Rui Car
04/02/2017 08h01

Bebê morre em SC e mãe questiona atendimento do Samu e de hospital

Mulher foi mandada para casa no hospital e parto foi feito na casa dela

Assistência Familiar Alto Vale
Delta Ativa

A morte de um bebê durante o parto causou indignação da família da menina em Blumenau, no Vale do Itajaí. A gestante chegou a ir ao hospital, mas foi mandada para casa. O parto precisou ser feito pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas a criança não sobreviveu, como mostrou o Jornal do Almoço desta sexta-feira (3).

 

O Hospital Santo Antônio afirmou que lamenta o que aconteceu, mas não quis comentar o caso. O Samu afirmou que a mãe já estava em trabalho de parto, o que contraindica que ela fosse removida do local, e por isso ela não foi levada ao hospital. Um dos profissionais do Samu que fez o atendimento disse à RBS TV que a equipe tentou reanimar a bebê por uma hora e meia.

Primeiros atendimentos
Laura de Souza não se conforma. Ela é tia de Alexandra de Souza, que estava grávida de nove meses, e conta que a angústia da família começou no ultimo domingo (29), quando a sobrinha começou a sentir dor.

 

Como o carro da família estava quebrado, foi o Samu que levou a gestante até o Hospital Santo Antônio. Lá ela foi medicada e liberada. Em casa, ela passou a noite em claro e assim que o dia amanheceu precisou de atendimento médico de novo.

 

A tia questionou a atitude dos socorristas. “Às 7h me chamaram, que ela estava com muita dor. Voltei a chamar o Samu. O Samu veio, não fez o procedimento que era pra fazer. Só disse que a dor era normal. Que não preciava cada dorzinha ela tivesse que ser levada pro hospital. ‘Porque o hospital ia estar cheio de mulher berrando’, ele falou. Ele não fez o procedimento, ele não fez exame de toque, que era pra fazer o exame de toque na guria. Simplesmente tirou a pressão dela, deu paracetamol pra dor”.

 

Bolsa estoura
Três horas depois que o Samu saiu, a bolsa de Alexandra estourou. “O Samu veio bem rápido, veio bem rápido. Só que vieram dois enfermeiros, não veio um médico pra fazer o parto dela. Quando ele chegou ali, mandou eu tirar a roupa dela. O pé do neném já estava saindo. Aí, o que ele fez? Começou a puxar o neném. Ele balançou a cabeça e chamou outro Samu pelo rádio. Só que como o outro Samu estava envolvido num outro acidente num viaduto, ele demorou uma hora e meia pra chegar”.

 

“Então eu disse pra ele, ‘é normal isso’? Ele disse, ‘a senhora não entende, então a gente vai fazer o procedimento'”, continuou a tia. Ela afirmou à RBS TV que os socorristas levaram uma hora e 20 minutos para fazer o parto.

 

A mãe lamentou tudo o que aconteceu. “Eu sentia ela [bebê] se mexer. Depois daquilo ali, quando ficou a cabeça trancada, daí eu não senti mais. Ali eu já vi que ela já estava morta. E eu berrava de dor. Porque você não imagina a dor que eu senti na hora”. Depois do parto, os socorristas tentaram reanimar a criança no próprio piso da sala, sem sucesso.

Nota do Samu
Por nota, a assessoria de imprensa da SPDM, que gerencia o Samu no estado, respondeu à RBS TV que todos os profissionais de saúde de alguma maneira são capacitados para a assistência ao parto. No caso do Samu, em situações de emergência, é comum esse tipo de atendimento.

Um dos profissionais do Samu envolvidos no atendimento da Alexandra contou à RBS TV que o atendimento foi feito com a equipe básica, com um enfermeiro e um socorrista. Ele disse que viu que a criança já estava nascendo, mas em posição invertida.

 

Por isso, tentou fazer com que uma ambulância do Samu com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) fosse até o local para encaminhar a mãe até o hospital. Como a informação que recebeu era de que não tinha nenhum veículo disponível, o parto precisou ser feito ali mesmo. Segundo ele, o parto durou pouco mais de meia hora e os profissionais tentaram reanimar a bebê por uma hora e meia.

 

Associação de Doulas vê ‘cultura obstétrica’
A assessora jurídica da Associação de Doulas de Santa Catarina, Mariana Salvatti Mescolotto, afirmou que há uma “cultura obstétrica” no país que precisa mudar. “Nós temos uma dificuldade muito grande no atendimento obstétrico no país como um todo porque a gente não tem, pelos profissionais da saúde, muitas vezes a observância das vontades e da própria observação da mulher nesse processo fisiológico do parto”.

 

Ela também comentou o caso de Alexandra. “Parece que, desde o primeiro atendimento dela, ela informou que estava com dores, enfim, que ela precisava de um atendimento imediato e esse atendimento foi sendo postergado, postergado até, enfim, sendo atendida pelo Samu em uma situação bastante delicada”.

 

“São casos ainda infelizmente muito comuns e se devem justamente pela cultura que a gente tem no atendimento ao parto. Uma cultura em que a mulher não é considerada, ela não é ouvida e os seus desejos, os seus anseios para com este momento, que é tão vulnerável, não são atendidos de maneira adequada levando em consideração o que a mulher relata e considera importante no seu atendimento. Muitas intervenções são feitas de maneiras desnecessárias e também às vezes casos de atendimento de emergência, de casos de cesariana não são realizados forçando um parto normal numa situação que não é a adequada”, completou.

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