Globo Esporte
A voz já está mais firme. Os passos lentos de muleta se transformaram em trote. E o sorriso é bem mais encorpado.
Neto se arrisca até em fazer um muque para mostrar o quanto evoluiu desde a reapresentação do elenco da Chapecoense, dia 6 de janeiro. Em menos de 40 dias, dez dos 14 quilos perdidos no processo de reabilitação do acidente de 29 de novembro foram recuperados com dieta suculenta: muita pizza, churrasco e um cardápio incomum para atleta profissional.
Com 1,95m, Neto atingiu os 91kg e precisa de mais quatro para reencontrar seu peso ideal. Todo trabalho para ganho de massa muscular contou ainda com suplementação e exercícios para fortalecimento na academia e com fisioterapeutas. Há pouco mais de uma semana, o defensor voltou a correr, mas ainda não tem parecer final sobre a necessidade cirúrgica nos ligamentos anterior e posterior do joelho direito.
O departamento médico não estipula prazo para Neto voltar aos gramados, mas o defensor demonstra confiança em participar das atividades normais com o elenco a partir de julho.
Comer, comer
A primeira parte desse processo está sendo cumprida com sucesso e com muito prazer:
– Fui liberado para comer de tudo. Tive que comer muita carne, muita massa. Minha esposa pega no pé da alimentação, é muito prendada, cozinha muito bem. Esse período talvez tenha sido o que mais comi na minha vida. Lembro que na Colômbia tinha muito desejo de comer arroz, feijão, bife, batata frita. Quando vim para o Brasil, comi de tudo e puder voltar quase ao normal.
Responsável pela dieta de Neto, Julia Cristina Pinheiro, nutricionista da Chapecoense, é só elogios para o paciente:
– Ressalto a importância do atleta ser disciplinado e focado. Hoje, Neto e Alan até brincam que têm que cuidar um do outro em relação ao suplemento alimentar. Não há restrição, a alimentação é a mesma de antes, mas com quantidade calórica maior. Acabamos suplementando porque muitas vezes o volume da refeição é maior (que o habitual) e o atleta não consegue comer tudo.
Neto ainda bem abatido, mais magro e de muletas ao reencontrar amigos da Chape (Foto: Sirli Freitas/Chapecoense)
A comilança dos últimos meses faz Neto relembrar o período em que tinha a balança quase que como inimiga. Após cada treinamento, o número apontava o rumo de sua alimentação no dia seguinte. Pelo menos por enquanto, isso não é algo que o preocupe mais:
– Lembro que me policiava muito para comer uma pizza, pesava depois dos treinos e via que tinha um quilinho a mais, a menos. Agora, não. Não tinha mais que me policiar. Foi um período bom para mim. Ficou mais fácil com mais pizza, mais massa, mais churrasco…
A diferença na fisionomia de Neto deixa evidente a evolução recente. Mais forte, o defensor celebra a independência no dia a dia, mesmo que para atos mais simples:
– Tinha dificuldade para me abaixar. Minha esposa por muito tempo me deu banho sentado por causa da coluna, depois para lavar as pernas. Hoje, consigo fazer tudo sozinho. Levantar, deitar, colocar roupa. Me sinto muito mais disposto, mais forte. Mal andava sem muletas, e já corro. Meu corpo está respondendo bem.
Com mais quatro quilos a ganhar pela frente, pizza e churrasco seguem liberados enquanto Neto continua a rotina de tratamento diário com os fisioterapeutas na Arena Condá. Até o fim do mês, há expectativa de definição se será necessária cirurgia ou não no joelho direito.
