Rui Car
11/09/2020 08h30

Operação flagra trabalho escravo em plantação de cebola em Ituporanga

No mês passado, a vistoria de auditores-fiscais federais resultou na descoberta de nove homens em realidade semelhante

Assistência Familiar Alto Vale
Fonte: NSC (Foto: Detrae, Divulgação)

Fonte: NSC (Foto: Detrae, Divulgação)

Delta Ativa

Trabalhadores vindos do sertão nordestino foram resgatados em situação análoga à escravidão em uma plantação de cebola em Ituporanga. No mês passado, a vistoria de auditores-fiscais federais resultou na descoberta de nove homens em realidade semelhante. Desta vez foram 14. A averiguação ocorreu entre os dias 1° e 4 deste mês.

 

Uma das 14 vítimas é menor de idade, o que configura trabalho infantil. Além disso, o modo como tudo aconteceu é considerado tráfico de pessoas. O chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), Maurício Fagundes, conta que seis conseguiram emprego digno em outra cidade catarinense. Aos demais foi solicitado o seguro-desemprego de trabalhador resgatado. Eles receberam passagens para retornar ao estado de origem, alimentação e itens de higiene.

 

Conforme o apurado, fazendeiros encomendam a motoristas e proprietários de ônibus a entrega de trabalhadores para plantio e colheita da cebola. Os patrões pagam o transporte, mas cobram a quantia em forma de serviço quando os homens chegam ao município.

 

Esquema de tráfico de pessoas

 

Ainda de acordo com a Detrae, carros de som circulavam pelas ruas do sertão nordestino anunciando a proposta de emprego. A promessa era de uma oportunidade temporária de três meses com carteira assinada, alimentação, moradia e salário de R$ 100 a R$ 150 por dia.

 
Registro da Operação Cebolinha em agosto, em Ituporanga (Foto: Detrae, Divulgação)

Registro da Operação Cebolinha em agosto, em Ituporanga (Foto: Detrae, Divulgação)

 

Após quase uma semana de deslocamento e endividados pelos gastos da viagem para Santa Catarina, os trabalhadores eram informados que a carteira de trabalho não seria assinada e que os gastos com alimentação seriam igualmente descontados dos salários. Vivendo em barracos, passavam os dias na lavoura para pagar dívidas que só aumentavam.

 

Operação Cebolinha

 

A ação, batizada de Operação Cebolinha em julho, é coordenada pelo Detrae, ligado ao Ministério da Economia, e contou com o apoio da Polícia Federal, Defensoria Pública da União e Ministério Público do Trabalho. Desde a criação da operação os profissionais já chegaram a 23 trabalhadores nesta situação.

 

Além disso, no dia 30 de julho 18 trabalhadores foram encontrados em situação semelhante à escravidão em uma propriedade rural de Ituporanga. As condições em que estavam só foram descobertas porque um deles passou mal e o Samu foi acionado.

 

À época, a prefeitura lamentou que os casos tem se repetido: iludidos com boas promessas, cidadãos chegam à cidade e descobrem a mentira. Sem dinheiro para voltar, acabam se submetendo às condições.

 

Os casos são investigados pela Polícia Federal. Se condenados, os que submetem outros ao trabalho análogo à escravidão podem ser penalizados com dois a oito anos de reclusão e multa.

 

Como denunciar

 

Denúncias de trabalho escravo podem ser feitas de forma sigilosa por este link.

 

Participe de um dos nossos grupos no WhatsApp e receba diariamente as principais notícias do Portal da Educadora. É só clicar aqui.

Justen Celulares