Faltando pouco mais de três anos para a Olimpíada, Tóquio começa a se deparar com os primeiros entreveros e acusações. Vendendo a ideia de uma Olimpíada completamente sustentável, o Japão projetou e iniciou as obras do seu Estádio Olímpico em dezembro do ano passado, sob a liderança do renomado Kengo Kuma. Ao custo de US$ 1,5 bilhão (R$ 4,8 bilhões), a obra é inspirada na tradicional arquitetura japonesa e predominantemente de madeira. O problema é que, de acordo com Bilong Oyoi, líder do povo Penan, das florestas tropicais de Borneo, na Malásia, grande parte da madeira comprada pelo Japão vem da região ocupada pela sua tribo e resultado do desmatamento ilegal que há décadas aflige a região.
Nesta semana, Bilong entregou uma petição com 140 mil assinaturas diretamente na embaixada japonesa em Berna, na Súíça. O pedido, quase um apelo, é que o Japão pare de comprar madeira barata de áreas demarcadas do povo Penan. ONGs que trabalham em Borneo garantem que grande parte da matéria prima que será usada no estádio é adquirida junto a uma empresa que viola os direitos humanos e acusada de desmatamento ilegal na região. Para ele, a ação contribui ainda mais para o extermínio do seu povo no estado de Sarawak.
– Perdemos nosso meio de subsistência porque a água está poluída pela exploração madereira. A situação só piora. Agora é difícil caçar e pescar e assim sobreviver. Nosso deseja é que a petição seja aceita pelo Japão e que eles parem de importar a madeira de Sarawak, que invade as terras dos Penans e povos indígenas – disse Oyoi em entrevista ao “The Japan Times”.
O jornal tentou contato com o Conselho de Esportes do Japão, órgão do governo responsável pelas venues olímpicas, mas não obteve retorno. Já o Comitê Olímpico Internacional (COI), disse ter assegurado que toda a madeira comprada pelo Japão é certificada e sustentável.
– Temos confiança de que Tóquio 2020 está no alvo para alcançar seus objetivos de sustentabilidade – disse em nota.
A Rainforest Action Network, instituição que protege as florestas tropicais mundo afora, garantiu, ao lado de outras fundações, como a Global Witness e a Thomson Reuters Foundation, que por mais de uma vez foram encontradas madeiras sem certificação e provenientes da área indígena no canteiro de obras japonês. Eles pedem revisão dos contratos e uma investigação sobre a ilegalidade do material.
O projeto de Tóquio 2020 é inspirado em santuários xintoístas, e seu arquiteto, Kuma, pretende usar “tanta madeira quanto for possível”. A ideia é ter painéis solares e espaços verdes, com terraços e vegetação, criando espaços para o deslocamento do vento e sem o uso excessivo do ar condicionado.