Depois de uma semana de chuva, a estiagem não é o fim do tormento para a dona de casa Mirna Aparecida Pereira, de 51 anos, moradora de Lages que desde domingo (4) vive em um abrigo. A chegada do frio intenso à Serra catarinense, nesta sexta (9), é mais um desafio para quem teve casa de madeira destruída pelos alagamentos, e os poucos objetos que sobraram no local, saqueados.
“Minha casa alagou. Pegou chuva, cedeu o teto. Salvou pouco. A geladeira, o fogão e a pia. Ontem fui dar uma olhada, e ela foi arrombada”, diz Mirna, que por enquanto não poderá voltar para casa, que ficou com o telhado rachado ao meio.
“O retorno para casa é que é difícil. É muita umidade. Até vir o sol, é difícil de secar. Vai ser muito difícil com o frio”, disse Luis Carlos Alves Borges, presidente da Associação de Moradores do bairro Guarujá, onde Mirna vive atualmente.
O imóvel da associação chegou a abrigar 39 pessoas. Na tarde de sexta-feira (6), restavam seis pessoas no local. Segundo Borges, pelo menos três dos internos perderam todos os pertences.
No abrigo, Mirna conta que ganhou cobertores e agasalhos arrecadados pela comunidade, mas tem medo dos dias que virão. “A casa vai cair, não tem como voltar, com aquelas frestas eu iria passar muito frio”, disse. Ela aguarda a resposta da Secretaria de Assistência Social sobre um aluguel social, mas ainda não há prazo.
‘Virou um pantanal’
Elizabeth das Graças Steffens, de 65 anos, também está desde domingo no abrigo. “Nunca tinha entrada água em casa. Mas como eu moro na beira do rio, entrou por todos os lados dessa vez. O rio transbordou, levou a cerca embora. Veio lama e ficou embaixo do assoalho. Virou um pantanal”, conta Elizabeth.
Ela é cardíaca e está com infecção na bexiga por conta das chuvas. Diz que vai buscar outro lugar para morar. “Eu não quero mais voltar, eu tô com medo. O assoalho inchou, ficou tudo muito úmido e frio. Além da limpeza, também tem a segurança, a vizinhança toda correndo risco”, disse Elizabeth.
“Se eu ficar naquela casa vou ser uma eterna desabrigada”.
As chuvas fortes desta semana fizeram com que 406 pessoas fossem para seis abrigos públicos na cidade. Pelo cadastro do abrigo do Guarujá, 140 famílias foram atingidas, todas em situação de vulnerabilidade. Algumas famílias não buscaram o abrigo, mas foram atendidas pela associação. Também foram distribuídas 350 cestas básicas.