Rui Car
28/01/2020 16h35 - Atualizado em 28/01/2020 14h10

Wanderlei Silva recorda desafios da primeira luta: “Não tinha regra nenhuma”

Ex-campeão do Pride enfrentou adversário sul-mato-grossense que, anos depois, acabou participando de uma edição do BBB

Assistência Familiar Alto Vale
Por: Canal Combate - Foto: Evelyn Rodrigues

Por: Canal Combate - Foto: Evelyn Rodrigues

Delta Ativa

Wanderlei Silva foi um dos mais vitoriosos lutadores de MMA do Brasil. Com passagens pelo Meca, IVC, UFC e Bellator, foi nos ringues do Pride que o lutador curitibano se consagrou, conquistando títulos e o posto de número um do mundo até 93kg, além de uma legião de fãs.

 

Mas, um ano antes de ser apresentado ao mundo no vice-campeonato do violento IVC 2, em 1997, o brasileiro resolveu se aventurar no Campeonato Brasileiro de Vale-Tudo, um evento realizado no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, que reunia representantes de todo o país.

 

Naquela época, Wanderlei dividia a vida de lutador com outras atividades. Em entrevista exclusiva ao Combate.com, contou como conciliava seus treinamentos e revelou que já se sentia preparado para esta nova carreira: a de lutador de vale-tudo.

 

– Meu pai tinha um bar, e eu era balconista, trabalhava também de segurança, dava aula na academia e estava no quartel. Era tudo ao mesmo tempo. Foi uma época bem difícil. Tive a sorte de treinar numa escola competitiva, que era a Chute Boxe, que já tinha um time de luta, e esse sistema de você já lutar na academia, depois contra outras academias, outro Estado. Então já tinha um sistema pra ser lutador.

 

 

Equipe Chute Boxe — Foto: Marcelo AlonsoEquipe Chute Boxe — Foto: Marcelo Alonso

Equipe Chute Boxe — Foto: Marcelo Alonso

 

Se atualmente uma luta é marcada com meses de antecedência, dando a oportunidade para os atletas se prepararem adequadamente, estudarem seus adversários, etc, em 1996 era tudo um pouco diferente.

 

– Essa luta foi casada pra mim em cima da hora. Na verdade, a ideia era que só o (parceiro de treinos) Pelé (Landy) iria lutar. Aí na semana da luta o mestre Rudimar (Fedrigo) me disse que tinha uma vaga no absoluto pra lutar. Eu tinha uns 83kg na época e a categoria era acima de 80kg. Quando a gente chegou no ginásio do Ibirapuera, o pessoal foi lutando, e de repente anunciaram Wanderlei da Silva, do muay thai de Curitiba, depois anunciaram Dilson, do caratê, do Mato Grosso do Sul. Antigamente não tinha muito essa de saber com quem você ia lutar antes. Eu só fui saber quando estava em cima do ringue. Foi uma estreia muito difícil e digna do grande ídolo que virou o Wanderlei Silva, pois os caras mais duros eram sempre colocados contra mim.

 

– Tinha muita rivalidade antigamente. Antes de entrar pra luta, a gente estava lá ao redor do ringue, passou um cara grande com uma camisa de time americano e se estranhou com o Pelé. Era o “Predador”. Falavam que ele era o bicho. Quando anunciaram pra eu subir no ringue, subiu eu, e quem era o outro? Justamente ele, o “Predador”.

O duelo foi vencido por Wanderlei aos 3m35s por nocaute, onde o lutador curitibano já mostrou a agressividade que marcou toda sua carreira. Característica, segundo ele, moldado nos treinos da academia Chute Boxe, em Curitiba.

 

– Esse estilo agressivo foi algo que foi se desenvolvendo com o tempo, muito bem orientado tecnicamente pelo mestre Rafael (Cordeiro) e psicologicamente pelo mestre Rudimar. Eles direcionavam muito bem os treinos, mostravam até onde a gente poderia chegar e a gente acreditava bastante na técnica. Realmente tive muita sorte de ter esses caras comigo.

 

Assista a luta de Wanderlei contra Dilson Filho no vídeo abaixo:

 

A vitória logo na estreia acabou sendo um pontapé inicial para Wanderlei Silva, cujo auge foi no Japão, onde conquistou o cinturão do Pride, no início da década de 2000. Aquele triunfo no Ibirapuera demonstrou que o MMA seria o caminho para ele superar as dificuldades que encontrava na vida.

 

– Eu sempre tive muitos sonhos dentro da luta. A luta foi a primeira coisa que eu pude fazer sem depender de ninguém. A gente tinha o treino prático e técnico de manhã, mas a tarde eu podia fazer musculação, correr, nadar, e realmente eu treinava muito. Eu sempre me apresentei na ponta dos cascos, porque eu não tinha outra opção na vida. Essa era uma época muito difícil, minha filha tinha acabado de nascer, o MMA ainda não tinha engatado, ninguém ganhava dinheiro com luta. Essa primeira luta que eu fiz eu me quebrei inteiro e não ganhei nada. Demorei um ano pra voltar a lutar. Foi um começo bem difícil, bem conturbado, mas foi vencido com muita garra e muita força de vontade.

 

Curiosamente, Dilson Filho, o adversário sul-mato-grossense daquela estreia, acabou se tornando um dos participante da terceira edição do Big Brother Brasil. Um oponente que, anos depois, acabou se tornando um amigo.

 

– Eu não estava no Brasil quando ele foi pro BBB, mas fiquei feliz porque ele é um cara batalhador. Sigo ele no Instagram. Acaba que antigos adversários se tornam bons amigos, mesmo à distância.

 

 

Se hoje o MMA é um esporte regulado por Comissões Atléticas, com sistema antidoping e uma série de regras, Wanderlei é sincero ao relembrar o que era proibido quando subiu naquele ringue em 1996.

 

– Regras? Não tinha regra nenhuma, não lembro de ter regra…

Justen Celulares