Rui Car
25/01/2019 15h33 - Atualizado em 25/01/2019 15h35

Obcecado por taças, Cuellar aceita correr para estrelas brilharem no Flamengo: “Valerá a pena”

“Estou no maior clube do mundo”

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Fôlego em dia e uma obsessão: ser campeão pelo Flamengo. Em um elenco com tantas opções ofensivas, Abel Braga quebra a cabeça para buscar um equilíbrio que não deixe a equipe exposta. Entre um dos intocáveis, entretanto, uma convicção: se necessário Gustavo Cuellar correrá dobrado para que as estrelas façam a diferença e tirem o Flamengo da fila de títulos importantes.

 

 

Não é de hoje que o volante colombiano é o pulmão rubro-negro. Não à toa, caiu nas graças a torcida, que o elegeu para “Craque da Galera” do último Brasileirão. Glória individual que não satisfaz um Cuellar angustiado com a sina dos últimos anos:

 

– Valerá a pena (correr pelos outros) se conquistarmos os títulos. Vou fazer o que o treinador quiser. Será complicado jogar todo mundo junto, mas os caras que chegaram vão dar muita qualidade ao time.

 

“Se tiver que me desdobrar, vou fazer para que eles façam o que vale no futebol: os gols que definem os jogos. Isso é o mais importante. Se tiver que correr mais, vou correr para eles resolverem e conquistarmos títulos”

 

Colombiano saiu da reserva para ser referência em menos de dois anos — Foto: André DurãoColombiano saiu da reserva para ser referência em menos de dois anos — Foto: André Durão

Colombiano saiu da reserva para ser referência em menos de dois anos — Foto: André Durão

 

A importância do colombiano vai muito além das quatro linhas. Incansável em campo, Cuellar era em 2018, de longe, o mais indignado com as frustrações recentes. E é o discurso de inconformismo que ele leva para o vestiário e aponta como determinante para mudar o destino do Flamengo:

 

– O emocional é muito mais importante. A parte técnica nós temos e demonstramos isso no ano passado, quando brigamos até o fim pelo título. Falta um pouco do pensamento e eu mesmo me incluo nisso. A fome tem que ser maior do que ano passado. Isso é o mais importante.

 

O posicionamento firme vai ao encontro do discurso de Abel Braga desde o retorno ao clube, e fez com que Cuellar caísse nas graças do treinador. Um dos capitães do elenco ao lado de Diego, o volante recebeu o GloboEsporte.com em sua casa para um bate-papo com a franqueza que lhe é habitual.

 

A pressão extrema por conquistas foi um dos temas debatidos com o colombiano que não gosta de feijão, mas ouve pagode. Sonha com a Copa América no Brasil e fez do Flamengo a sua “Europa” particular:

 

“Meu sonho era me consolidar internacionalmente. No Flamengo, tenho isso

Confira o bate-papo:

O que esperar do Flamengo de 2019?

A postura tem que ser diferente do ano passado. Infelizmente, não conseguimos as metas, um título de expressão que buscamos há um bom tempo. Temos fome de título, a diretoria também vem assim, e é muito importante abraçar essa ideia e colocar em prática a cada jogo. Chegaram jogadores de muita qualidade em um elenco já muito qualificado.

 

Como lidar com a pressão para que não vire um problema?

É difícil. Equilíbrio é a palavra da vida, não só no futebol. Quando você tem equilíbrio, consegue pensar no que pode te fazer bem, te fazer mal. E isso é importante. Essa fome de títulos não pode nos atrapalhar. A margem de erro é pouca, mas somos seres humanos e vamos errar. A mentalidade é o que tem que ser diferente.

 

 

Cuéllar em atividade do Flamengo no Ninho — Foto: Gilvan de Souza/FlamengoCuéllar em atividade do Flamengo no Ninho — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Cuéllar em atividade do Flamengo no Ninho — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

 

Ser campeão é obrigação?

Nossa obrigação é entrar em campo sabendo que estamos representando o maior time do Brasil. Pensando desta forma, os títulos vão chegar. A cobrança sobre nós é natural e temos que aprender a conviver. É normal no Flamengo.

 

“Eu estou no maior clube do mundo. Para mim, o Flamengo tem essa expressão. Às vezes, os caras me falam: “Você não sabe o que representa e o que é jogar no Flamengo”. Estou tomando consciência disso e muito tranquilo”

Qual maior momento de dor neste período?

Acho que a Copa do Brasil contra o Cruzeiro. Tivemos nas mãos a oportunidade de conquistar um título de expressão e, infelizmente, não conseguimos. Me deixou muito marcado, estava ao nosso alcance. E no Brasileiro, chegar na última rodada sem chance de título também foi marcante. Isso tem que ser um ponto de partida para sermos campeões esse ano.

 

Cuellar desolado após perda da Sul-Americana: volante se cobra por títulos — Foto: Amanda Kestelman / GloboEsporte.comCuellar desolado após perda da Sul-Americana: volante se cobra por títulos — Foto: Amanda Kestelman / GloboEsporte.com

Cuellar desolado após perda da Sul-Americana: volante se cobra por títulos — Foto: Amanda Kestelman / GloboEsporte.com

 

Ano bom individual, mas não coletivo…

Foi importante e me deixou orgulhoso o prêmio (Craque da Galera). Foi uma coisa que me marcou. Mas no final o que conta é o título do grupo todo, do Flamengo, e isso não conquistamos.

 

Fim do discurso conformista

Quando Abel chegou, falou que ficar três vezes no G4 é difícil demais e tomamos consciência disso. Acho que chegou ao ponto do Flamengo conquistar algo pelo que já fez. Gosto de ser sempre o primeiro, não gosto de perder. No Flamengo, tem que sempre ser assim, ganhar tudo.

 

Atacantes mais valorizados que defensores

É uma diferença normal. Fazer gol não é fácil. É muito mais fácil destruir do que construir. Então, merecidamente eles são mais reconhecidos do que quem marca e dá um equilíbrio ao time. São importantes situações como a do Modric ganhar a Bola de Ouro para que estejamos sempre no radar e nos vejam importantes como quem faz gol. Ele mesmo falou isso e acho correto.

 

“Quem está na frente é quem decide e, obviamente, é mais reconhecido. Sabemos da nossa importância. Dentro do elenco, não há estrelas. Somos todos iguais”.

Cuellar brasileiro e carioca

Às vezes, confundo o idioma na Colômbia, misturo e nem sei mais como fala alguma palavra em espanhol. A cultura brasileira tem me ajudado muito no dia a dia, é uma experiência que tem me feito crescer como pessoa e jogador. Principalmente a forma como o brasileiro vive o futebol, é paixão 100%. Isso me marcou muito, aprendi a viver pensando no futebol o dia todo. É algo que levarei para a vida.

 

Cuellar se adapta com a família à vida brasileira — Foto: André DurãoCuellar se adapta com a família à vida brasileira — Foto: André Durão

Cuellar se adapta com a família à vida brasileira — Foto: André Durão

 

Que tipo de música ou cantor te agrada?

Escuto muito Ferrugem, Safadão, várias músicas de pagode eu gosto. Botam muito samba no vestiário, em geral a música brasileira é muito boa.

 

E a gastronomia?

O feijão eu não acostumei a comer de manhã, de tarde, de noite. Vocês aqui comem o dia todo. Eu não acostumei e não gosto muito (risos). Mas trouxe uma funcionária colombiana que cozinha como é na nossa culinária.

 

E o calor?

Em Barranquilla, é assim o ano todo. Mas esses dias está demais. Esses dias era 42 graus a sensação térmica e senti um pouco. Verão no Rio é assim, temos que vencer o calor.

 

Qual a diferença do Flamengo que tinha em mente para agora?

À distância, era o Flamengo do Zico, Júnior, Zinho, Adriano… Ouvíamos falar deles. Víamos pouco, porque não passa lá na televisão, mas obviamente sabia da grandeza. Mas cheguei aqui e ainda fico impressionado. Onde o Flamengo chega tem torcedor no aeroporto, em todo estádio é metade da torcida, no Brasil todo. Isso me deixou muito impressionado. Não pensava que a pressão fosse tão grande como é.

 

Copa América no Brasil

Um sonho que eu tenho como meta para esse ano é me consolidar na seleção, estar nos pensamentos do treinador que assumir. Acho que estamos no nível de grandes seleções para competir por alguma coisa e ganhar títulos. Minha vontade é me consolidar e ser campeão.

 

Europa ou o Flamengo é suficiente?

Meu sonho era me consolidar internacionalmente, e o Flamengo me ajudou muito nisso. Estou muito tranquilo, tenho um filho brasileiro, está vindo outro que também será. O Flamengo até agora me deu tudo internacionalmente. É um clube onde a torcida sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis, e tenho essa gratidão.

 

No meio do ano passado, Cuellar renovou o contrato com o Flamengo até o fim de 2022 — Foto: Divulgação / FlamengoNo meio do ano passado, Cuellar renovou o contrato com o Flamengo até o fim de 2022 — Foto: Divulgação / Flamengo

No meio do ano passado, Cuellar renovou o contrato com o Flamengo até o fim de 2022 — Foto: Divulgação / Flamengo

 

Se ficar aqui a vida toda, vai ser lindo. Passar por um clube e ficar tanto tempo não é fácil. Mas também tenho claro que há períodos na vida em que temos que seguir. Meu pensamento está todo no Flamengo, em conquistar mais a torcida, conquistar títulos de expressão esse ano. Se vier algo na frente, analisarei o que é melhor com a família.

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