Rui Car
21/02/2020 13h52

Resultado preliminar de pesquisa com fumicultores é divulgado

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) realizou estudo em Rio do Oeste para criar protocolo de atendimento médico à produtores de fumo

Assistência Familiar Alto Vale
Delta Ativa

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, estiveram nesta semana em Rio do Oeste para apresentar os resultados preliminares de um estudo realizado em conjunto com a Escola Nacional de Saúde Pública, que faz um diagnóstico da saúde dos fumicultores da cidade. Alguns dados chamam a atenção como por exemplo o fato de 100% das famílias atuarem há mais de 10 anos no setor.

 

O município foi escolhido para sediar o estudo e agentes da Secretaria Municipal de Saúde promoveram visitas durante todo o ano de 2019 em aproximadamente 100 propriedades. O grupo elaborou um mapeamento que será divulgado em abril, no entanto a reportagem do DAV teve acesso a algumas informações que revelam a situação da saúde do fumicultor na região.

 

Conforme a fiscal sanitária sênior, Alci Léia Dalmônico Padilha, a pesquisa tem objetivo de gerar dados para a elaboração de um protocolo para atendimento dos produtores de tabaco.

 

“Os produtores responderam a um questionário e o resultado irá auxiliar na estratégia de saúde referente ao fumicultor. O produtor de fumo tem uma rotina diferenciada se comparada a outros trabalhadores rurais”, comenta.

 

De acordo com a pesquisa, 100% dos entrevistados utilizam agrotóxicos e, desse total 97,6% recorrem ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI).

 

“É um dado muito bom porque demonstra que a maioria dos agricultores utiliza o equipamento de proteção, o que pode evitar inúmeras doenças”, ressalta.

 

Outra característica que chama atenção é referente ao índice de famílias que trabalham há mais de 10 anos com a fumicultura.

 

“Todos os entrevistados afirmaram que trabalham há mais de 10 anos na fumicultura. 100% das pessoas entrevistadas também informaram que não tiveram outra ocupação, se não a agricultura”, completa.

 

Índices que preocupam

 

O Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos 10 anos o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. Na agricultura, a taxa de pessoas com alguma doença psicológica também assusta e em Rio do Oeste o cenário não é diferente como apontou o estudo de forma preliminar.

 

Conforme o ex-fumicultor, Ordilei Moraes, que atualmente é agente de saúde, os distúrbios depressivos em fumicultores podem ser associados ao uso dos agrotóxicos e o manuseio do próprio fumo, porém a principal razão ainda são os problemas pessoais.

 

“Questão financeira, problemas com a família e a própria rotina que é muito pesada”, analisa.

 

O taxa de produtores de tabaco com algum distúrbio osteomuscular também pode ser considerada preocupante.

 

“Durante o período de colheita, o trabalho é exaustivo, por isso é comum testemunhar produtores que reclamam de dores no corpo”, explica Moraes.

 

Segundo Alci Léia, a pesquisa não servirá somente para a criação de um protocolo de atendimento de saúde exclusivamente aos fumicultores, mas, para todo e qualquer trabalhador rural.

 

“Iniciamos pela fumicultura porque é um trabalho sazonal e diferenciado, mas o levantamento será realizado em outros culturas”, ressalta.

 

Fonte: Diário do Alto Vale

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