Para tempos extremos, soluções dramáticas. O ciclone bomba que deixou o céu com aparência apocalítica e causou destruição no Sul pode salvar o Brasil de outro fenômeno natural de ares bíblicos. A nuvem de gafanhotos que ameaça entrar no Sul deve ser destruída pelo frio. O meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), acredita que o frio vai segurar os gafanhotos.
— O frio trazido pelo ciclone deve acabar com eles. Pode gear e até nevar nas serras do Sul e isso é um obstáculo intransponível para os gafanhotos, que não sobrevivem em tão baixas temperaturas — diz Seluchi.
Neste momento, os gafanhotos estão na Argentina sob efeitos do mesmo ciclone. E devem morrer por lá, se o frio continuar, o que é certo, segundo os serviços de meteorologia.
Em parceria com o climatologista Carlos Nobre, Seluchi havia realizado na semana passada uma análise preliminar sobre a praga de gafanhotos. A nuvem é formada pela aglomeração de milhões desses insetos normalmente solitários.
Gatilhos climáticos os fazem mudar da fase solitária para a gregária, numa das transformações mais radicais e grandiosas da natureza. Este ano, o gatilho climático foi, de acordo com Seluchi e Nobre, o longo período seco em todo o centro-sul da América do Sul (Paraguai, sul do Brasil, centro-leste da Argentina e Uruguai). Abril, em especial, foi anomalamente seco.
Agora, o frio de um dos ciclones mais fortes dos últimos anos pode matar os insetos. Seluchi observa que o ciclone desta semana chama atenção pela intensidade dos ventos. Isso aconteceu, segundo ele, porque este ciclone, diferentemente da maioria desses fenômenos climáticos, se formou sobre o continente e não sobre o oceano. Isso fez com que se deslocasse pela terra com força muito maior.
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