Rui Car
24/01/2019 17h00 - Atualizado em 24/01/2019 16h00

Cantor chama de “palhaçada” shows sertanejos em rodeio em Porto Alegre

Luiz Marenco criticou a programação do evento, que prevê shows de César Menotti & Fabiano, Lucas & Felipe e Guilherme & Santiago

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Por: Giovani Grizotti - Gaúcha/ZH

Por: Giovani Grizotti - Gaúcha/ZH

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O cantor e deputado estadual eleito Luiz Marenco criticou duramente as atrações sertanejas anunciadas para o Rodeio Nacional de Porto Alegre, que acontece de 29 a 31 de março no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Chamou de “palhaçada” a programação que prevê shows de César Menotti & Fabiano, Lucas & Felipe e Guilherme & Santiago.

 

“É uma palhaçada o que está acontecendo no nosso Estado. Sertanejos universitários desprovidos de raiz, porque eles não são sertanejos. Vai ter em Herval, agora vai ter no rodeio de Porto Alegre. Nós temos cantores maravilhosos que têm identidade e canto puro regional”, declarou (assista ao vídeo abaixo).

 

Marenco também cobrou do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) uma ação contra esse tipo de programação.

 

“Por favor, MTG, interceda. O papel de vocês é esse. Porque vocês intercedem quando o lenço não está do tamanho certo, porque a armada (tamanho) do laço ou as rodilhas estão erradas. Por favor, vamos parar com essa palhaçada e façam algo pela cultura do Estado”, disse.

 

O problema é que o rodeio de Porto Alegre não é organizado pelo MTG, e sim, pela Federação Gaúcha de Laço, entidade que conta com mais de 60 mil filiados no Rio Grande do Sul. Portanto, não cabe ao movimento tomar qualquer atitude ou interferir – nesta quinta-feira (24), o MTG divulgou uma nota sobre a polêmica. 

 

Cléber Viera, presidente da Federação Gaúcha de Laço, que organiza o evento, diz o seguinte.

 

— O Marenco sempre tocou no rodeio de Porto Alegre, e sempre os shows dele deram prejuízo. Como quase todos os outros que foram colocados no parque. Assim, os eventos têm que procurar outras alternativas que o público jovem gosta. Um evento não se faz só com campeiros. Nossos artistas precisam se reinventar para que também façam o mesmo sucesso que os outros artistas nacionais fazem — diz Vieira.

 

Nossos artistas precisam se reinventar para que também façam o mesmo sucesso que os outros artistas nacionais fazem.

CLÉBER VIERA

Presidente da Federação Gaúcha de Laço

 

O cantor Fernando Espíndola, do grupo Alma Gaudéria, é testemunha da falta de público para atrações gauchescas no parque. Ele foi o responsável por contratar os artistas para a programação de bailes do Acampamento Farroupilha, que acontece no mesmo espaço do rodeio.

 

Seu grupo foi um dos que animaram os fandangos. Em 2017, houve prejuízo. O número de atrações em 2018, então, foi reduzida.

 

— Há dois anos, o MTG leva os maiores nomes de nossa música na Semana Farroupilha, e o público não prestigia — lamenta Espíndola.

 

Antes de reclamar do avanço da música sertaneja sobre a cultura gaúcha, um grupo de artistas resolveu arregaçar as mangas. Espíndola é o idealizador de um projeto chamado “Vozes Gaúchas”, que contratou um divulgador para percorrer as rádios do Estado na tentativa de convencer os comunicadores a rodar nosso cancioneiro.

 

Por outro lado, músicos tentam se aproximar dos temas normalmente abordados pelos sertanejos, como traições, paixões e dissabores, mas sem deixar de lado a pegada gaúcha. Caso do cantor paranaense Paulinho Mocelin, que emplacou “Homem de bombacha também chora”.

 

Gravada por João Luiz Corrêa e Joca Martins, a música “Pano de Chão”, sem linguagem campeira, é outra novidade nesta “reação”. E já está entre as mais rodadas no segmento, nas rádios. Diz um trecho da marchinha: “ai, ai, que dor no coração, eu era toalha felpuda, hoje sou pano de chão”.

 

Veja o que afirma César Oliveira, da dupla César Oliveira & Rogério Melo:

 

— Eu não posso desmerecer, jamais, qualquer estilo musical, se ele tem qualidade e possui seus méritos. O que temos que fazer? Qualificar nosso produto com a união dos músicos e das pessoas que trabalham com isso. Mas sem bater de frente. Um erro existe: mas esse erro não está lá em cima, está aqui em baixo. Falta obtermos qualificação para que nosso produto, a nossa música, retome o espaço perdido — entende César.

 

O caminho, porém, é longo. O ranking da empresa Connectmix, que afere a frequência com que as músicas rodam nas principais emissoras do estado, mostra que o sertanejo ainda predomina. Entre as 100 mais rodadas este mês entre todos os gêneros, nenhuma é de artistas ou grupos gaúchos identificados com a música de raiz.

 

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