Rui Car
05/10/2017 08h38

A pressão que vai e vem: Argentina volta à Bombonera para jogar a vida contra o Peru

Peruanos esbanjam confiança

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Globo Esporte

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Para um país que treme de medo com a possibilidade de não ir à Copa do Mundo, um estádio que treme. Às 20h30 (de Brasília) desta quinta-feira, a Argentina recebe o Peru na Bombonera em um jogo de paradoxos. A seleção argentina impõe uma pressão ao adversário e a si mesma ao buscar o estádio do Boca Juniors. Está em casa e não está. Decidirá a vida nas eliminatórias em um local onde não atua oficialmente há 20 anos. O SporTV transmite a partida, e o GloboEsporte.com acompanha em Tempo Real.

 

Argentinos e peruanos têm 24 pontos. O time de Guerrero e companhia está na frente, com mais gols marcados e na quarta posição. Teria a vaga direta para a Copa, algo que não acontece para o país desde 1982. A equipe de Lionel Messi é a quinta, posição que lhe dá apenas o direito de disputar a repescagem com a Nova Zelândia, algo que experimentaram pela última vez em 1994, quando superaram a Austrália.

 

 

Na noite desta quinta, os argentinos jogam para evitar um vexame que não acontece há 47 anos. Quando nem eram campeões do mundo. Mais que isso. Evitar a dor por ver a Copa do Mundo de longe. A última vez que isso ocorreu foi em 1970. E como foi o jogo decisivo daquelas eliminatórias? Empate por 2 a 2 contra o Peru, em agosto de 1969, na Bombonera, e classificação dos peruanos para o Mundial. Mas não é esse histórico que conta para a Afa e a seleção argentina.

 

Os dirigentes não desdenharam dos milhões de pesos argentinos a mais que ganhariam com um jogo no Monumental de Nuñez em vão. Ou melhor, o dirigente. A decisão foi de Claudio “Chiqui” Tapia, presidente da Afa, torcedor e sócio do Boca Juniors. O cartola procurou um estádio que joga sozinho. Quer um calor que não existe na “cancha” do River Plate. Mas optou por um local onde a Albiceleste atuou 29 vezes em toda a sua história.

 

A última delas em 2012, quando venceu o Brasil por 2 a 1, mas perdeu o título do Superclássico das Américas, em um jogo disputado apenas com jogadores que atuavam pelos dois países. Oficialmente, a última vez que esteve na Bombonera foi no dia 16 de novembro de 1997, em empate por 1 a 1 com a Colômbia pelas eliminatórias.

 

 

O aproveitamento na arena xeneize, porém, é bom. São 19 vitórias, oito empates e apenas duas derrotas em toda a história: para a França, em amistoso em 1971, e diante da Alemanha, em outro amistoso, em 1977. Foram seis jogos de eliminatórias no estádio: quatro vitórias e dois empates. Números e dados que não interferem no trabalho do técnico Jorge Sampaoli. O comandante fez questão de deixar claro que não pediu a transferência do jogo para o estádio do Boca Juniors e que os maus resultados são culpa do Monumental de Nuñez.

 
– Eu não interferi em nada sobre isso. Isso passa por outro lado (não está ao alcance do treinador). Quando assumi, sei que seria responsável pelo que se passa dentro do campo. Só isso. Se nos mandam ao interior, vamos, se nos manda a qualquer lugar, vamos, não queria tratar de saber de algo que não tenha a ver com o que acontece dentro do campo de jogo – pontua Sampaoli.
 
 

Estádio do Boca Juniors receberá o seu 30º jogo da seleção argentina (Foto: Divulgação)Estádio do Boca Juniors receberá o seu 30º jogo da seleção argentina (Foto: Divulgação)

Estádio do Boca Juniors receberá o seu 30º jogo da seleção argentina (Foto: Divulgação)

 

A verdade é que os jogadores argentinos terão um jogo decisivo pela frente em um local onde estão pouco acostumados atuar. Messi, por exemplo, só pisou no local em 2005, para uma partida beneficente. Romero, Fazio, Icardi e Dybala tampouco sabem o que é correr pelo gramado da Bombonera em um duelo oficial. Destaques do Boca atual, Benedetto – que será o camisa 9 da seleção –, Gago e Pablo Pérez são anfitriões na seleção.

 

#YoAmoAMiSelección

O desespero que levou a seleção argentina à Bombonera fez com que a Afa também tomasse uma decisão incomum: pedir para que o torcedor da Argentina… torça. A entidade iniciou uma campanha com a hashtag #YoAmoAMiSelección (eu amo a minha seleção) e pediu demonstrações de apoio da torcida. Até premiou as duas melhores expressões de amor à Albiceleste com ingressos para a partida. O Obelisco, principal monumento de Buenos Aires, está colorido de azul e branco desde o início da semana. Faixas e outdoors por Buenos Aires pedem: é hora de alentar.

 
 

Obelisco se colore em apoio à seleção argentina (Foto: Daniel Mundim)Obelisco se colore em apoio à seleção argentina (Foto: Daniel Mundim)

Obelisco se colore em apoio à seleção argentina (Foto: Daniel Mundim)

 

Para garantir que isso aconteça, a Afa liberou 4 mil ingressos à principal torcida organizada do Boca Juniors, a “La Doce”. No entanto, o grupo revendia os bilhetes, destinados ao setor popular da Bombonera, por até 32 mil pesos (cerca de R$ 5,9 mil). A entidade máxima do futebol argentino também produziu um emocionado vídeo (veja abaixo) para ilustrar a paixão de seu torcedor. O material foi divulgado nas redes sociais e será exibido também aos jogadores.

 

O não menos pressionado Sampaoli tenta o impossível: se blindar da ansiedade dos argentinos e testar a equipe. Testar muito. Foram três dias de treinos e ao menos cinco formações diferentes. Depois de quatro jogos – dos quais dois foram amistosos –, o treinador ainda está em busca de um time ideal. E desta vez, não irá com o trio Messi, Dybala e Icardi. Dele, só um permanece. Claro, o camisa 10 do Barcelona.

 

 

Sem Aguero, cortado após o acidente de carro que sofreu na Holanda, Benedetto será a referência na frente. Acuña volta para atuar no lado esquerdo, e Paredes e Papu Gómez, do Atalanta, são novidades que chamam atenção. O time deve ser o seguinte: Romero; Mercado, Otamendi, Mascherano, Acuña; Banega, Paredes; Papu Gómez, Messi, Di María; Benedetto.

 

Peru: confiança é tudo

Para a Argentina estar ameaçada, outra seleção tem que estar com esperanças. E ela é a peruana. Se vencer, o Peru chega a inéditas quatro vitórias seguidas em eliminatórias. E fica muito perto de voltar à Copa do Mundo. A última vez que estiveram no torneio foi em 1982. Não em vão milhares de peruanos estão em Buenos Aires, mesmo que sem ingressos garantidos. Boa parte deles acompanhou o desembarque dos jogadores e coloriu o aeroporto de Ezeiza de vermelho e branco.

 

Se há alguém no Peru que entende as estratégias lançadas pela Argentina para superá-la, é Ricardo Gareca. O técnico peruano surgiu no futebol no Boca Juniors e, em 1985, fez, contra o Peru, o gol que deu a classificação aos argentinos para a Copa do Mundo do ano seguinte. Mas ele se distancia de tudo isso. E foca no excelente momento que sua equipe vive.

 

Milihares de peruanos acompanham desembarque da seleção em Buenos Aires (Foto: Emiliano Lasalvia/AFP)Milihares de peruanos acompanham desembarque da seleção em Buenos Aires (Foto: Emiliano Lasalvia/AFP)

Milihares de peruanos acompanham desembarque da seleção em Buenos Aires (Foto: Emiliano Lasalvia/AFP)

 

– Estamos totalmente preparados para isso, somos uma seleção que está capacitada para ganhar de qualquer um. Nós estamos em nosso melhor momento em ânimo e no futebol. É um jogo que dá para falar muito, é definitivo. São partidas transcendentais. Para nós só serve ganhar, e essa é a mentalidade que temos para seguir dependendo de nós mesmos – declarou o comandante argentino.

 

Ricardo Gareca enfrenta problemas com suspensões. São quatro: Christian Ramos, expulso na rodada passada, Cueva, André Carrillo e Paolo Hurtado, todos fora por acúmulo de cartões amarelos. O veterano Jefferson Farfán, de 32 anos, deve jogar.

 

ARGENTINA X PERU

Local: La Bombonera, em Buenos Aires.
Data e horário: quinta-feira, às 20h30 (de Brasília).

Argentina: Romero; Mercado, Otamendi, Mascherano, Acuña; Banega, Paredes; Papu Gómez, Messi, Di María; Benedetto.

Peru: Pedro Gallese; Aldo Corzo, Miguel Araujo, Alberto Rodríguez e Miguel Trauco; Renato Tapia, Pedro Aquino e Yoshimar Yotún; Jefferson Farfán, Edison Flores e Paolo Guerrero.

Arbitragem: Wilton Pereira Sampaio, auxiliado por Kléber Lúcio Gil e Bruno Boschilia

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