Rui Car
02/06/2021 16h43

Entenda os riscos do fungo negro investigado em SC e a relação com a Covid-19

Infecção pode causar necrose de tecidos e ocorre normalmente em pessoas com a imunidade debilitada

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Esporos do fungo estão presentes em material vegetal em decomposição (Foto: Divulgação / Zygoli Research Constortium)

Esporos do fungo estão presentes em material vegetal em decomposição (Foto: Divulgação / Zygoli Research Constortium)

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Autoridades sanitárias de Santa Catarina investigam um caso suspeito de mucormicose, na cidade de Joinville. A infecção, popularmente conhecida como “fungo negro’, é monitorada em um paciente de 52 anos que teve diagnóstico confirmado de Covid-19.

 

Além do caso suspeito em Joinville, outros dois casos são investigados no Brasil – em São Paulo e em Manaus. Na Índia, a epidemia de fungo negro chamou a atenção nas últimas semanas e, na América do Sul, casos foram confirmados no Uruguai e no Paraguai.

 

No país indiano, a infecção provocada por fungos já acometeu quase nove mil pacientes com Covid-19. A taxa de mortalidade entre os infectados é de 50%.

 

De acordo com a Dive-SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina) diversos estudos estão sendo realizados no mundo para verificar as possíveis relações entre a mucormicose e pacientes com Covid-19, especialmente os que apresentam comorbidades e quadros imunodeprimidos.

 

Segundo o médico infectologista da Dive-SC , Fábio Gaudenzi, a mucormicose é uma infecção fúngica invasiva grave e que pode acometer as pessoas que já estão com a imunidade reduzida. Indivíduos diabéticos, com doenças onco-hematológicas ou que utilizam medicamentos imunossupressores são mais suscetíveis à contaminação.

 

É possível, ainda, que pacientes que tiveram o organismo fragilizado pela Covid-19 sejam mais vulneráveis à infecção fúngica.

 

Caso de Joinville

 

Apesar de considerada uma doença rara, a mucormicose não é uma doença nova. Esses fungos são conhecidos e estudados desde o final do século 19, circulando livremente por boa parte do mundo, inclusive no Brasil.

 

A cidade de Joinville, por exemplo, já registrou ao menos um caso da doença, em 2018, revelou o médico infectologista Marcelo da Silva Mulazani. O caso de três anos atrás foi identificado em um paciente com câncer.

 

As características climáticas, como umidade alta e temperatura quente favorecem o aparecimento dos fungos causadores da mucormicose. É o caso da cidade de Joinville.

 

“Joinville é úmida e isso torna complicado e suscetível. Então, é recomendado deixar a casa arejada, evitar a formação de mofo, cuidar com alimentos para não formar mofo e acabar ingerindo”, diz o infectologista Mulazani.

 

O que é mucormicose?

 

A mucormicose é uma infecção causada por um fungo da classe Zygomycetes e ordem Mucorales. A contaminação ocorre por meio da inalação de mofo mucoso, normalmente encontrado em esterco, plantas, frutas e vegetais em decomposição.

 

A doença não é contagiosa, o que significa que não pode se espalhar pelo contato entre humanos ou animais. Mas ela se espalha a partir de esporos de fungos que estão presentes no ar ou no ambiente, que são quase impossíveis de evitar.

 

No entanto, o médico Fábio Gaudenzi explica que se o sistema imunológico da pessoa estiver com a função preservada, o próprio organismo irá inativar o fungo, destruí-lo e não vai evoluir como doença.

 

Sintomas

 

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) apontam que, inicialmente, os sintomas da mucormicose são dores de cabeça, inchaço do rosto e febre.

 

De acordo com o Manual Merck de Diagnóstico e Tratamento, “a maioria dos sintomas frequentemente resulta de lesões necróticas invasivas no nariz e no palato, acompanhadas de dor, febre, celulite orbitária, proptose e secreção nasal purulenta”.

 

“Podem ocorrer sintomas do sistema nervoso central. Sintomas pulmonares são graves e incluem tosse produtiva, febre alta e dispneia. Infecção disseminada pode ocorrer em pacientes gravemente imunocomprometidos”, ainda segundo o manual.

 

Tratamentos

 

Geralmente, o tratamento é realizado com intervenção cirúrgica para remover os tecidos infectados ou mortos. Em alguns pacientes, a evolução da doença pode resultar na retirada de parte da mandíbula ou do olho.

 

Também há tratamento medicamentoso, que pode envolver um período de quatro a seis semanas de terapia antifúngica intravenosa, dependendo do quadro clínico do paciente.

 

O infectologista Marcelo da Silva Mulazani ressalta que pelo fato da doença já existir, há um protocolo conhecido de tratamento e medidas, como uso de antifúngicos e procedimento cirúrgico em alguns casos. Ele salienta que o protocolo de tratamento já está bem estabelecido e a conduta é a de monitorar o registro de casos para evitar complicações.

 

“É uma doença que ataca pessoas com deficiência imunológica e isso pode ocorrer por diversos fatores. É uma doença oportunista e que prevalece da fragilidade da imunidade das pessoas”, reforça.

 

‘Fungo negro’ e Covid-19

 

Baixo oxigênio, diabetes, altos níveis de ferro, imunossupressão, juntamente com vários outros fatores, incluindo hospitalização prolongada com ventiladores mecânicos, criam um ambiente ideal para contrair mucormicose, escreveram pesquisadores na revista Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Research & Reviews.

 

Além disso, o uso excessivo de alguns medicamentos necessários no tratamento da Covid-19 pode estar suprimindo o sistema imunológico de determinados pacientes, aumentando o risco da mucormicose.

 

Na Índia, a associação está sendo estudada porque os pacientes haviam recebido suporte de oxigênio por meio de cilindros. O infectologista Mulazani salienta, no entanto, que há diversos fatores que explicam os casos, como a umidade, a temperatura e as características sanitárias do ambiente.

 

Por outro lado, SP Kalantri, médico-sênior e pesquisador do Instituto Mahatma Gandhi de Ciências Médicas em Maharashtra, na Índia, afirma que os hospitais indianos estavam nas mesmas condições antes do pico de infecções por Covid-19, em abril.

 

“Os hospitais estavam sujos mesmo antes de abril. Precisamos de estudos epidemiológicos para avaliar por que esses casos estão aumentando agora.”


POR: BRUNA STROISCH – ND+ / COM INFORMAÇÕES DO R7

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