A pandemia do coronavírus tem preocupado muitos trabalhadores autônomos no Alto Vale, e o contágio não é o motivo principal dessa angústia, já que na região, não há casos confirmados da Covid-19. O que tem incomodado os trabalhadores informais, é justamente a paralisação das atividades, circunstância que segundo eles mesmos pode gerar uma crise econômica devastadora.
A liberação de algumas atividades não tem diminuído a preocupação dos autônomos, como relata o pintor, Jeferson Adair Bruder.
“Entendo as medidas de prevenção, mas o trabalhador que recebe por dia, está parado quase três semanas sem receber “, disse. “As contas vencem e o auxílio do governo não será o bastante”, completou.
De acordo com a cabeleireira Gisele Mackoviak, a principal dificuldade é de se manter em meio a pandemia e as restrições do Governo.
“Sem trabalhar você não recebe e sem receber não há como manter as despesas”, enfatiza.
Com o objetivo complementar a renda da população, o presidente Jair Bolsonaro, sancionou nesta quarta-feira, 1º de abril, a lei que estabelece um auxílio de R$ 600 mensais, por três meses, aos trabalhadores informais. Entretanto, de acordo com o economista Luiz Alberto Neves, o impacto econômico deve ser sentido após a quarentena.
“Estávamos dando os primeiros passos para sair de uma recessão econômica, que foi desenhada devido à má gestão dos governos anteriores e agora a situação se torna ainda pior”, pontuou.
Conforme Neves, com o fechamento do comércio e da indústria o dinheiro fica retido e não tem circulação, o que impede geração de recurso, sobretudo para trabalhadores informais.
“As coisas na economia, funcionam como um efeito dominó, alguém recebe aqui e gasta ali, e esse dinheiro vira renda para alguém”, explica.
Além do auxílio de R$ 600 reais, o Governo irá antecipar o 13º dos aposentados e pensionistas. O valor total que será injetado na economia beira os R$ 46 bilhões. De acordo com o economista, neste momento, os incentivos liberados pelo Governo tem o objetivo de garantir uma renda a uma parcela da população.
“Mas pra que essas pessoas possam gastar esses recursos é preciso que o comércio esteja aberto”, analisa.
Impactos da pandemia
Analistas do mercado financeiro já estão prevendo recessão econômica no Brasil devido ao avanço do novo coronavírus. A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 é de -0,48%. Na semana passada, a estimativa era de crescimento na casa do 1,48%.
Os desafios provocados pela pandemia e as medidas necessárias para evitar sua propagação, como o distanciamento social e fechamento de setores não essenciais,seguindo recomendação de autoridades de saúde, como a própria Organização Munidal da Saúde (OMS) –, já impactam a economia global, o que o mercado financeiro também prevê que ocorrerá no Brasil. Os dados estão no Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (30) pelo Banco Central.
Esta foi a sétima vez consecutiva que economistas revisaram o PIB. No início do ano, os especialistas estimavam crescimento na casa dos 2,3%. Na semana passada, o Banco Central revisou a estimativa, com um PIB estagnado em 2020. A previsão atual do Ministério da Economia também é de economia parada, de 0,02% neste ano.
A recessão do PIB brasileiro não ocorre desde 2016, ano do impeachment de Dilma Rousseff, quando o PIB caiu 3,3%. Nos últimos três anos, o crescimento tem sido na casa de 1%, sendo 1,3% em 2017 e 2018 e 1,1% no ano passado.
Reportagem: Jorge Matias/DAV