Rui Car
14/08/2020 11h51

Doação de colchões velhos pelo Exército para indígenas do Alto Vale é considerada descaso

Lideranças da aldeia desabafaram sobre o péssimo estado dos colchões doados

Assistência Familiar Alto Vale
Fonte: NSC

Fonte: NSC

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Imagine uma espécie de hospital de campanha ou unidade de saúde básica para atender pacientes com coronavírus montada com colchões velhos, sujos ou rasgados. Pense ainda que a doação tenha sido feita pelo Exército Brasileiro e entregue pelo Ministério da Saúde, através da Secretaria Especial de Saúde Indígena, a Sesai. Foi o que aconteceu na Terra Indígena  (TI) Laklãnõ, nos municípios de José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meireles e Itaiópolis, no Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina.

 

Foi um ato de descaso, escreveu a índia Guajajara Sonia, uma das principais lideranças indígenas do país, nas redes sociais da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). A índia do Xingu questionou sobre a presença de fungos e bactérias, o que traria mais riscos à saúde das pessoas já adoecidas.

 

— Os colchões estão inadequados para o uso, e os cobertores vieram sujos – confirmou o índio Abraão Patté.

 

O objetivo é montar na área uma unidade de saúde para isolar os índios que testaram positivo para o coronavírus nas nove aldeias da TI. O trabalho fica sob responsabilidade do Distrito Sanitário Especial Indígena (DESEI-Interior), o qual está realizando testes rápidos, distribuindo material de proteção, álcool-gel e monitorando os casos positivos. 

 

De acordo com Alexandre Rossentini, coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Interior-Sul (DSEI), as escolas das aldeias serão usadas para o isolamento dos índios com Covid 19. Também foi anunciada a contratação de mais um médico para atender os Xokleng.

 

Índigenas que vivem em terras do Alto Vale do Itajaí foram testados para o novo coronavírus(Foto: Brasílio Pripa / Acervo Pessoal)

Índigenas que vivem em terras do Alto Vale do Itajaí foram testados para o novo coronavírus(Foto: Brasílio Pripa / Acervo Pessoal)

 

Dezenas de  infectados, duas mortes e uma paciente grave na UTI

 

Cerca de 60 pessoas estão com a Covid na TI, havendo o registro de duas mortes. Além disso, uma mulher com 65 anos encontra-se na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Oase, de Timbó, referência para a doença na região. Desde o primeiro registro, em 30 de julho, a situação só piorou:

 

—  A gente toma os cuidados, mas assim como acontece com os não índios o vírus chega – diz Brasílio Pripa, que enfrenta o isolamento da esposa e da filha de três anos que pagaram o Coronavírus.

 

Os índios fizeram barreira sanitárias para impedir a passagem de veículos pelas aldeias. Mas, apesar do isolamento, as famílias têm necessidade de sair para comprar alimentos na cidade. Ainda nesta tarde de quinta-feira, o Distrito Sanitário Especial Indígena se comprometeu a recorrer os colchões velhos e devolvê-los ao Exército. 

 

A expectativa agora é que o governo do Estado atenda a um ofício encaminhado por lideranças e prefeitos da região com pedido ajuda. A Defesa Civil do Estado prometeu enviar 70 colchões e roupas de cama novas para os Xokleng.

 

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