Rui Car
09/02/2017 13h25 - Atualizado em 09/02/2017 11h05

Duplicação da BR-470 custa 3,5% do PIB do Vale do Itajaí

A informação é de Pedro Machado do Diário Catarinense

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O custo da duplicação da BR-470 representa apenas 3,5% da riqueza produzida em 14 cidades do Vale do Itajaí que há tanto tempo esperam pela conclusão da obra. O cálculo é do economista e professor da Furb Nazareno Schmoeller. O especialista já havia feito levantamento semelhante em 2013, mas gentilmente atualizou os dados nesta semana a pedido da coluna.

 

A conta é um pouco complexa. Para chegar ao resultado, Schmoeller somou o Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios de 2013, último dado disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O valor chega a R$ 24,4 bilhões. A partir dele, o economista aplicou o Índice de Variação Geral de Preços (IVGP), o nível de inflação medido pela Furb. Corrigido, a soma das riquezas da região chegaria a R$ 30,6 bilhões em janeiro deste ano.

 

– É claro que em alguns municípios o PIB pode ter crescido menos do que a inflação, mas isto não invalida os cálculos – argumenta Schmoeller.

 

Nesta lista entram Apiúna, Ascurra, Benedito Novo, Blumenau, Doutor Pedrinho, Ibirama, Ilhota, Indaial, Lontras, Luiz Alves, Navegantes, Pomerode, Rio do Sul e Timbó. São cidades que, de acordo com o economista, seriam direta ou indiretamente beneficiadas com a finalização da obra.

 

A segunda parte da equação foi feita a partir do custo da duplicação. As assinaturas da ordem de serviço para os trabalhos nos quatro lotes em que a rodovia foi dividida ocorreram entre julho de 2013 e junho de 2014. Na época, os trechos, somados, foram licitados em R$ 862,70 milhões. Usando o mesmo critério de correção inflacionária, o custo sobe para R$ 1,074 bilhão em janeiro deste ano. É este valor que corresponde a 3,5% de R$ 30,6 bilhões.

 

A bola do “em tese” baixo custo da obra – quando colocado diante da riqueza gerada na região, é claro – foi levantada em reunião da Associação Empresarial de Blumenau (Acib) nesta semana. Numa estimativa conservadora, Schmoeller projeta que a BR-470 duplicada, por si só, contribuiria para um aumento de 2% no PIB dos municípios. Em um ano, isso representaria algo em torno de R$ 612 milhões, dos quais R$ 110 milhões viriam somente de arrecadação tributária líquida.

 

A conclusão do economista: em cerca de uma década, a rodovia estaria quitada somente com os impostos extras gerados pela duplicação – sem considerar outros gastos relativos a manutenção e acidentes.

 

– Se a duplicação tivesse começado em 2006, hoje estaria paga levando em conta somente a geração de receita adicional em impostos líquidos – resume.

Trata-se de uma projeção, mas o cálculo é uma pequena mostra da ineficiente redistribuição de recursos por parte da máquina pública. Se o Vale tivesse um retorno mais proporcional àquilo que arrecada, muito provavelmente a BR-470 já estaria duplicada. É a velha discussão envolvendo a revisão do pacto federativo, que tem uma lógica perversa: a União concentra quase 70% dos impostos recolhidos em todo o país, enquanto estados e municípios ficam com a menor fatia. Num país continental como o Brasil, a concentração da maior parte dos recursos na esfera federal ajuda a burocratizar a gestão pública.

 

Em recente visita à região, o ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, garantiu a lideranças locais que a rodovia é prioridade. Já ouvimos isso de dezenas de ministros e governos que antecederam a equipe que aí está e nada de obra pronta. Até quando? A pressão e a cobrança não podem esfriar.

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