Rui Car
25/04/2017 12h30 - Atualizado em 25/04/2017 08h33

São Paulo precisa lembrar que estamos em 2017 e não no início de 2009

Alguns esquecem que o São Paulo perdeu o protagonismo no nosso futebol

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O São Paulo é o clube brasileiro que mais ganhou títulos importantes nos últimos 30-35 anos. Por isso, além de sua torcida crescer exponencialmente, boa parte desses e torcedores – e também dos analistas – agora não conseguem aceitar que a equipe está vivendo uma crise, que pode ser comparada com a da década de 1960, quando a agremiação gastava muito com a construção do Morumbi e não tinha condições de competir com Santos e Palmeiras que dominavam o futebol paulista.

 

A sensação de que o São Paulo é um clube vitorioso faz com que muitos são-paulinos se esqueçam que não estamos mais no início de 2009, quando o time ainda comemorava a conquista do Campeonato Brasileiro pela terceira vez consecutiva e não havia muito tempo que o clube tinha levantado os títulos da Libertadores e do Mundial (2005).

 

Vamos lembrar que desde o Nacional de 2008, o São Paulo só conquistou o título da Copa Sul-Americana de 2012, um título que está longe de ser um sonho para os principais clubes do país e que serve mais de consolo para uma equipe que não briga pelos principais títulos, como acontece com o São Paulo no momento. 

 

Alguns esquecem que o São Paulo perdeu o protagonismo no nosso futebol e se defendem citando, além da vitória na Copa Sul-Americana, glórias como o vice-campeonato do Brasileiro em 2014 – o clube ficou 10 pontos atrás do líder Cruzeiro – e a chegada à semifinal da Libertadores do ano passado, o time brasileiro mais bem colocado na competição continental. Agora, muitos “celebram” as duas eliminações honrosas – com uma vitória e um empate jogando como visitante – nos últimos dias, contra o Cruzeiro (Copa do Brasil) e Corinthians (Paulista).

 

Essa “coleção de conquistas” é muito pouco perto da história do clube e se comparada com os seus principais rivais ganharam de 2009 para cá. O Corinthians foi campeão do mundo e venceu dois Brasileiros, o Santos ganhou a Libertadores, além de inúmeros Estaduais. Até o Palmeiras, que foi rebaixado no Brasileiro de 2012, ganhou duas vezes a Copa do Brasil e no ano passado conquistou o Campeonato Brasileiro. Sem dizer que o clube acumulou uma série de desclassificações contra times menores em casa, o que era raro, e nos confrontos contra os rivais também tem levado desvantagem.

 

Acostumados com um clube que sempre estava à frente dos rivais, no campo e também fora dele, poucos perceberam que o clube foi perdendo espaço. O time do Morumbi perdeu a liderança que tinha sobre os outros clubes e força nos bastidores e O CT do clube com seu Reffis, deixou de ser referência e foi ultrapassado pelas instalações dos rivais.

 

Até o estádio do Morumbi, que era o mais importante da cidade perdeu muito espaço. Hoje, mesmo sendo o maior, não atrai os principais jogos que não envolvem o São Paulo e também não tem mais o monopólio de sediar os principais shows que acontecem. O departamento de marketing do clube também não consegue mais fazer ações como acontecia num passado recente e, principalmente, atrair patrocínios (dinheiro). Assim, o clube passa por períodos de dificuldades financeiras, inclusive com atrasos de vencimentos nos últimos anos.

 

A política do São Paulo nos últimos anos é típica de um clube que vive maus momentos. A troca de poder que existia no clube desapareceu. A oposição que fazia bem sua parte, se tornou nociva, jogando contra e atrapalhando a vida do clube. E as questões polêmicas que sempre foram resolvidas dentro dos muros do Morumbi, se tornaram públicas, com direito a cenas de pugilato e gravações comprometedoras, e o clube teve um presidente que pediu demissão do cargo, depois de colocar o clube em situações constrangedores como aparecer em uma coletiva comendo bananas ou falar da dentição perfeita de um jogador, para ironizar os rivais.

 

No departamento de futebol são incontáveis as ações que mostram o período ruim que o São Paulo vive nos últimos anos. Depois de perder peças importantes na comissão técnica, hoje o São Paulo não é mais prioridade para os jogadores, como já foi. Para atuar no time, jogadores e seus empresários exigem mais do que valem pra jogar no clube. De repente, o clube virou “albergue” de jogadores, que usaram o clube como vitrine para jogar no exterior, e também trouxe jogadores de qualidades duvidosas, que mal vestiram a camisa do clube. Fora os casos recentes de Silvinho e agora Morato, que mal chegaram de times do interior e já estrearam em jogos decisivos. O trabalho na base surge mais para pagar as contas do clube, do que ajudar na parte técnica. Alguns jogadores que o clube revelou, já são negociados antes mesmo de brilharem no clube.

 

Nos últimos anos, na esperança – e também para calar a torcida – de mostrar que os tempos de glória voltariam, o clube investiu em nomes que fizeram sucesso no passado, como aconteceram nos casos de Kaká, Luís Fabiano, Lugano, a volta do técnico de Muricy Ramalho e Rogério Ceni no cargo de treinador. Até quando tentou ousar, o clube não teve total convicção do que estava fazendo, como nos casos na contração de técnicos estrangeiros – Juan Carlos Osorio e Edgardo Bauza, que saíram do clube para comandar seleções, mas eles foram substituídos por treinadores com perfis totalmente diferentes.

 

Para sair do mau momento atual – e que fica mais grave a cada ano que passa, o São Paulo precisa sair da inércia que vive desde 2009 e colocar na cabeça que os títulos não voltarão apenas porque a torcida, na primeira boa fase do time gritar: “o campeão voltou”. 

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