Rui Car
20/01/2021 08h20

Estudantes de SC descem Serra do Rio do Rastro a pé para prestar Enem: “quando a gente quer, consegue”

Com a rodovia interditada por conta da queda de rochas, Allyson e Mariane enfrentaram o sol forte e chuva até chegar ao local de prova

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Molhados e com fome, ambos fizeram a primeira prova do Enem no último domingo (Foto: Arquivo Pessoal)

Molhados e com fome, ambos fizeram a primeira prova do Enem no último domingo (Foto: Arquivo Pessoal)

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Em um ano de Enem com recorde de abstenções, os estudantes Allyson Maciel Candido, 17 anos, e Mariane Oliveira de Assunção, 18, precisaram enfrentar o sol escaldante e a chuva para conseguir fazer a prova no último domingo (17). Moradores de Bom Jardim da Serra, os jovens se deslocavam até o município de Orleans, quando encontraram uma interdição na Serra do Rio do Rastro. Com medo de não chegar a tempo, os dois decidiram atravessar o local a pé. 

 
 

Allyson e Mariane, que moram a cinco quilômetros de distância um do outro, contam que se encontram por volta das 9h30min. Acompanhados pelos pais do menino, eles partiram em direção ao município vizinho. O trajeto percorreria a SC-390, levando cerca de 40 minutos para ser completado. Contudo, por conta das chuvas, blocos de pedra e sedimentos caíram sobre a pista na Serra do Rio do Rastro — o trânsito na região só foi liberado mais tarde naquele domingo.

 

— A gente resolveu sair mais cedo para que pudesse almoçar. Todo mundo diz ‘tenha bastante tranquilidade, faça tudo com calma’. Eu ainda não estava nervoso, mas como todo vestibulando, tinha o pé atrás — comenta Allyson, que busca uma vaga no curso de Medicina. 

Com a interdição, eles montaram um plano para conseguir chegar a tempo. Pediram a um conhecido que trabalha como motorista de aplicativo em Orleans para encontrá-los no trecho mais próximo após a interdição. 

 

Após a confirmação de que o veículo os buscaria, partiram numa caminhada no estilo “nem correndo, nem andando”, como definiram. Apenas com documentos, canetas, máscara e álcool gel, não conseguiram se proteger dos raios do sol e muito menos da chuva que caiu em seguida. No total, foram seis quilômetros a pé até que fosse possível encontrar o transporte. 

 

A emoção não acabou ali. Chegaram ao Centro Universitário Barriga Verde, faltando apenas cinco minutos para o fechamento dos portões. Fizeram a prova com as roupas molhadas e com fome, pois, só tomaram café da manhã. Ao chegar na sala de provas, Alysson diz ter resumido a um fiscal o que aconteceu e ter sido parabenizado pela dedicação.

 

— Nós faríamos de novo, porque era o nosso objetivo. Era isso que a gente vinha preparando o ano inteiro. Quando a gente quer chegar lá, a gente sempre consegue — diz Mariane, que pretende estudar Ciência Contábeis.. 

 

Para o próximo domingo (24), quando serão aplicadas as provas de Ciências da Natureza e Matemática, a dupla ainda não definiu como fará o descolamento. Pensam em sair no sábado para um local mais próximo ao Centro Universitário, para evitar outro momento de tensão. 

 

— O principal foi o nervosismo. O medo de fazer tudo isso e ainda não conseguir chegar a tempo do fechamento dos portões — fala Allyson. 

 

O primeiro dia de provas do Enem 2020 teve abstenção de 51,5%, maior percentual em toda a história do exame. Essa edição, marcada pelos pedidos de adiamento em razão da pandemia, teve casos de estudantes impedidos de acessar os locais de prova. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Florianópolis, um grupo de estudantes relatou que foi orientado a pedir uma nova data para a realização, pois as salas onde eles seriam alocados atingiram a capacidade máxima de ocupação. 


POR: CATARINA DUARTE – DIÁRIO CATARINENSE / NSC

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