Rui Car
09/02/2017 15h40 - Atualizado em 09/02/2017 14h15

Homicídios crescem pelo terceiro ano consecutivo em Santa Catarina

Combate ao crime reflete nos dados, diz especialista

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DC - Foto: Charles Guerra / Agencia RBS

DC - Foto: Charles Guerra / Agencia RBS

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A escalada de homicídios em Santa Catarina impulsionou as estatísticas pelo terceiro ano consecutivo em 2016: foram registrados 889 assassinatos entre janeiro e dezembro do ano passado, o que representa média de 17 novos casos a cada semana. O aumento foi de 7,6% em relação ao ano anterior, reforçando a curvatura crescente nas estatísticas desde 2014

 

São Francisco do Sul, no Norte do Estado, e Florianópolis foram as cidades que enfrentaram os maiores saltos em número de mortes. Dados da Secretaria do Estado da Segurança Pública (SSP/SC) revelam que a violência em São Chico mais do que dobrou de um ano para o outro, enquanto a Capital registrou aumento de 54,9% no período de 12 meses.

 

Considerando a proporção entre a quantidade de crimes e o tamanho da população, o município do Norte ganha lugar entre as cidades mais violentas do país. Isso porque registrou taxa de 66,4 homicídios por grupo de 100 mil habitantes no ano passado. Para se ter ideia, o Brasil apareceu em primeiro lugar entre países no ranking mundial de assassinatos em 2015 com 29 casos para cada 100 mil habitantes, índice considerado epidêmico pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

 

Em Santa Catarina, o índice foi de 12,9 mortes no ano passado. A elevação de homicídios em Itajaí, Camboriú e Lages também passou da casa dos 20% em 2016. Cidades como Joinville e Chapecó registraram praticamente a mesma proporção de casos do ano anterior. A exceção é Criciúma e São José, que observaram a incidência de assassinatos cair em 41% e 2,7% respectivamente.

 

Guerras entre grupos rivais têm sido apontadas pelas forças policiais como o pano de fundo para a maioria das mortes, especialmente na disputa territorial do tráfico de drogas. Esses conflitos, aponta o diretor da Polícia Civil na Grande Florianópolis, Verdi Furlanetto, também estão por trás dos assassinatos mais recentes – Florianópolis somava 26 mortes no ano até quarta-feira, um terço dos casos registrados em todo 2015.

 

– Grande parte das vítimas têm envolvimento com o tráfico. Há conflitos para o domínio do local de venda. Um grupo que atua em uma região acaba invadindo outra, então ocorrem os acertos de contas – aponta o representante da Polícia Civil.

 

Operações são frequentes no enfrentamento ao crime. Uma delas mobilizou 200 policiais no Norte da Ilha, no final do mês passado, quando mais de 20 suspeitos foram presos. O problema, aponta o delegado, é que há uma recomposição rápida entre os criminosos. A constatação é de que as lideranças são substituídas, mas as funções se mantêm.

 

– Nosso trabalho é prender quem matou, identificar estruturas. Essas pessoas são presas, mas entram novos personagens e as investigações recomeçam – observa.

 

A vulnerabilidade social, completa Furlanetto, é o que costuma abrir a porta do tráfico para os jovens. O entendimento do delegado é de que os homicídios são apenas a ponta mais visível de um desafio que passa por diretrizes governamentais, além de políticas de saúde e sociais.

 

 

Combate ao crime reflete nos dados, diz especialista

Crimes de furto, roubo, estupro e tráfico de drogas também cresceram nas estatísticas do ano passado em SC (veja no quadro abaixo). Mas o professor do curso de Direito da Univali e mestre em Ciência Jurídica Fabiano Oldoni alerta que os dados não são, necessariamente, reflexo do aumento da violência nas ruas. 

 

A tese é de que quanto mais efetivo for o combate às drogas, por exemplo, mais ocorrências de tráfico serão registradas. Casos de furto, roubo e até mesmo de estupro, aponta, também podem ter variação associada à quantidade de denúncias. 

 

– Os números demonstram o que chegou ao conhecimento das agências de controle. Assim, o que se tem é um indicativo de aumento por parte do Estado em apurações, prisões, processos. Pode haver mais denúncias em um período sem que a prática de crimes tenha aumentado – avalia.

 

A principal consequência da sensação de insegurança, diz Oldoni, é uma participação menos ativa em sociedade. 

 

– Nos voltamos a grupos menores baseados numa insegurança que nem sempre vivemos, mas que nos antecipamos para não vivê-las – reforça.

 

 

Estatísticas em São Francisco do Sul são impulsionadas pelo tráfico

por GABRIELA FLORÊNCIO 
[email protected]

 

O tráfico de drogas é apontado pelas autoridades policiais de São Francisco do Sul como o grande motivador do aumento no número de homicídios na cidade em 2016. Além de mais do que dobrar em relação a 2015, a incidência de assassinatos no último ano também está muito acima do patamar registrado em períodos anteriores.

 

Em 2014, por exemplo, a cidade foi cenário de apenas quatro homicídios, segundo dados da SSP/SC. No ano anterior ocorreram 13 mortes, três a mais do que em 2012. Segundo o major Jailton Franzoni de Abreu, do 27º Batalhão da PM, São Francisco sofre com a mesma guerra de facções que outras cidades do país. 

 

– Em 2015 essas facções já existiam, mas em número bem menor. Em 2016, houve uma grande disputa para tomar o controle do crime. A PM está trabalhando para quebrar pontos de droga, com foco na prevenção. Neste ano não tivemos nenhum homicídio, enquanto no mesmo período do ano passado foram sete mortes violentas – destaca.

 

Ainda de acordo com o major, o efetivo de 64 policiais e cinco oficiais da PM têm reforço de nove homens na pequena cidade do Norte do Estado neste ano, além de outros sete em municípios da região.

 

O delegado Marcel Araújo De Oliveira concorda que há relação entre tráfico e aumento no número de homicídios. Ele afirma que a Polícia Civil na cidade tem índice de resolução de 48% dos casos do ano passado até agora, todos estes com autoria definida, enquanto a outra parcela de assassinatos já está com as investigações em estágios avançados.

 

– Estamos trabalhando muito no combate, na investigação, para identificar onde estão esses grupos criminosos. Temos uma ajuda muito importante da PM, do Ministério Público e do Poder Judiciário. Já conseguimos isolar algumas dessas facções e este ano será melhor do que o ano passado. Em 2017 não tivemos nenhuma morte violenta graças a este trabalho que estamos fazendo – explica.

 

Secretaria da Segurança Pública se manifesta

Em nota, a Secretária de Segurança Pública destaca que SC tem uma das mais baixas taxas de homicídio do país por 100 mil habitantes (12,9) e que o aumento de assassinatos é uma realidade nacional, ocasionada principalmente por disputas ligadas ao tráfico de drogas. Sobre a escalada dos números de ocorrências como roubo e furto, a pasta afirma ainda que há ações policias diariamente, mas a reincidência é alta.

 

“O combate aos furtos e roubos é trabalho constante, porém efeitos de redução são difíceis de alcançar, dado o volume e a alta reincidência delitiva. E temos ainda uma legislação leniente. Hoje a prisão é exceção e e não uma regra”, destaca.

 

A pasta destaca ainda que está trabalhando ainda mais com a tecnologia, como o sistema PMSC Mobile. Antes do aplicativo, “todas as ocorrências atendidas pela PM eram formalizadas através de formulários de papel, e depois encaminhadas à seção técnica dos quartéis para digitalização e providências, consumindo tempo e material humano”. 

 

A secretaria destaca ainda que há a integração dos bancos de dados da segurança pública, em fase de conclusão. “Toda a estrutura da segurança pública em Santa Catarina vem desenvolvendo os seus trabalhos com muito empenho, dedicação e competência. Casos graves e de grande repercussão foram esclarecidos e concluídos, o combate ao tráfico de drogas continua forte, as investigações criminais estão mais ágeis”.

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