Ingo Wiese, 69, é um dos moradores de Presidente Getúlio que perdeu todos os bens que conquistou ao longo da vida em questão de segundos. O temporal da quarta-feira (16) carregou a casa e o carro dele. Ingo e a esposa só se salvaram porque decidiram correr para o outro lado da rua, onde mora o filho. Depois de enfrentar a correnteza, assim que chegaram ao terreno, viram o imóvel deles ser consumido pela avalanche de lama.
Os idosos moravam no local há 43 anos. Apenas parte da casa da mãe de Ingo, já falecida, ficou em pé. Ainda tentando entender a tragédia, que somou a força da chuva torrencial com deslizamentos nos morros que circundam o bairro Revólver, Ingo não esquece os momentos de terror que passou entre o final da noite de quarta e primeiros minutos de quinta-feira (dias 16 e 17).
— Fazia um barulho de arrepiar, de árvores vindo, água vindo. Parecia um terremoto. Ninguém imaginava que um dia isso ia acontecer. Foi triste, ainda é triste — afirma.
O filho, Loan Wiese, estava no alto do terreno olhando as lagoas e não percebeu a dimensão do fenômeno. Quando desceu, não encontrou a casa dos pais e se desesperou. — Cadê meu pai, cadê minha mãe? —, disse ao notar a rua tomada de lama, pedras e vegetação. Ele calcula um prejuízo de R$ 500 mil, considerando a perda da residência dos pais, os peixes que criava e o salão de beleza da esposa, que ficou alagado.
Mesmo com o trauma, Ingo quer permanecer na localidade. Ainda não sabe em qual ponto, mas garante que será do lado oposto em que vivia. — Daquele lado da rua eu não moro mais —, ressaltou. Assim como ao menos outras 620 famílias, está abrigado na casa de parentes.
Espera que algum auxílio governamental seja dado para contribuir com o recomeço. Em Presidente Getúlio, a prefeitura contabilizava, até terça-feira (22), mais de 3.200 moradores prejudicados pelo temporal. Os bombeiros encontraram 18 corpos de desaparecidos, nove da família de Ingo.