pretas, de mulheres domésticas. Representações da ideia do que é ser uma mulher brasileira que também constituem a história do futebol brasileiro – diz Aira Bonfim.


POR: LÍVIA LARANJEIRA – GLOBO ESPORTE


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