Rui Car
30/12/2019 10h20 - Atualizado em 30/12/2019 08h55

“A vida tem limites”, diz Ana Paula sobre a inclusão de atletas trans no esporte de alto rendimento

Ela não se vê preconceituosa e quer trans envolvidas com o esporte, mas não dentro da quadra

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Com quatro Olimpíadas no currículo, duas na quadra e duas na praia, Ana Paula Henkel é uma das principais jogadoras de vôlei da história do país. Mas, nos últimos anos, ficou mais conhecida por sua atuação nas redes sociais, em que viu seu número de seguidores crescer dez vezes após começar a fazer comentários sobre política. Atualmente morando nos Estados Unidos, é uma das maiores militantes contra a presença de atletas transexuais no esporte de alto rendimento.

 

Ela esteve, neste sábado, às 22hs, no centro do Grande Círculo, programa de entrevista do SporTV, apresentado pelo narrador Milton Leite. Outros seis nomes sabatinaram a medalhista olímpica: Os repórteres Alexandre Oliveira, Gabriela Moreira e Joanna de Assis, o ex-jogador de vôlei e hoje comentarista Nalbert, a editora Cida Santos, e o narrador Cleber Machado.

 

 
 

Ana Paula do vôlei no Grande Círculo — Foto: ReproduçãoAna Paula do vôlei no Grande Círculo — Foto: Reprodução

Ana Paula do vôlei no Grande Círculo — Foto: Reprodução

 

O tema mais discutido no programa acabou sendo a inclusão (ou não) de mulheres transexuais no esporte de alto rendimento. Para Ana Paula, é importante que as mulheres lutem contra isso, pois elas são as mais afetadas:

 

– O ponto perigoso é que essa inclusão, por mais floreada que coloque nessa palavra, no esporte essa inclusão significa exclusão de mulheres. Incluir atleta trans no esporte feminino, que para o esporte são homens biológicos? A vida tem limites. Eu acho que não existe campo mais inclusivo que esporte. Não olha raça, posição política, religião, nem nada disso…Esporte é baseado em homens em mulheres e países competindo entre si. Em momento algum atletas trans estão sendo excluídas do ambiente esportivo. São muito bem vindas como técnicas, psicólogas, estatísticas… – disse.

 
 

Ana Paula Conelly do Vôlei - Olimpíadas de 2008 — Foto: Getty ImagesAna Paula Conelly do Vôlei - Olimpíadas de 2008 — Foto: Getty Images

Ana Paula Conelly do Vôlei – Olimpíadas de 2008 — Foto: Getty Images

 

No centro da conversa, a medalhista de bronze na Olimpíada de Atlanta 1996 com a seleção feminina de vôlei, quis deixar claro que não é uma pessoa preconceituosa:

 

– A decisão das pessoas socialmente tem que ser respeitada, muito respeitada, é questão sine qua non…Tem que respeitar e pronto. E ai você impor direitos em cima das suas decisões é esticar a corda além da conta….Não estamos pedindo para que a discussão seja abandonada, estamos pedindo para que o esporte seja respeitado como ele é…Essa inclusão de trans está excluindo mulheres – disse.

 

O assunto de transexuais no esporte ganhou peso no Brasil no fim de 2017, quando a oposta Tiffany passou a se destacar na Superliga feminina de vôlei pelo Bauru. Depois de um início promissor, a jogadora passou a ser melhor marcada pelas rivais e viu seu time ser eliminado nas quartas de final do torneio no ano passado. A oposta segue no mesmo time nesta temporada.

 

– Isso está tendo um efeito cascata na liga universitária dos Estados Unidos. Meninas que treinam três ou quatro anos no ensino médio, nos EUA não existe universidade gratuita, elas investem três ou quatro anos para ter essa bolsa, ficam de fora para meninos biológicos – disse.

 

Ana Paula do vôlei — Foto: ReproduçãoAna Paula do vôlei — Foto: Reprodução

Ana Paula do vôlei — Foto: Reprodução

 

– A gente não pode entrar no espiral do silencio, esse que é o problema, achando que o debate vai cair no preconceito, não vai. Tem que ter maturidade suficiente. Em momento algum a gente falou exclui para sempre. Vamos colocar a bola no chão e vamos continuar pesquisas paralelas a longo prazo para que alguma coisa seja feito de concreto e que não machuque tanto as mulheres – disse.

 

Questionada sobre uma possível agressividade com os seguidores -e com os haters- Ana Paula, que hoje possui quase 550 mil seguidores no Twitter, explicou:

 

– Eu não provoco. Mas se eu sou provocada, e não fico quieta. Nunca vou na pagina ninguém, nunca vou cutucar ninguém, mas se vem a minha pagina, e me citam primeiro, eu vou responder, tenho direito de responder. Vou sempre responder, não vou ficar calada – disse.

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