Rui Car
09/10/2020 14h38

Radar Meteorológico de Lontras está parado há dois meses

A Defesa Civil de SC informou, por meio de nota oficial, que o equipamento está desligado desde agosto por orientação da fabricante das peças

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Radar Meteorológico de Lontras foi inaugurado em 2014 (Foto: Julio Cavalheiros/Secom/Divulgação)

Radar Meteorológico de Lontras foi inaugurado em 2014 (Foto: Julio Cavalheiros/Secom/Divulgação)

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O Radar Meteorológico de Lontras está fora de operação há cerca de dois meses. A informação é da Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC), que emitiu nota oficial na terça-feira (06) informando que o equipamento está paralisado para manutenção e não há previsão para a retomada da operação.

 

De acordo com a nota divulgada pela DCSC, as peças foram danificadas “pelo desalinhamento de componentes”. Só este ano, o radar apresentou problemas no dia 31 de janeiro. O defeito foi identificado, as peças foram substituídas e o equipamento voltou a funcionar em 13 de junho.

 

Apenas 60 dias depois, em agosto, o radar voltou a apresentar problemas. De acordo com a nota oficial, a empresa responsável pela manutenção foi acionada e enviou um técnico ao local para realizar uma inspeção.

 

A nota diz que a vistoria presencial constatou a “existência de peças danificadas e o desalinhamento da antena do radar”. A análise apontou a possibilidade de desgaste prematuro das peças, que pode ter sido provocados por problemas na estrutura de movimentação do radar.

 

Segundo a DCSC, “uma avaliação minuciosa está em andamento para apurar se existem outras situações relacionadas, tanto no sistema eletrônico quanto mecânico do equipamento”.

 

Radar inoperante

 

A DCSC esclarece que, embora o radar de Lontras esteja em condições de operação, não foi recomendado que o equipamento seja utilizado de forma regular. “O equipamento está em condições de funcionamento normal, porém existe a possibilidade de desgaste acelerado, nova quebra de peças e diminuição da vida útil caso o equipamento continue operando nestas condições”.

 

Por meio da assessoria de imprensa a DCSC informou que o monitoramento contínuo está sendo realizado com imagens do radar do Morro da Igreja, em Urubici, além de satélites, pluviômetros e equipamentos para medição da velocidade do vento. A assessoria reforçou que o radar de Lontras pode ser usado em situações extremas, mas está sendo mantido desligado por recomendação do fabricante até a troca de peças.

 

Radar Meteorológico de Lontras está inoperante há dois meses (Foto: James Tavares/Secom/Divulgação)

Radar Meteorológico de Lontras está inoperante há dois meses (Foto: James Tavares/Secom/Divulgação)

 

As novas peças, segundo a nota oficial, já foram solicitadas ao fabricante. Porém, são partes específicas e fabricadas sob demanda, o que pode ter um prazo longo entre serem fabricadas e enviadas, o que pode ser acentuado pela pandemia de coronavírus. A DCSC, portanto, não tem um prazo para que o equipamento volte a funcionar e afirma que aguarda um posicionamento da empresa.

 

Radar parado impacta em emissão de alertas de curto prazo

 

Adquirido por R$ 10 milhões pelo governo do Estado e inaugurado em julho de 2014, o Radar Meteorológico de Lontras é um equipamento para previsões de curto prazo.

 

Diretora do Sistema de Monitoramento e Alerta de Eventos Extremos de Blumenau (Alertablu), a meteorologista Tatiane Martins explica que quando o radar no Alto Vale está inoperante há maior dificuldade em emitir alertas rápidos para a região.

 

Ela esclarece que o equipamento não produz informações para previsão do tempo, mas auxilia na informação de eventos climáticos em curto prazo, que vão ocorrer dentro de uma a duas horas, por exemplo.

 

“O principal impacto para Defesa Civil, porque o Alertablu faz parte do sistema de Defesa Civil, é uma maior dificuldade de emitir alertas meteorológicos quando tem eventos de chuva previstos para o município. Nós fazemos a previsão para o dia pelo modelo meteorológico e conforme o dia passa vamos monitorando o potencial dessas ocorrências, de tempestade, potencial de granizo, chuva forte, para emitir o aviso se há necessidade”, explica.

 

Martins afirma que, na falta do Radar Meteorológico de Lontras, o Alertablu usa outros radares que cobrem a região, como o Radar do Morro da Igreja, em Uribici, e um radar do Paraná, que cobrem parte da região do Vale do Itajaí. Porém, ela ressalta que os equipamentos têm menos precisão e nem sempre estão disponíveis.

 

Pouca utilidade em eventos longos

 

Coordenador do Ceops (Centro de Operação do Sistema de Alerta da Bacia do Itajaí), da Furb, o professor e doutor em Meteorologia Dirceu Severo afirma que para o monitoramento da bacia dos rios Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim as informações do Radar Meteorológico de Lontras não são tão relevantes, pois não fazem uma previsão de longo prazo.

 

Além disso, o especialista afirma que desconhece a calibragem do radar para a medição da quantidade de chuvas, o que tornaria os dados não confiáveis. “O dado que ele emite é instantâneo. Ele manda uma onda para o espaço, a onda encontra uma gota de chuva e reflete essa informação. Mas a informação de quantidade de chuva, por exemplo, não tenho certeza se é boa, pois é preciso fazer uma calibração, um ajuste com radar e pluviômetros para fazer uma medição na nuvem e no chão com um bom tempo de monitoramento. Isso tem uma diferença grande e que eu saiba esse equipamento não passou por essa calibração”, aponta.

 

O especialista ressalta ainda que as previsões de curto prazo não são relevantes para as previsão de enchente, que também são determinantes no Vale do Itajaí.

 

“Para o trânsito de São Paulo, por exemplo, que é todo automatizado e eles conseguem desviar ruas e fechar túneis, funciona bem uma previsão de 15 minutos, uma hora, porque eles vão conseguir fazer essa movimentação. Mas aqui no Vale do Itajaí, como é que vai se tomar uma decisão assim? Vocâ imagina numa enchente aqui em Blumenau, que você precisa saber quanto vai chover amanhã pra se planejar, o radar (de Lontras) não vai te dar essa informação”, finaliza.

 

Confira na íntegra a nota divulgada pela Defesa Civil de Santa Catarina sobre a paralisação do Radar Meteorológico de Lontras:

 

“A Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC) vem a público esclarecer que em função da necessidade de substituição de peças danificadas do Radar do Vale (Lontras), situação ocasionada pelo desalinhamento de componentes, o equipamento deverá ficar paralisado para manutenção.

 

O Radar começou a apresentar problemas no dia 31 de janeiro de 2020. Na ocasião o problema foi identificado e peças específicas substituídas. Após a referida intervenção, o radar voltou a operar em 13 de junho de 2020.

 

Após sessenta dias de uso, novamente foram identificados problemas naquela unidade de monitoramento. A empresa responsável pela manutenção dos radares meteorológicos da DCSC foi acionada e necessitou enviar um técnico para inspeção no local.

 

Durante a vistoria presencial foram constatados a existência de peças danificadas e o desalinhamento da antena do radar. Este novo incidente levantou a possibilidade do desgaste prematuro das peças terem sido provocados por problemas na estrutura de movimentação do Radar. Uma avaliação minuciosa está em andamento para apurar se existem outras situações relacionadas, tanto no sistema eletrônico quanto mecânico do equipamento.

 

Embora o Radar de Lontras esteja em condições de operação, não foi recomendado que a Defesa Civil utilize de forma regular nas rotinas de monitoramento. O equipamento está em condições de funcionamento normal, porém existe a possibilidade de desgaste acelerado, nova quebra de peças e diminuição da vida útil caso o equipamento continue operando nestas condições.

 

Novas peças foram solicitadas ao fabricante do Radar, que destaca que são peças específicas e fabricadas sob demanda, podendo ter um prazo longo entre serem fabricadas e o envio, fato acentuado pela crise global da pandemia.

 

É importante destacar que mesmo com a paralisação do Radar de Lontras a DCSC ainda dispõe de capacidade de monitoramento da área coberta pelo equipamento e de emissão de alertas à população. A Região está sobre a cobertura do Radar do Morro da Igreja, localizado no município de Urubici e que é operado pela Aeronáutica. A DCSC ainda dispõe de acesso direto as imagens geradas pelo satélite meteorológico GOES-16 que fornece informações de tempestades severas, da rede de pluviômetros (que realizam o monitoramento do acumulado de chuva) e anemômetros (que acompanham a velocidade do vento). Estes dados são suficientes para que os meteorologistas da DCSC acompanhem o deslocamento ou a formação de qualquer instabilidade atmosférica na Região.

 

A DCSC ressalta que está a disposição para esclarecer qualquer dúvida. Defesa Civil somos todos nós.”

 

FONTE: ND+

 

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