Rui Car
04/12/2017 08h17

Raça e entrega acaba em lamentação: Avaí chora com queda e foca na reconstrução

Sonho da permanência acaba em mãos na cabeça e lágrimas de Alemão

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Globo Esporte

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Mãos na cabeça, lágrimas no olho e lamentação. E não podia ser diferente. Alemão foi o retrato do Avaí na Série A do Brasileiro. Aguerrido, lutando contra as próprias limitações, mas que não deixou de buscar vitórias em nenhum instante. Foram poucas, apenas 10, mas de um time que conseguiu fazer frente contra os grandes, com triunfos contra Palmeiras, Cruzeiro, Botafogo, Grêmio e até o empate com o Corinthians, quando teve chances de sair com os três pontos.

 

Alemão entra neste contexto por faltar pouco, ficar no quase, naquele detalhe que será difícil de esquecer. O zagueiro teve a chance de decretar a vitória sobre o Santos, no último lance da partida, mas acabou não sendo feliz. Se tinha alguém dentro da Vila Belmiro que simbolizou a frustração, esse alguém foi Alemão. Esse foi o Avaí na Série A. É fácil enumerar partidas que o time tinha o resultado na mão, mas acabou falhando. Basta lembrar o empate sofrido com o Botafogo aos 50 do segundo tempo, ou então aos 37 minutos contra o Atlético-MG. O choro no rosto do zagueiro ilustrou o desabafo que o seu próprio corpo expôs naquele momento.

 

– É complicado, o campeonato que a gente fez foi digno, dentro das limitações do clube. Infelizmente fomos rebaixados, se tivéssemos feito nossa parte, teríamos nos livrado. É agradecer o apoio da torcida, erguer a cabeça. A torcida vai sentir, estamos sentindo, mas em momento algum nossa equipe desistiu – disse, ainda em meio às lágrimas.

 

 

Com o apito final, ao invés de vaias, vieram aplausos da torcida do Leão da Ilha que compareceu em bom número na Vila Belmiro. Foram seis ônibus lotados, além dos muitos carros e passageiros dos voos via São Paulo. Foi o reconhecimento de todo o esforço e dedicação do elenco, que sempre soube das suas limitações. A queda não aconteceu em Santos, mas sim ao longo das 38 rodadas da competição.

 

O jogo

Alemão, novamente, pode ser usado como exemplo. Basta puxar na memória o duelo com o Atlético-PR, em que o zagueiro chegou a ter um início de convulsão e não quis ser substituído. Imagina então, sua vontade de marcar o gol que poderia ter mantido o Avaí na Série A?

 

A partida começou tensa de um lado e leve de outra. Com baixo público no estádio e já classificado para a Libertadores, o Santos entrou bem mais tranquilo que o time catarinense. A cada lance perdido, toques errados e falhas, e lá se via os jogadores do Avaí se apoiando. Como quem diz: “Ei, relaxa, estamos aqui, vamos lá”. Palavras clichês de apoio, mas que em momentos de tensão servem de alívio.

 

A bola na trave de João Paulo, aos 12 minutos, levantou o moral do clube. Junior Dutra, no sacrifício, buscava as jogadas mais agudas. Marquinhos tentou ser o maestro do meio campo. Douglas ia garantindo lá atrás. O cenário parecia promissor. Eis que de um escanteio mal batido pelo capitão, o Santos abriu o placar no contra-ataque, em escorregão do Douglas – logo ele. Ao invés de lamentações (o Avaí não virou nenhuma partida na Série A), o que se viu foi superação. Logo em seguinda, o contestado Pedro Castro acertou o legítimo “pombo sem asa” e a bola foi parar na rede. Estava tudo igual placar.

 

Gol de Copete surguiu em contragolpe e ecorregão de Douglas (Foto: Ivan Storti / Santos FC)Gol de Copete surguiu em contragolpe e ecorregão de Douglas (Foto: Ivan Storti / Santos FC)

Gol de Copete surgiu em contragolpe e escorregão de Douglas (Foto: Ivan Storti / Santos FC)

 

Para ajudar, os resultados dos adversários diretos contra o rebaixamento estavam ajudando. Foi aí que o time se lançou todo ao ataque. Não tinha outra alternativa. É bem verdade que o Santos aproveitou e só não marcou pela pontaria falha do ataque. O Leão da Ilha seguia, o relógio ia passando. Torcedores roendo as unhas. E foram eles que começaram a empurrar: “Vamos! Vamos, vamos Avaí. Vamos, vamos Avae êêê”.

 

– A gente agradece a presença do torcedor, que até nos surpreendeu, pois não esperávamos que viessem em bom número assim. Agradecemos o reconhecimento, pois ninguém deixou de se doar em campo – foram algumas das palavras do técnico Claudinei Oliveira.

 

E não deixaram mesmo. Com o aparente cansaço físico e mental, eis que o Leão da Ilha tentou “fazer coisa”. Desta vez, seu mantra não foi bem sucedido. As oportunidades vieram, mas vale lembrar que do outro lado era o Santos, que dispensa comentários.

 

Ponto sofrido

Se fosse uma rodada qualquer, o empate seria comemorado. Um ponto que poderia passar batido, mas como fez falta na reta final. Um ponto. Apenas um ponto faltou para o Avaí permanecer na Série A. Na vida existe aquela frase de dar um passo para trás agora, para dar dois no futuro. É isso que fica no Avaí. Ao menos foi isso que o clube tentou passar com a dolorida queda.

 

– É levantar a cabeça, o mundo não vai acabar. Voltamos para a Série B e vamos brigar. Claro que é doído, pessoal fica sentido. Mas é vida que segue, pensamento em 2018, sabemos da dificuldade que vai ser. Conseguimos ficar até a última partida vivos. Quando você opta por pagar as contas, o orçamento cai, então faz parte. Claro que o rebaixamento machuca, mas das outras vezes caímos e quase falidos. Agora caímos com o pé no chão, colocamos o clube em dia e lutamos até o fim – afirmou o M10.

 

 

Santos x Avaí Marquinhos (Foto: Marcos Bezerra / Futura Press)Santos x Avaí Marquinhos (Foto: Marcos Bezerra / Futura Press)

Santos x Avaí Marquinhos (Foto: Marcos Bezerra / Futura Press)

 

Ter a saúde financeira e dinheiro em caixa é fundamental no futebol. O próprio Claudinei Oliveira lembrou que o clube não fugiu do seu teto salarial de R$ 60 mil durante toda a competição e que descartou pedir a vinda de atletas consagrados.

 

– Talvez estivéssemos lamentando do mesmo jeito e em uma situação financeira horrível. Estou com a consciência tranquila – resumiu.

 

O torcedor vai lamentar, vai ouvir muita corneta dos rivais, mas vai sempre se lembrar de Alemão, símbolo desse Avaí. Um time barato, sem grandes estrelas, mas que sempre vai em busca do seu melhor, mesmo que esse melhor não seja suficiente (ainda) para se manter na Série A.

 

O ano que vem está logo aí. A equipe agora se prepara para o Catarinense, Copa do Brasil e Série B do Brasileiro. O momento é de tristeza, mas o futuro é promissor, ou alguém acha que o Avaí vai se entregar? O momento é de apoio. Se antes da partida, a torcida gritava para o Avaí ficar na Série A, agora é hora de gritar: “Vamos voltar, Leão”.

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