Rui Car
05/05/2021 08h48

Como foram as 28 horas de pânico vividas pela médica de Taió em ribanceira às margens da BR-470

Em entrevista, a médica Mariana Fossati conta com detalhes como foram os momentos que ficou desaparecida

Assistência Familiar Alto Vale
Mariana Fossati conta como foram as horas de terror e como se sentiu enquanto estava na ribanceira às margens da BR-470 (Foto: Reprodução / Divulgação)

Mariana Fossati conta como foram as horas de terror e como se sentiu enquanto estava na ribanceira às margens da BR-470 (Foto: Reprodução / Divulgação)

Delta Ativa

“Horas de terror”. É assim que a médica Mariana Fossati, de 30 anos, relata como foi ficar mais de um dia desaparecida após cair com o carro às margens da BR-470, no Alto Vale. O sumiço da profissional de saúde mobilizou bombeiros e familiares até que o sinal de GPS do celular dela ajudou os socorristas a encontrá-la. 

 

— Foram horas de terror. Eu achei que não iriam me encontrar, porque eu não via ou ouvia carros… Estava a 40 metros para baixo da estrada. Fiquei com medo de morrer sozinha.

 

O medo da morte assombrou e aterrorizou a médica, que chega a citar a música “Boas Novas”, de Cazuza, para resumir o sentimento naquele momento.

 

— Eu vi a cara da morte, e ela estava viva. 

 

O dia do acidente

 

Ainda estava escuro quando Mariana saiu do apartamento onde mora, em Curitibanos, em direção a um plantão no Hospital e Maternidade Dona Lisette, em Taió. Plantão este que não era costumeiro, já que a médica trabalha em um bairro da cidade onde mora.

 

Entre São Cristóvão do Sul e Pouso Redondo, na chamada Serra do Pires, no Km 203 da rodovia de federal, Mariana perdeu o controle do carro e caiu em uma ribanceira, descrita por ela como “buraco”.

 

— A pista estava molhada, tinha chovido, eu fui tentar desviar de um animal, que devia ser um cachorro ou uma capivara, e perdi o controle.

 

Ela lembra que o carro não capotou na pista, apenas enquanto caía na ribanceira. Todos os objetos que estavam dentro dele foram para o lado de fora e o veículo ficou preso em uma árvore.

 

— Amassou tudo. O teto do lado do passageiro estava todo para baixo. Se tivesse alguém comigo teria morrido com certeza.

 

Barulho que manteve a consciência

 

Por causa dos amassados, a porta do lado do motorista, onde Mariana estava, abriu e não fechou mais. O carro que tem sistema de air-bag e de segurança, que avisa o motorista quando há alguma porta aberta, começou a apitar sem parar.

 

— Eu acho que fiquei desmaiada por mais de uma hora, não tenho certeza, mas acordei por causa do barulho do alarme que era bem alto e foi o que me fez ficar consciente. Enquanto eu estava lá ele [o alarme] estava apitando. Até no outro dia, ele continuava apitando.

 

Mariana até tentou, mas não conseguiu nem abrir e nem fechar totalmente a porta para se proteger do frio da Serra. Apenas o celular — que estava grudado em um suporte do painel — ficou dentro do carro, mas não tinha sinal para que ela pudesse pedir ajuda. Todas as outras coisas, inclusive os sapatos da médica, foram parar do lado de fora do carro.

 

— Quando percebi, meus pés estavam congelando. Olhei para o lado de fora do carro um dos pés do meu sapato estava no para-brisas. Tentei pegar algumas, mas acabei machucando meu braço e não alcancei o sapato.

 

A médica explica que tentou sair do carro sete vezes, mas a dor era muito forte, e a impedia de conseguir facilmente.

 

— Achei que iriam me encontrar no domingo mesmo [dia em que desapareceu], e como eu estava com muita dor na coluna, fiquei com medo de ter alguma lesão e piorar a situação tentando sair. Então eu tentei um pouco no domingo, mas não consegui.

 

Os medos e sentimentos

 

Nas 29 horas em que ficou desaparecida, Mariana conta que nem lembrou de sentir fome por causa de toda a adrenalina que estava vivendo. 

 

— Até senti sede, mas minha garrafa de água estava vazia e a outra caiu para fora do carro. Fiquei com muito frio, pensei que iria congelar até morrer.

 

Além das necessidades fisiológicas e das intempéries do tempo, Mariana também falou sobre o medo de encontrar com algum animal que entrasse no carro e ela não conseguisse se defender.

 

A médica tinha alguns aparelhos médicos dentro do carro, mas eles também acabaram caindo quando o veículo capotou, impossibilitanto que ela se examinasse. 

 

Externamente, não havia nada de errado, apenas alguns arranhões e um olho roxo. No entanto, o baço de Mariana havia estourado e era o que causava a dor mais intensa. A médica estava com hemorragia interna e ficou as quase 30 horas sangrando sem saber.

 

— Se eu tivesse a noção real do quanto eu estava machucada eu não teria tentado subir a ribanceira.

 

Agora ou nunca

 

Na segunda-feira, quando amanheceu e Mariana não havia sido encontrada ainda, ela tomou a decisão de que sairia do carro de qualquer jeito e tentaria subir a ribanceira do jeito que conseguisse para poder se salvar.

 

A doutora explica que o carro ficou preso em uma árvore, com os pneus traseiros suspensos, com o para-brisa na direção do sol. A qualquer momento o veículo poderia se desprender e continuar capotando até o fim do “buraco”. Por esse motivo, ela decidiu que precisava de qualquer forma sair de dentro dele.

 

— Precisava sair, porque comecei a achar que eles não iriam me encontrar e fiquei com medo de morrer ali sozinha.

 

O carro de Mariana ficou preso nas árvores

O carro de Mariana ficou preso nas árvores (Foto: Divulgação)

Na manhã de segunda-feira, quando ela decidiu realmente sair de dentro do veículo, precisou puxar os vidros do para-brisas com a mão — que acabou a cortando — e sentou no capô, com as pernas para dentro do carro. Com movimentos calculados e muito cuidado, ela escorregou devagar até chegar ao chão.

 

— Quando consegui sair do carro comecei a subir a ribanceira. Fui subindo e gritando por socorro. Já estava na metade quando alguém me respondeu. Fiquei tão assustada e feliz que acabei rolando de novo e ficando parada em uma árvore.

 

O resgate

 

Ela explica que ficou o domingo inteiro buzinando e gritando, até havia se acostumado a não ter resposta, por isso, quando alguém a respondeu, ficou surpresa. Quando a encontraram Mariana, a retiraram ela do buraco usando uma maca e uma corda e a levaram para o hospital.

 

— Quando diagnosticaram que eu estava com o baço estourado, ficaram surpresos por eu ainda estar viva, mesmo tendo sangrado por tantas horas. Precisei receber duas transfusões de sangue. Além disso, meu pulmão bateu dentro da caixa torácica e ele também se encheu de sangue. Eu estava quase sem conseguir respirar.

 

Mariana lembra de chegar ao hospital falando, totalmente consciente, mesmo com a hemorragia interna intensa. Ela diz que parecia estar bem por fora, mesmo com as batidas no rosto.

 

Futuro com a medicina

 

A médica conta que depois do acidente pode ter uma vivência diferente, enquanto paciente e não como profissional. Depois da experiência de pânico, a forma de trabalhar, para ela, certamente será diferente.

 

Mariana precisou passar por uma cirurgia para a retirada do baço e ficou internada por nove dias no hospital de Curitibanos. Ela ainda espera para a retirada dos pontos que deve acontecer nos próximos dias, mas já se recupera em casa e pode receber a visita dos amigos e familiares.

 

A doutora ainda não conseguiu ver o guincheiro que a achou e conseguiu chamar o resgate para ela, mas não vê a hora de poder agradecê-lo pessoalmente por tê-la ajudado.


POR: BRENDA BITTENCOURT – JORNAL DE SANTA CATARINA / NSC TOTAL

SIGA AS REDES SOCIAIS DA RÁDIO EDUCADORA: INSTAGRAMFACEBOOKYOUTUBE E SOUNDCLOUD.

RECEBA NOTÍCIAS DO ALTO VALE DIRETAMENTE NO SEU CELULAR CLICANDO AQUI.

 

Justen Celulares