A paralisação das atividades econômicas no curto prazo devido à pandemia do coronavírus terá um impacto de 1,5 ponto percentual no produto interno bruto (PIB) mundial de 2020. A estimativa é da Morningstar, uma empresa de informações financeiras.
A projeção foi feita com base em estudos acadêmicos que avaliaram o impacto de pandemias ocorridas no passado, em diversas regiões do globo. Ao que tudo indica, esse é o parâmetro de referência para as revisões das projeções de crescimento que as instituições financeiras vêm divulgando.
Mas a perspectiva é que, passada a fase crítica da crise, a recuperação econômica seja rápida. Se tudo acontecer conforme o esperado, a queda de 2020 será pouco sentida e o impacto da crise nos próximos cinco anos será de apenas 0,2 ponto percentual no PIB acumulado no período.
A pandemia afeta fortemente a economia no curto prazo. Sob o ponto de vista da oferta de bens e serviços, a atividade cai, principalmente, porque trabalhadores são obrigados a ficar em casa devido à quarentena imposta pelas autoridades sanitárias. Além disso, ocorrem afastamentos do trabalho por motivo de doenças e falecimentos.
Muitas empresas reduzem a atividade e até fecham as portas pelo risco de contágio de seus trabalhadores e clientes. Isso acontece especialmente nas atividades de turismo, transporte, varejo, bares e restaurantes.
E regiões fortemente integradas à cadeia global de suprimentos sofrem com a paralisação das indústrias. Sem a possibilidade de receber insumos importados dos países afetados pela pandemia, a única saída é interromper a produção.
A queda da atividade econômica também ocorre pelo lado da demanda. Muitos trabalhadores consomem na medida em que produzem ou prestam serviços. Isolados por causa do risco de contrair o vírus, essas pessoas não conseguem faturar e cortam as despesas, afetando toda a cadeia produtiva.
Entretanto, o fator econômico mais preocupante é a queda da confiança. É um conceito abstrato, relacionado com a esperança de um futuro mais promissor.
Quando o índice de confiança do consumidor cai, a tendência é que as famílias reduzam os gastos. Isso não depende da renda corrente.
O mesmo acontece com o índice de confiança empresarial. Se a perspectiva para os negócios for ruim, os investimentos são postergados.
Olhando a demanda
Os governos e os bancos centrais podem atuar para minimizar os efeitos decorrentes de aspectos relacionados com a queda da demanda. Essa é a lógica das medidas de postergação do recolhimento de impostos, ampliação do crédito e aumento dos mecanismos de proteção social.
Mas é fundamental que as ações governamentais aumentem o grau de confiança de consumidores e empresas. Caso contrário, a leitura será de que as ajudas nunca serão suficientemente grandes, mas as decisões aumentariam a dívida pública para níveis insustentáveis.
A consequência dessa interpretação foi a reação dos mercados globais nos últimos dias. Houve queda generalizada da cotação das ações e demais ativos financeiros.
Conforme apontou o relatório da Morningstar, a reação do governo à pandemia pode ser fraca ou forte. Se a pandemia for pouco severa, o ideal seria que o governo reagisse de forma moderada, tomando medidas para reforçar o atendimento hospitalar e atrapalhando o menos possível a vida dos cidadãos.
Já para um pandemia severa, o ideal seria que o governo reagisse de forma vigorosa, interrompendo a circulação das pessoas para restringir o contato social. O objetivo seria frear o mais rapidamente possível a propagação do vírus.
O problema é a dificuldade de avaliar os riscos de contaminação de um novo vírus. Portanto, a comunicação do governo é essencial para a recuperação da economia e do preço dos ativos financeiros.
Se as expectativas melhorarem é muito possível que as previsões de um baixo impacto no crescimento econômico a longo prazo se concretizem. E que a crise tenha impacto apenas no curto prazo.
Agora só a história nos dirá em qual cenário o mundo se encontra neste momento.
Fonte: Valor Investe