Rui Car
15/04/2019 09h16

Pastor Geraldo Ott: “Quem é chamado para ser ministro é recompensado”

Desde os tempos que pregava em alemão, Geraldo Ott conta como construiu um ministério que coincide com a história de 35 anos da Igreja Evangélica Irmãos Menonitas de Taió

Assistência Familiar Alto Vale
Agradecimento especial: Kalil de Oliveira

Agradecimento especial: Kalil de Oliveira

Delta Ativa

Taió – Abraçado à cuia de chimarrão no sofá da sala, rodeado da inseparável Bíblia Sagrada, de alguns livros teológicos e um hinário em alemão, o pastor Geraldo Ott ensina algumas palavras ao repórter. Diz “guter mann”, “bom homem” em português, após quase meia hora de uma conversa descontraída sobre as suas memórias, desde a conversão, em 1955, até o aniversário da comunidade que ele fundou há 35 anos, a Igreja Evangélica Irmãos Menonitas, de Taió.

 

Aos 80 anos, quatro filhos, todos casados, nove netos e dois bisnetos, esbanjando vitalidade, e apaixonado pela esposa Sigrid, o pastor falou também sobre as experiências difíceis de seu ministério, mas principalmente as alegrias. Para Ott, os tempos são favoráveis para quem quer falar da mensagem de Cristo e as críticas às igrejas atrapalham, mas também ajudam por desafiar as lideranças. Acompanhe:

 

Bom dia pastor Geraldo Ott. Vamos começar falando um pouco da sua vida religiosa. Quando o senhor sentiu que deveria se tornar um religioso? Como sua família reagiu à sua decisão?

Bom dia. Eu senti desde muito cedo algo gostoso em meu coração quando eu ia na igreja. Lá estava o coral cantando, o pastor pregando…

 

O senhor lembra que ano era?

Era o ano de 1955, na Grande Curitiba, na região de Guarituba, Pinhais. Eu nasci no Paraguai e me tornei brasileiro aos 10 anos, com muito orgulho até hoje.

 

E a sua família reagiu bem à sua decisão?

Eu entreguei minha vida ao Senhor em uma simples oração e Deus cuidou disso. Usou a liderança da igreja na época para eu ir ao seminário. Fui, casei, e novamente veio a liderança e disse ‘nós temos um campo onde você possa trabalhar como pastor: Aurora, Santa Catarina’. Com muita luta, desisti do meu emprego de comerciante, dei ouvido à voz de Deus. Era casado e tinha dois filhos, em 1968. Alguns anos depois a liderança da Igreja de Ribeirão Pinheiro, de Taió, me convida para trabalhar aqui com eles, porém morando aqui na cidade.

 

O senhor disse que foi em uma oração simples.

Sim, sim. Entrega de vida. Tipo Isaias, da Bíblia. Ele sentiu Deus. Então Deus disse: ‘quem enviarei?’ e Isaías disse: ‘eis-me aqui Senhor’. Foi o que eu pude fazer.

 

São 80 anos de vida e o senhor deve ter muitas histórias. Qual dessa experiência de pastor mais lhe causa admiração e qual que é a maior dificuldade em liderar uma igreja?

Eu nunca falo o que eu penso. Eu sempre tento dizer ‘assim diz o Senhor’. Eu abro a Bíblia, leio e digo ‘esta é a palavra do Senhor’. É fantástico poder ser um porta-voz do Senhor. Cada mensagem que eu venho a trazer, eu vivo ela. Na Igreja sinto alegria, sim, mas um tremor. E esse tremor é santo porque eu vou falar o que Deus diz. E aí eu preciso cuidar para não emendar as minhas ideias, ou então torcer o texto para os meus interesses.

 

Essa é a maior dificuldade.

É uma alegria, porém é luta. Luta santa. Outra alegria é você ver as pessoas ao dizer ‘o que eu faço? Quero viver no caminho de Jesus’. É uma enorme alegria. Diz a Bíblia que há festa no céu quando um só pecador se arrepende e diz ‘eu quero servir o Senhor’.

 

Outra coisa que chama a atenção é a vitalidade do senhor. Tem algum segredo?

Eu prefiro fazer a minha parte. Cuido para dormir o suficiente, mas trabalhar também bastante porque revitaliza o nosso ser, o nosso corpo. Vamos caminhar! Isso é muito importante. Eu também nunca usei tabagismo, nunca bebi. Deus me protegeu disso. E na minha vida eu conheço a minha esposa e nenhuma outra. A carne pode dizer o contrário, mas aí vem a palavra que diz ‘não faça isso, preserve-se’, e diante do altar eu fiz um voto a ela e ela a mim. Diante disso você se protege de muitas doenças. E um último motivo é que Deus quis. Deus quis que eu estivesse bem aos 80. Deus quis. Toda a glória a Deus, mas tu tens que fazer a sua parte.

 

Vamos voltar a falar sobre a igreja. O senhor fazia o seu sermão em alemão. Desde aquela época, mudou muita coisa?

Mudou. O ser humano é o mesmo na sua essência. ‘Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus’, mas, quando eu comecei, havia religiosos que fizeram um alvoroço. Literalmente uma guerra. Inventaram algumas coisas. Foi uma luta. A gente precisou cuidar para conquistar a confiança do pessoal. Depois de um ano ou dois anos, mostrando quem você é, que você ama as pessoas, a situação muda. Hoje estamos em um momento bom. Pessoas de outras denominações batizadas podem causar mal-estar, mas mesmo assim se respeita. Pode até algum dizer que não gosta muito, mas hoje somos mais cultos, eu diria. Não temos esse negócio de combater uma denominação religiosa contra a outra.

 

Inclusive, o que o senhor diz dá para encaixar nesta última pergunta. Às vezes se ouvem críticas à religião como arma de guerra, disseminadora de preconceito. A história mostra que teve gente que matou em nome de Deus, enfim. Esse tipo de crítica não atrapalha?

Eu diria. Sim e não. Quando o comunismo, anos atrás, proibia pregar o evangelho, prendia os líderes, a Igreja se escondia, mas ela ia crescendo. Deus cuida para que o Seu reino continue mesmo às escondidas. Hoje temos liberdade, mas algumas pessoas dizem ‘não, eu ia lá escutar o evangelho, mas eu não vou porque eu tenho medo’… Então, atrapalha por um lado, mas por outro motiva porque você está diante de um desafio. Você sente que Deus está te chamando, sente que é bom, e vai mesmo assim.

 

Há algo a mais que o senhor gostaria de comentar?

Eu gostaria de dizer que pregar o evangelho é um privilégio. O apóstolo Paulo diz ‘quem quer ser ministro da palavra busca algo nobre’. Ser um religioso, um pastor, um ministro, é algo nobre. Eu exerço há 50 anos. Antes, trabalhei em firmas, redes de lojas, tive propostas. Não quero esquecer nunca aquilo, mas não quero trocar os meus 50 anos de evangelho por aquele trabalho secular. Eu abençoo aqueles que trabalham nesta área, mas aqueles que Deus chama para serem ministros, estes se sentem recompensados.

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