Rui Car
12/05/2021 16h58 - Atualizado em 17/05/2021 13h52

Morre jovem de Chapadão do Lageado que esperava por transplante de coração

Ela foi sepultada em Ituporanga na tarde desta terça-feira (11)

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A lotação dos hospitais de Santa Catarina, sobrecarregados principalmente em decorrência da Covid-19, afeta pacientes com outras doenças. Luana Feiber, de 21 anos, aguardava internação para fazer os últimos exames antes de entrar na fila de espera por um transplante de coração. 

 

Não deu tempo. 

 

A jovem de Chapadão do Lageado morreu nesta terça-feira (11), após o quadro de miocardiopatia se agravar.

O diagnóstico veio ainda na adolescência, quando Luana enfrentava o cansaço extremo nas aulas de Educação Física e em tarefas simples de casa, como varrer o chão. A irmã, Eloisa Feiber, conta que desde então a rotina era de idas e vindas ao hospital, com algumas internações em UTI. 

 

No fim de 2020 a situação piorou também com problemas pulmonares e de tireoide.

 

— O tratamento não estava mais funcionando, ela tinha muita dor no peito e falta de ar. O médico então mudou o tratamento, porque o coração dela não parava de crescer. Tanto que, em dois anos, um lado cresceu 17% — explica.

 

A jornada até a fila de transplantes

 

Luana começou então os protocolos para entrar na lista de espera para receber um novo coração. Passou duas vezes pelo Ambulatório de Transplantes do Hospital Santa Isabel, em Blumenau, referência no procedimento em Santa Catarina. O protocolo prevê uma bateria de exames e avaliação psicológica. 

 

A última consulta foi em 7 de abril.

 

De acordo com os dados médicos, a jovem precisava ainda ser internada para uma última análise médica e então estar apta à cirurgia quando surgisse um órgão para doação. O problema é que naquele período o hospital estava lotado com pacientes infectado pelos coronavírus e se optou por postergar a internação e, consequentemente, a inclusão na lista de espera.

 

— A Luana não era de pensar muito para frente por conta da doença dela, mas agora nos últimos tempos estava com fé que tudo ia dar certo, que logo ia conseguir um transplante. Ela ia esperar passar um ano da cirurgia e estudar para ser psicóloga ou professora de artes — relembra a irmã com a voz embargada.

 

Para a família Feiber, a jovem tímida na infância e que desabrochou na adolescência, já estava na fila de espera desde novembro do ano passado. Na verdade, não. Ela ainda estava na fase de preparação. Atualmente, dois pacientes homens aguardam na lista por um novo coração. 

 

A pandemia afetou os transplantes.

 

Covid-19 afetou procedimentos em SC

 

Responsável pelos transplantes de coração no Estado, o médico Frederico José Di Giovanni conta que casos como de Luana não são comuns e que, normalmente, dá tempo de colocar o paciente na lista de espera. 

 

— Sem dúvida a Covid está atrapalhando a vida de todo mundo, até de pacientes que não são do transplante. Digo mais, principalmente daqueles que estão em casa com outras cardiopatias que são tratáveis aguardando cirurgia. Tem acontecido também com pacientes com problemas do aparelho digestivo, pulmonares e outras esferas — explica o médico.

 

O tempo de espera na lista para receber um novo coração é relativo, pois nem sempre a primeira pessoa no ranking tem condições de receber o órgão doado. Isso porque é preciso compatibilidade sanguínea e também de peso aproximado entre doador e receptor. Há casos, relata o especialista, de pacientes transplantados dentro de poucas semanas após o fim dos exames e até quem aguardou cerca de um ano.

 

Por causa da pandemia, a quantidade de transplantes caiu em Santa Catarina, pois os leitos de terapia intensiva estavam priorizados para atender infectados pelo coronavírus. Em 2019, por exemplo, foram 1.507 procedimentos e o ano chegou ao fim com 686 pacientes na fila de espera. No ano passado, o Estado registrou 914 transplantes e 955 aguardando uma chance de viver mais e melhor em dezembro.

 

Segundo o coordenador da SC Transplantes, Joel de Andrade, no ano passado foram apenas quatro transplantes de coração no Estado, embora se tenha boa oferta de doações, garante. O número representa metade do que em 2019, quando não havia pandemia.

 

Os dois aspectos pontuados por ele que mais dificultam esse procedimento são: a logística, pois a captação do órgão e o transplante devem ocorrer num intervalo de apenas quatro horas, o que exige transporte praticamente todo aéreo — e os helicópteros disponíveis pelo governo não fazem isso à noite; e a Covid-19, que lotou os hospitais.

 

— O Hospital Santa Isabel, que é nossa única referência em transplante cardíaco, ficou praticamente inativo boa parte desse ano por conta da segunda onda da Covid. Não é inativo para coração… É para fígado, rim, pâncreas também. Ou seja, transplantou muito menos do que transplantava porque estava simplesmente tomado de paciente Covid e não tinha onde colocar os outros pacientes com segurança — afirma Andrade.


POR: TALITA CATIE – JORNAL DE SANTA CATARINA / NSC TOTAL

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