Rui Car
14/04/2017 08h48

Ex-executivo da Odebrecht Ambiental afirma que tratou de repasse a Jean Kuhlmann na prefeitura

Delator Paulo Welzel diz que conversou sobre pagamento à campanha do deputado estadual para prefeito em 2012 com Cassio Quadros, chefe de gabinete na época

Assistência Familiar Alto Vale
Delta Ativa

O vídeo de delação do ex-executivo da Odebrecht Ambiental Paulo Roberto Welzel tem uma carga importante de informações e, uma das mais relevantes, é a de que as tratativas seriam feitas com pessoas de peso dentro dos partidos, não necessariamente da linha de frente. É o caso da citação a Cassio Quadros (PSD), que segundo o ex-diretor-superintendente para a região Sul da empreiteira teria tratado sobre o repasse para o deputado estadual Jean Kuhlmann (PSD).

 

O nome de Quadros acabou se tornando mais popular no ano passado, quando coordenou a segunda campanha de Kuhlmann à prefeitura, mas no meio político ele sempre foi conhecido por ser um homem de articulação, que trabalha nos bastidores. Esteve no primeiro escalão durante os dois mandatos do então prefeito e atual deputado federal João Paulo Kleinübing (PSD), de quem ganhou a confiança com a atuação na Procuradoria-Geral do Município, já a partir de 2005.

 

O desempenho o alçou, anos mais tarde, à chefia de gabinete, cargo de braço direito do mandatário maior, de onde teve afastamentos pontuais para atuar em outras pastas e só saiu definitivamente ao final da gestão de Kleinübing em 2012. Quadros teve ainda uma passagem pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina como secretário-adjunto de Comunicação e voltou para Blumenau em 2015 para dirigir a Secretaria de Desenvolvimento Regional, mais tarde transformada em agência pelo governo do Estado. No ano passado, deixou o cargo para trabalhar na campanha de Kuhlmann.

 

Além da atuação nos governos municipal e estadual, Quadros também é um nome forte dentro do PSD, onde já chegou a ocupar a vice-presidência estadual.

 

Segundo o relato de Paulo Welzel na delação feita no âmbito da Operação Lava-Jato, foi esta figura-chave da administração municipal entre 2005 e 2012 quem teria tratado do suposto repasse de R$ 500 mil via caixa 2 para a campanha eleitoral do deputado Jean Kuhlmann – a quem atribui o codinome de “Alemão” no sistema “Drousys”, que era utilizado pela Odebrecht para organizar o pagamento da propina – à prefeitura em 2012.

 

No detalhamento da negociação, Welzel afirma que se encontrou com Quadros na antessala da Chefia de Gabinete, dentro do prédio da prefeitura de Blumenau. Ele diz ainda para o entrevistador que os dois eram do mesmo partido – ainda são – e que Quadros “era o único contato” que ele tinha.

 

Fora do STF

 

A petição que cita o nome de Kuhlmann não se tornou inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Isso ocorre porque, no caso do deputado estadual, não há pessoas incluídas com  foro privilegiado. Considerando isto, o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot solicitou o encaminhamento da petição ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, que após receber o material encaminhado pelo STF vai analisar e definir se abre ou não o inquérito contra o deputado estadual.

 

É diferente das situações do senador Dalirio Beber (PSDB) e do deputado federal Décio Lima (PT), que possuem o benefício do foro privilegiado e, por isso, o prefeito Napoleão Bernardes (PSDB) e a deputada estadual Ana Paula Lima (PT), que figuram no mesmo inquérito, também serão investigados na instância federal.

 

CONTRAPONTOS

 

O que diz Cassio Quadros:

 

A reportagem tentou contato com ele nesta quinta-feira por telefone celular, em dois números distintos, por nove vezes entre as 18h46min e as 22h14min, mas as ligações não foram atendidas nem retornadas.

 

O que diz Jean Kuhlmann:

 

Atendendo contato da reportagem, o deputado federal Jean Kuhlmann afirmou que não tem conhecimento de tratativas feitas para que sua campanha recebesse repasses em 2012:

 

— Ninguém nunca tratou desse assunto comigo, eu nunca falei com ninguém sobre esse assunto, até porque nunca aconteceu, então eu nunca tive contato com ninguém.

 

Sobre o vídeo da delação de Paulo Welzel, Kuhlmann diz que o próprio delator afirma que nunca falou, tratou ou repassou nada a ele, e destaca que as informações são confusas e não esclarecem os fatos.

 

— O próprio cidadão diz que nunca falou comigo, que nunca me entregou nada, então eu sou o que mais quero que essa situação seja esclarecida, porque nos dois fatos está muito claro que: um, não cita o meu nome, e outro, que o cidadão diz que nunca me entregou nada. Eu estou sendo vítima de umas colocações que são absurdas, infelizmente — conclui.

 

 

Aline Camargo/Jornal de Santa Catarina

Justen Celulares