Rui Car
05/03/2018 10h20 - Atualizado em 05/03/2018 08h46

Santos mostra no clássico o que não teve em Cusco

Falta acertar o meio-campo

Assistência Familiar Alto Vale
Globo Esporte

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Delta Ativa

O Santos mostrou contra o Corinthians tudo o que não teve em Cusco, diante do Real Garcilaso: garra, paixão, atitude. Aqui neste mesmo espaço, critiquei o time de Jair Ventura pela apatia no jogo contra o time peruano na semana passada, ainda que, claro, a altitude de 3.400 metros tenha tido papel fundamental naquela lamentável atuação da equipe alvinegra. Lá no Peru, o Santos perdeu (2 a 0). Aqui em São Paulo, empurrado por mais de 34 mil santistas, empatou com o atual campeão brasileiro e que já havia vencido seus outros dois clássicos: 1 a 1. E poderia ter virado, se não tivesse sido prejudicado pela arbitragem.

 

Não há nem o que se discutir sobre o lance de Balbuena em Léo Cittadini. Foi pênalti. O árbitro Luiz Flávio de Oliveira marcou falta fora da área. E isso já aos 45 minutos do segundo tempo, de um jogo em que o Santos esteve em desvantagem desde os 19 da etapa inicial, mas, mesmo dentro de suas limitações, lutou até o fim.

 

 

Se um time em formação como o Santos incomoda tanto o campeão brasileiro Corinthians, ainda que sem seus dois principais jogadores (Gabigol e Bruno Henrique) e sendo prejudicado pela arbitragem, o torcedor pode, sim, comemorar o empate, ainda que o corintiano Romero entenda que não seja pra tanto.

 

O que falta para o Santos

Confira comigo no replay: o goleiro é ótimo, a defesa é uma das menos vazadas do país, o ataque é veloz e conta com garotos promissores. O problema é justamente o setor mais importante de todos, o meio-campo.

 

E não se trata de “achar um substituto para Lucas Lima”. O Santos antes jogava com dois volantes e um meia, mas agora tem um cabeça de área (Alison, cada vez melhor e menos estabanado) e dois jogadores que atuem como armadores quando o time tiver a bola e fechem como volantes quando não tiver. Resumindo: faltam DOIS meias para o Santos, não um.

 

Vamos a uma análise do que o Santos tem hoje para essas duas vagas:

  • Renato já foi esse homem, mas, aos 38 anos, dá mostras de que já não consegue manter mais o alto nível – tanto que ficou no banco durante os 90 minutos do clássico;
  • Léo Cittadini, escolhido para ser titular no clássico, foi duas vezes desarmado quando recebeu de costas para a defesa adversária, gerando contra-ataque para o Corinthians, o que mostra que não se sente totalmente à vontade nesse papel;
  • Vecchio, titular em todos os jogos do ano, não convence. Tem alguns poucos bons lampejos, mas, no geral, se movimenta pouco e erra muito – foram cinco passes errados diante do Corinthians, mais do que qualquer outro jogador, até ser substituído por Vitor Bueno, aos 18 minutos do segundo tempo;
  • Vitor Bueno, pedido pela torcida, saiu do banco e, em poucos minutos, mostrou muito mais movimentação do que todos os outros meias já escalados por Jair. Costuma render mais, porém, sendo o jogador centralizado de um 4-2-3-1, logo atrás do centroavante. No atual 4-1-4-1 de Jair Ventura, também não parece ser o homem certo. Mas tem talento, e é possível que o técnico mude o esquema para fazê-lo entrar no time quando estiver 100% fisicamente;
  • Jean Mota tem sido escalado como lateral porque Dodô ainda não está em forma; quando estiver, é possível que o meia volte para seu setor de origem;
  • os jovens Guilherme Nunes e Gabriel Calabres, destaques na Copinha, terão chance no futuro; aliás, com o Santos já classificado para as quartas de final, bem que poderiam ser testados nos dois jogos finais desta primeira fase. Não?
 

Santos, sem Gabigol e Bruno Henrique, empatou com o Corinthians e poderia ter até vencido; mas ainda falta acertar o meio-campo (Foto: Marcos Ribolli)Santos, sem Gabigol e Bruno Henrique, empatou com o Corinthians e poderia ter até vencido; mas ainda falta acertar o meio-campo (Foto: Marcos Ribolli)

Santos, sem Gabigol e Bruno Henrique, empatou com o Corinthians e poderia ter até vencido; mas ainda falta acertar o meio-campo (Foto: Marcos Ribolli)

 

O problema do meio-campo

Sem qualidade no meio, o Santos dependia de jogadas individuais de seus pontas. Mas quando eles ou os laterais se viam cercados, acabavam queimando a jogada com lançamentos para a área. Atenção para esta estatística: o Peixe alçou 34 bolas na área do Corinthians, contra apenas três do adversário. E nem havia um centroavante alto na área que justificasse tanto chuveirinho assim.

 

Claro que é preciso ressaltar: o Santos jogou em desvantagem desde os 19 minutos do primeiro tempo (gol de Renê Júnior num chute de longe que desviou em Cittadini), e ninguém se defende melhor no Brasil do que o Corinthians de Carille.

 

É fato que o Santos gosta mais de jogar no contra-ataque, e nem teve seus dois melhores e mais velozes atacantes: Gabigol (suspenso) e Bruno Henrique (ainda se recuperando de lesão no olho); com esses dois em campo, claro, a chance de surpreender o time de Fábio Carille seria maior. Daí a necessidade de ter meias mais ativos. Com exceção de um chute de Jean Mota, improvisado na lateral esquerda, o Santos não finalizou de fora da área.

 

Rodrygo foi titular pela primeira vez, Diogo Vitor entrou bem e fez seu primeiro gol, Sasha segue cada vez mais à vontade, Arthur Gomes tem evoluído… com tudo isso, fica difícil manter Copete no time. O colombiano briga muito, é verdade. Mas, em muitos lances, briga também com a bola. E destoa. Contra o Corinthians, saiu no intervalo. E o time melhorou.

 

Jair tem agora dois jogos do Paulistão (Novorizontino fora e São Bento em casa) para mexer nas peças desse quebra-cabeça. O jogo que vale de verdade é o contra o Nacional do Uruguai, dia 15, no Pacaembu, pela Libertadores. Qualquer outro resultado que não seja vitória deixará o Santos numa situação delicada num dos grupos mais equilibrados da competição sul-americana.

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