Rui Car
27/08/2022 09h46

Como os catarinenses enfrentam alta de até 99% dos alimentos em um ano

Moradores relatam como encararam o aumento no custo de vida nos últimos 12 meses; entenda por que os preços de itens básicos têm tido reajustes constantes

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Fonte: Isto É Foto:Divulgação

Fonte: Isto É

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A frase mais certeira para começar qualquer conversa atualmente é “está tudo caro”. Com um índice de inflação acumulado de dois dígitos, não há quem não concorde.

 

Hoje a gente se pega numa situação em que você vai fazer mercado, vai comprar um litro de leite, um saco de pão, uma dúzia de ovos e um saco de arroz já deu R$ 60 – diz Julia Monteiro, motorista por aplicativo e empreendedora.

Mãe solo, ela precisa dos dois empregos para conseguir dar conta.

 

Conseguir R$ 60, pra mim, significa seis corridas. Se forem corridas curtas, preciso aumentar o número. Isso para conseguir levar alimentos básicos para casa – exemplifica.

 

A alimentação é o primeiro termômetro de que o custo de vida está aumentando. Apesar de impactar mais a população de renda menor, todos – do rico ao pobre – precisam comer. De um ano pra cá, este grupo de alimentação em casa cresceu 17,5%.

 

O leite e derivados alcançaram o status de vilões das compras. O leite longa vida acumula alta de 77,8% em 2022. Queijo (16,1%) e manteiga (17,2%) seguiram a mesma linha. Para se ajustar à esta nova realidade das famílias, os supermercados e a indústria alimentícia têm criado estratégias. Nas prateleiras, surgiram novos produtos. Ao lado do leite condensado há a mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido. Próximo ao creme de leite tem a mistura de creme de leite, que também leva soro de leite na composição.

 

Famílias restringem consumo de leite e economista projeta cenário para o futuro

Para o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas, os dois fenômenos são reflexos do atual momento socioeconômico.

 

 Nós temos visto uma redução da renda familiar, tanto pelo aumento da inflação, que corrói o poder aquisitivo, quanto pela perda de emprego. A família que perdeu o emprego, a qualquer nível de inflação, perdeu a capacidade de comprar produtos. Quem ainda está empregado vê uma inflação cada vez mais alta corroendo seu poder aquisitivo. A cada visita ao supermercado se leva menos para casa – avalia o especialista.

 

Como o custo de vida subiu em um ano

 

Só reduzir a lista de compras e substituir marcas não são medidas suficientes para equilibrar o orçamento doméstico, porque além dos alimentos, outros produtos e serviços comumente consumidos pelas famílias brasileiras encareceram. O gás de cozinha aumentou 21% em um ano. Em Santa Catarina, só de janeiro a junho, o botijão de 13 kg ficou R$ 10,83 mais caro.

 

As famílias que têm carro sentiram a alta dos combustíveis. A gasolina acumula alta de 5,6%, já considerando as reduções feitas pela Petrobras nas refinarias. Isso até deu um pequeno alívio nas últimas semanas, mas o diesel não. Esta situação é inédita: pela primeira vez o diesel está mais caro do que a gasolina. Mais um efeito da guerra na Ucrânia que fez com que países europeus buscassem o combustível em outros mercados e reduzissem a oferta no mundo. A alta nos últimos 12 meses é de 61,9%.

 

Aqueles que adaptaram os veículos para gás veicular também não ficaram de fora. De julho de 2021 para cá, o GNV avançou 27,1%.

 

Por que tudo está mais caro?

 

A inflação é o fenômeno econômico do aumento de preços. O indicador oficial no Brasil é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA. O IBGE avalia uma cesta de produtos e serviços que são geralmente consumidos pelas famílias: alimentação, habitação, vestuário, transporte, saúde, despesas pessoais, educação e comunicação. A variação de preços de forma pontual é comum e até esperado. Há questões de oferta e demanda, sazonais e climáticas.

 

O Banco Central estipula uma meta de inflação saudável, que para 2022 é de 3,5%, mas qualquer valor entre 2% e 5% é aceitável. Um índice de inflação abaixo da meta significa redução no consumo, o que pode ter impacto na atividade econômica do país. Mas começa a ser bastante preocupante quando a alta nos preços é persistente e generalizada. É o que tem acontecido desde 2020.

 

Este efeito é global, observado também nos Estados Unidos e na Europa. Aqui, tem um agravante da desvalorização do Real frente ao Dólar, que acaba encarecendo ainda mais produtos como combustíveis e outras commodities.

Fonte:NSC
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