Uma suposta briga na escola deixou uma criança indígena de 6 anos em estado grave em José Boiteux e mobilizou até o Ministério Público Federal por conta da falta de vagas nas UTIs de hospitais da região. O menino foi transferido para Joinville, no Norte de SC, depois de 10 dias de espera e de uma ação judicial. A agressão está sendo investigada pela Polícia Civil.
Segundo o delegado Juliano Bridi, responsável pelo inquérito, a mãe do menino contou ao registrar o boletim de ocorrência que o episódio aconteceu na saída da escola, que fica na aldeia Barragem, no dia 22 de abril.
O pequeno teria visto um grupo com outras crianças mais velhas incomodarem uma estudante, que seria amiga dele. Ele foi defendê-la e acabou agredido por três garotos, ainda conforme a versão da mulher.
Depois disso, teria ido para a casa, na Aldeia Figueira. Uma equipe da Secretaria Especial de Saúde Indígena foi visitá-lo para ver os machucados e orientou a família a levá-lo ao hospital, pois a febre estava alta e havia suspeita de fratura. Desde a chegada à unidade de Ibirama, o quadro já era considerado grave, por isso o Hospital Doutor Waldomiro Colautti tentou transferi-lo para um local que tivesse UTI pediátrica.
Com a negativa de outros hospitais, que justificaram não haver vagas para crianças, um problema enfrentado em toda Santa Catarina, a Fundação Nacional do Índio (Funai), que acompanhava a história, acionou o Ministério Público Federal.
O MPF diz ter tentado resolver a questão extrajudicialmente. Como não conseguiu, moveu uma ação contra a União e o governo do Estado no domingo (1º) e exigiu que a transferência ocorresse imediatamente.
Uma liminar da Justiça Federal, expedida naquele mesmo dia, determinou então que os governos resolvessem o problema. Depois de 10 dias de espera, o menino foi levado no domingo à UTI do Hospital Infantil de Joinville, onde permanece em estado grave. Ele passou por cirurgias, mas detalhes do quadro clínico não foram revelados.
Versão será investigada
De acordo com o delegado, em até 60 dias o inquérito será finalizado e deve tentar explicar as circunstâncias do ocorrido, se realmente houve uma briga na escola e se os envolvidos são menores de idade. O documento será encaminhado ao Ministério Público Federal, já que se trata de uma vítima indígena.
Caso o MPF entenda serem necessárias novas investigações, a Polícia Federal assume as apurações. A depender do resultado, o caso chegará à Justiça Federal.
A mãe do indígena procurou a delegacia no último dia 25, após ser orientada a fazê-lo pelas circunstâncias em que o filho teria sido espancado. Ela mora em outra aldeia com o padrasto do menino.
Funai acompanha caso
Desde o começo, informou a Funai, o caso é acompanhado pela fundação. O Conselho Tutelar de José Boiteux também foi procurado pela mãe do menino, mas a instituição não se manifestou sobre o assunto por se tratar de uma criança, como preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Colaboraram Sofia Mayer e Hassan Farias.
Fonte: Bianca Bertoli / Jornal de Santa Catarina / NSC Total