Rui Car
28/10/2017 15h00 - Atualizado em 28/10/2017 10h26

Renato Gaúcho é o melhor da temporada

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“Campeão do Paulistinha e com grandes chances de vencer também o Brasileirão, Fábio Carille é a grande revelação da temporada.

 

Ele e o botafoguense Jair Ventura são, sem exagero, os mais promissores técnicos que o Brasil descobriu nessa década. Só que entre eles, fico com Renato Gaúcho.

 

Fanfarrão e debochado como poucos da função, Renato conhece muito de futebol, tem repertório variado e sabe como extrair de jogadores apenas esforçados até lampejos de craques. Ou a jogada do lateral Edilson no lance do terceiro gol em Guayaquil não foi daquelas de deixar orgulhoso até mesmo um lateral de seleção?

 

Com o resultado no Equador, Renato está perto de se tornar o único técnico em atividade no Brasileirão a ter disputado duas finais de Libertadores. Não é algo banal. Perdeu, é verdade, quando era favorito em 2008 com o Fluminense contra a LDU. Mas não se deve esquecer que jamais o Tricolor foi tão longe na principal competição da América do Sul.

 

Nos oito anos que se seguiram desde aquela decisão, a carreira do Renato técnico foi errática. Não foram poucas as vezes em que decidiu parar de trabalhar para se dedicar com mais vigor às praias do Rio de Janeiro. Sorte de quem, bem-sucedido na vida, pode se entregar a tais prazeres sem se preocupar com as contas do mês.

 

O Grêmio de 2016, que Renato herdou na 27ª rodada, é um bom exemplo da variedade do repertório do técnico. No Brasileirão, era um time que marcava muito, com linhas compactas que se posicionavam dentro do campo de defesa. Nos 12 jogos em que comandou o time, o Grêmio não foi vazado em 6. Nos demais, jogou mal em alguns e se poupou em outros para vencer a Copa do Brasil contra o Atlético Mineiro.

 

Na decisão contra o Galo no Mineirão, trocou dezenas de passes em mais de 50 segundos na jogada do primeiro gol. Houve quem dissesse que foi um lance típico do Grêmio de Roger Machado, de quem Renato herdou o posto. Se realmente foi isso, palmas para um técnico que soube preservar as virtudes legadas pelo antecessor.

 

O Grêmio/17 é um genuíno Portaluppi versão 2.0. Sabe se defender bem, mas é técnico como raramente o Imortal Tricolor foi na vida. O goleiro é ótimo. A dupla de zaga com Geromel-Kanemann é esquisita no nome e boa de bola. Os laterais são achados improváveis. Edilson, reserva no Corinthians, já estava lá quando Renato chegou. Para reforçar a posição, o Grêmio foi buscar o semi-aposentado Léo Moura. Na esquerda, a aposta foi ainda mais ousada. O Tricolor garimpou no mercado o desprezado Bruno Cortês, que ninguém mais queria. Não tem do que se arrepender. E com igual nível de desconfiança chegaram Fernandinho E Barrios.

 

Algum torcedor dos times mais ricos do eixo Rio-São Paulo se contentaria com isso?

 

Com tudo isso, o Grêmio se defende como poucos, tem técnica e equilíbrio no meio e sabe ser agudo na frente. No meio da temporada, perdeu jogadores, por negociações ou contusões, e seguiu em frente. Só errou quando desprezou o Brasileiro para tentar vencer a Copa do Brasil. Aí derrapou feio na estratégia. Vencer o campeonato que não conquista há 21 anos era possível.

 

Em Guayaquil contra o Barcelona deu show de eficiência. Tomou a iniciativa e liquidou logo o adversário porque era melhor. Nem de longe repetiu a timidez, para não dizer covardia, de Palmeiras e Santos contra os equatorianos.

 

Agora, com um time cheio de descartados, mas que sabe se defender, criar, trocar passes e atacar com eficiência mortal, Renato se prepara para sua segunda final de Libertadores. Se vai ganhar é outra história. Mas o que não dá para negar é que construiu o time brasileiro que mais jogou bom futebol em 2017.”

 

 

Fábio Piperno

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