Rui Car
24/12/2020 09h28

“A incrível resiliência dos catarinenses”, por Mário Motta

Jornalista fala sobre a união e solidariedade do povo de Santa Catarina

Assistência Familiar Alto Vale
Foto: Patrick Rodrigues/JSC

Foto: Patrick Rodrigues/JSC

Delta Ativa

Quando vivemos catástrofes como a que atingiu Presidente Getúlio e outras comunidades do Vale do Itajaí, a reação imediata dos catarinenses me emociona. E saibam que eu tenho alguns anos de experiências nesse tipo de ação aqui no estado.

 

Cheguei à Santa Catarina vindo de São Paulo no final de 1974 e pude acompanhar o rescaldo da grande enchente que tinha assolado Tubarão e cuja marca do barro ainda permaneceu por alguns anos na parede das casas, ao longo do rio que corta a cidade.

 

Vivenciei em 1983 in loco, a enchente que transformou o vale do Itajaí em um imenso lago, com mais de cem quilômetros de extensão e alguns de largura, desde a entrada de Taió, Trombudo Central, até a foz do Rio Itajaí, cobrindo 135 municípios e deixando quase 50 mortos.

 

E foram duas enchentes seguidas por represamento de água (83 e 84), sendo que a segunda não veio sozinha. Ela foi acompanhada por outro tipo de enchente, desta vez de vazão e correnteza e num outro vale – o do Rio do Peixe.

 

Essa teve início com chuvas torrenciais na região centro norte do estado inundando os afluentes do Rio do Peixe na região de Calmon e Matos Costa. A partir dali, agora como Rio do Peixe, passou como uma avalanche de água lavando e levando quase tudo – por Caçador, Rio das Antas, Ipoméia, Videira, Pinheiro Preto, Tangará, Ibicaré, Luzerna Joaçaba, Herval do Oeste, Lacerdópolis, Capinzal, Ouro, Ipira e Piratuba, antes de depositar todo o seu volume no Rio Uruguai.

 

Depois vieram o Furacão Catarina, que varreu parte do sul de Santa Catarina, a catástrofe do Morro do Baú/Ilhota em 2008, os tornados que atingiram Belmonte, Descanso e Xanxerê e outros eventos. Em todos eles, parecia ser a natureza testando a fibra do nosso povo.

 

E, tão logo as águas baixavam, o vento cessava, a lama escorria, e o sol voltava a brilhar, os catarinenses já estavam nas ruas, limpando suas casas, suas cidades, e iniciando a reconstrução de suas vidas.

 

O brasileiro responde bem às intempéries, mas é certo que nosso estado foi beneficiado pela miscigenação com as imigrações recebidas, especialmente as europeias do período pós segunda guerra.

 

O sangue de quem precisou enfrentar todas as dificuldades de uma revolução sangrenta, cruzar um imenso e desconhecido oceano e chegar a uma terra praticamente inóspita, certamente ensinou muito a nossos irmãos adotados.

 

Fico impressionado com a capacidade de resiliência dos catarinenses, que tão logo recolhem seus mortos, reiniciam a reconstrução de suas casas, de suas vidas e de suas comunidades. Muitos, nem bem conseguiram um novo teto para morar, e já estão ajudando seus irmãos a reencontrarem suas vidas e a reerguerem seu patrimônio.

 

Vale o exemplo e a certeza de que – tão logo se faça a escuridão, a travessia só é possível quando você percebe que a luz não está no fim do túnel, a luz está dentro de cada um de nós.


POR: MÁRIO MOTTA – NSC

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