Rui Car
22/08/2020 10h35 - Atualizado em 22/08/2020 10h37

O curioso caso do time que precisou marcar um gol contra para se classificar

Graças a um bizarro gol de ouro que valia dois pontos no placar, as seleções de Barbados e Granada protagonizaram uma cena bizarra

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Fonte: Superinteressante (Foto:  Montagem / Christian Horz/Getty Images)

Fonte: Superinteressante (Foto: Montagem / Christian Horz/Getty Images)

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Mesmo quem não é muito fã de futebol (caso do repórter que vos fala) conhece o conceito de “gol de ouro”, também chamado de “morte súbita”. Em alguns campeonatos, quando um jogo empata e vai para a prorrogação, o primeiro time a marcar vence a partida. A FIFA introduziu essa possibilidade peculiar em 1993, com dois objetivos: um era evitar as cobranças de pênalti, que alguns consideram ser questão de mera sorte. Outro era dar uma injeção de ânimo nos jogadores – que perdiam ritmo na prorrogação após 90 minutos infrutíferos correndo para lá e para cá.

 

golden goal era facultativo, e foi adotado gradualmente por vários torneios ao longo da década de 1990, inclusive nas Copas do Mundo de 1998 e 2002. Após muita polêmica, caiu em desuso. Ele ainda vale nos campeonatos universitários masculino e feminino dos EUA. A NHL – liga de hockey no gelo compartilhada pelos EUA e o Canadá – adota a regra até hoje. Já a NFL, liga de futebol americano, possui um sistema equivalente: a prorrogação é encerrada imediatamente se um time marcar um touchdown, que vale seis pontos. Porém, caso a equipe sorteada para a primeira posse de bola do tempo extra marque um field goal (que vale só três pontos), o adversário ganha uma chance de contra-atacar.

 

O que o falido gol de ouro tem a ver com o título da matéria? Bem, vamos à história: em 1994, durante as eliminatórias para a Copa do Caribe, uma regra peculiar entrou em vigor. Não só haveria um gol de ouro – o que, por isso só, era novidade –, mas o dito-cujo valeria dois pontos no placar. Chega a ser melhor que um Danoninho, que vale por um bifinho. Sim, é isso mesmo que você leu: se um jogo fosse para prorrogação com o placar zerado, o primeiro time a marcar encerraria a partida com 2 x 0. 

 

Eis que chega um fatídico jogo entre duas pequenas nações insulares, Barbados e Granada, em 27 de janeiro. Por causa da tabela, Barbados só se classifica se vencer a partida com dois gols de vantagem. A disputa chega aos minutos finais e Barbados lidera por 2 x 1, mas não importa: se eles ganharem por apenas um ponto, Granada passa para a próxima fase e eles perdem a chance de participar da Copa do Caribe.

 

Surge um plano maluco. Com 87 minutos no cronômetro, o zagueiro Terry Sealey e o goleiro Horace Stoute – não estranhe os nomes anglófonos, Barbados é uma ex-colônia inglesa e um notável paraíso fiscal – trocam alguns breves toques de bola, e então Sealy dá uma bica monumental no gol que deveria defender. 2 x 2, três minutos para o apito final. Agora, é só esperar a prorrogação e marcar mais um (que, na verdade, são dois). 

 

Granada percebe o plano. E percebe, também, que pode revidar na mesma moeda. Basta que eles também marquem um gol contra. Aí o placar fica 3 x 2 para Barbados, e Granada ainda se classifica. Granada, então começa a atacar as duas áreas, e Barbados se esforça para defender ambas. A defesa de Barbados predomina nessa peculiar disputa de três minutos, e o jogo segue para o tempo extra. O plano dá certo: Barbados marca o gol de ouro, e a partida termina 4 x 2. Granada é eliminada.

 

Até hoje é possível encontrar no YouTube alguns trechinhos desse dia. Infelizmente, a cena em que Granada ataca os dois gols simultaneamente não está online. Se algum leitor souber do paradeiro do VT, deixe um comentário. E fica a lição: regras esdrúxulas geram desfechos esdrúxulos. Não mexa em time que está ganhando – principalmente se o time em questão forem as próprias regras.

 

 

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