Rui Car
08/11/2022 15h08

Saiba como SC se transformou em um dos principais polos de apicultura orgânica do mundo

Descubra como se dá a produção de mel e seus derivados no Estado

Assistência Familiar Alto Vale
Foto: Divulgação

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Você já reparou em como se dá a organização de uma colmeia? Se tem um inseto que pode nos ensinar sobre trabalho e regras de convivência em sociedade, esse é a abelha, animal que tem chamado a atenção dos catarinenses, transformando o Estado em um dos principais polos de apicultura orgânica do mundo.

 

Willian Goldoni Costa, engenheiro agrônomo do Parque Ecológico Cidade das Abelhas, ligado ao Centro de Ciências Agrárias da UFSC, explica que só há uma abelha rainha por colmeia e que ela, além se alimentar só a partir de geleia real, também tem um aparelho reprodutor diferente: só ela consegue colocar ovos fecundados, dando origem a outras abelhas.

 

Em média, elas duram 45 dias. Nos primeiros, ela faz a limpeza, depois a produção de cera, a alimentação das outras abelhas, da rainha, passa para a guarda e, por último, vai a campo buscar alimento.

 

O mais impressionante em todo esse ciclo de vida é a importância das abelhas para o equilíbrio do nosso ecossistema. Cerca de 70% das plantas cultivadas no mundo dependem da polinização e, sem os insetos, não há frutos.

 

A maçã, por exemplo, depende 100% do trabalho delas. Nessa época do ano, em que as macieiras começam a florescer, apicultores transportam caixas de abelhas para as plantações por aproximadamente um mês, rendendo mel e bons frutos.

 

Apicultura catarinense

 

Atualmente, há mais de 9 mil apicultores espalhados pelo Estado e Santa Catarina possui uma série de fatores que naturalmente favorecem a produção de mel – tanto em quantidade, quanto em qualidade.

 

Ivanir Cella, presidente da FAASC, federação criada em 1979 com o objetivo de unir e organizar as associações que foram surgindo ao longo dos anos para a troca de experiências e conhecimento, explica que o mel catarinense se destaca no cenário mundial por diversas questões.

 

Uma é a qualidade das floradas, que irá indicar o sabor, a consistência e o aroma do mel, por exemplo e, também, a política adotada de não se utilizar nenhum produto químico em nenhuma das fases de produção da abelha.

 

Isso se traduz em um alimento sem nenhum resíduo de agrotóxico e isso no mercado internacional tem muito peso”, completa.

 

Ivanir também conta que a apicultura no Estado é tratada como atividade estratégica em função da interface que ela tem com o meio ambiente e com o nosso bioma, que é bastante dependente da polinização feita pelas abelhas e, também, pelo aumento da produtividade das culturas como maçã, pêra, pêssego, entre outras.

 

Exemplo de sucesso

 

O mel também passa por um aparelho de filtragem de pequenas impurezas e entra em processo de decantação em tonéis – Foto: Divulgação

O mel também passa por um aparelho de filtragem de pequenas impurezas e entra em processo de decantação em tonéis (Foto: Divulgação)

 

Alexandre Goedert tem uma casa de envase de mel no Alto da Boa Vista e já chegou a cultivar mais de 400 colmeias. Hoje ele se dedica exclusivamente ao entreposto e recebe cerca de mil a 1.500 kg de mel por mês de produtores vizinhos.

 

Durante a conversa com a equipe do programa Agro, Saúde e Cooperação, o produtor já desmistifica algo muito importante sobre o mel: a cristalização não tem nada a ver com a sua qualidade. A tendência natural é que o mel acabe cristalizando com o tempo, principalmente por causa da mudança de temperatura e, claro, da floração.

 

O mel também passa por um aparelho de filtragem de pequenas impurezas e entra em processo de decantação em tonéis. O padrão de excelência é muito alto, assim como o controle de higiene, o que faz toda a diferença na qualidade do produto.

 

Exportação de mel catarinense

 

É no Sul do Estado que fica a indústria que exporta o melhor mel do mundo. Padrão de higiene e suporte técnico, tudo isso somado ao aroma, ao sabor e diversidade da flora catarinense deu ao mel produzido aqui o reconhecimento como um dos melhores do planeta.

 

Você sabia que Araranguá tem uma das maiores exportadoras e representantes do mel brasileiro no exterior? Inclusive, a empresa ganhou seis vezes a medalha de melhor do mundo. Célio Silva, fundador e diretor do estabelecimento, explica que o segredo do sucesso é o trabalho em conjunto com os apicultores.

 

Atualmente, os filhos de Célio fazem parte do negócio e cuidam do setor de exportação. Tarciano Santos da Silva, diretor da empresa, conta que os apicultores entregam o mel para eles, depois o produto passa por uma filtração, homogeneização, padronização, mantendo as suas características, para aí sim, ser exportado.

 

Além do mel, outros 70 produtos são fabricados a partir das substâncias extraídas das colmeias, como cera depilatória, cremes, sabonetes, entre outros. “Cada dia a gente está trabalhando em um setor diferente. De acordo com o nosso volume de vendas, a gente vai repondo aquele produto no estoque”, explica Cyntia Santos da Silva, gerente de produção.

 

O segredo do Mel de melato catarinense

 

Em 2011, um terço das colmeias catarinenses foi perdida por uma combinação de fatores e o avanço de pragas – Foto: Divulgação

Em 2011, um terço das colmeias catarinenses foi perdida por uma combinação de fatores e o avanço de pragas (Foto: Divulgação)

 

Nossa trajetória na apicultura nem sempre foi doce. Em 2011, um terço das colmeias catarinenses foi perdida por uma combinação de fatores e o avanço de pragas. Resistimos com a profissionalização do setor, aprimoramento de técnicas, muito trabalho e a ajuda da ciência.

 

Para saber mais sobre as pesquisas que estão sendo realizadas, a equipe do Agro, Saúde e Cooperação foi até a Cidade das Abelhas, local que já foi administrado pela Epagri e hoje está sob os cuidados da Universidade Federal de Santa Catarina.

 

A cochonilha tem sido muito estudada pelos pesquisadores, isso por causa do mel de melato.

 

Nós estamos estudando o ciclo de desenvolvimento da cochonilha, que nós precisamos desse inseto para garantir a produção do mel de melato da bracatinga. Então todo o nosso estudo é para entender as necessidades, o desenvolvimento e a reprodução desse inseto para garantir a continuidade dessa cadeia que é muito importante para a apicultura de Santa Catarina, já que nós temos a denominação de origem, porque hoje esse mel é exclusivo do Planalto Sul Brasileiro”, comenta a pesquisadora Márcia Regina Faita.

 

O mel de melato é produzido a cada dois anos. E a pesquisadora explica que a partir do momento que o ciclo reprodutivo da cochonilha for identificado, a intenção é propor uma produção anual desse produto.

 

O selo de identificação geográfica do mel de melato da bracatinga foi concedido em 2021 e diferente dos méis produzidos a partir de floradas, o mais escuro e menos adocicado é obtido a partir das excreções dos insetos sugadores de seiva da planta. Outro fato recente é a descoberta sobre as suas propriedades anti-inflamatórias antioxidantes e anti trombóticas.Hoje a Alemanha está entre os países que mais consomem esse tipo de mel. Os brasileiros ainda estão conhecendo, descobrindo o valor do mel de melato, os benefícios que ele proporciona para a saúde.

 

Atualmente, essas cochonilhas são as nossas galinhas dos ovos de ouro. Nós já conhecemos, já tem muitos estudos sobre as abelhas, também sobre a bracatinga, mas não temos estudo suficiente sobre a cochonilha para garantir a continuidade da produção desse mel”, completa Márcia.

 

O inseto ainda é pouco conhecido, mas já ganhou sequenciamento de nova geração do DNA. O biólogo Valdir Estefenon explica que usa a última tecnologia desenvolvida no mundo para conhecer todos os genes, ou seja, tudo o que é produzido pela cochonilha e, dessa forma, poder entender o que tem de diferente no mel e por que ele é produzido em Santa Catarina.

 

Fonte: Branded Studio / Agro, Saúde, Cooperação / ND+
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