Rui Car
18/01/2023 08h27

SC é o Estado com mais áreas de risco para desastres mapeadas; veja lista de municípios

Quatro cidades catarinenses figuram entre os 20 municípios com mais regiões críticas mapeadas para deslizamentos e inundações

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Foto: Arquivo / Defesa Civil de Brusque

Foto: Arquivo / Defesa Civil de Brusque

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Santa Catarina é o Estado brasileiro com mais áreas de risco para desastres mapeadas, de acordo com dados do SBG (Serviço Geológico do Brasil) obtidos pelo repórter Guilherme Padin, Portal R7. São 2.900 áreas identificadas. Em segundo lugar no ranking está o Espírito Santo, com 2700.

 

Ao todo, há quatro cidades catarinenses com mais regiões suscetíveis à deslizamentos e inundações em todo o país: Brusque (3º lugar), Joinville (5º), Lages (16º) e Tubarão (19º). Confira o ranking completo no final da reportagem.

 

Como “área de risco” entende-se regiões suscetíveis à fenômenos naturais e ocupadas por pessoas em vulnerabilidade. Por exemplos encostas de morros e margens de rio, onde moradores podem sofrer com deslizamentos e cheias.

 

Em Brusque, no Vale do Itajaí, o mapa aponta quase 200 áreas de risco. O maior trecho consiste no entorno da avenida Beira Rio, onde edificações de madeira e alvenaria estão instalada nas margens do Rio Itajaí Mirim e lidam com risco de inundações. Cheias foram registradas em 2015 e 2017.

 

A SBG sugere intervenções em todas as áreas de risco apontadas. Na região, por exemplo, o órgão sugere realizar estudos hidrológicos para avaliar padrão de recorrências de inundações e implantar sistema de alerta e monitoramento periódico das áreas de risco.

 

Há ainda residências construídas em encostas de morros, às quais a SGB sugere ações como ampliar monitoramento em períodos chuvosos, acompanhamento técnico constante, evitar novas ocupações.

 

Lista de municípios com mais áreas de risco mapeadas – Foto: PORTAL R7/CPRM/DIVULGAÇÃO/ND

Arte: R7 / CPRM

 

Em Joinville, município com mais de 180 áreas críticas identificadas, há amplas regiões de risco nos bairros Jardim Iririú e Comasa. É alertado para inundações sazonais devido ao rio Guaxanduva. A adoção de políticas para limitar novas construções no setor, remoção da população em eventos de inundação e implantação de sistemas de alerta são sugeridas.

 

Em Lages e Tubarão, 16º e 19º colocados, há cerca de 60 áreas de risco identificadas em cada cidade. O mapeamento completo e as áreas de risco podem ser conferidas neste link.

 

Único Estado todas áreas de risco mapeadas, pontua Defesa Civil

 

Para Rodrigo Nery e Costa, gerente de operações da Defesa Civil Estadual, a colocação do Estado se dá devido ao trabalho ativo em identificar as áreas de risco. “Santa Catarina é o único Estado que contratou o mapeamento e entregou os resultados às cidades”, pontua.

 

O órgão contratou estudo da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais) – autarquia federal que leva o nome de SGB – que analisou, entre outras coisas, o risco de deslizamento de terra em todos os 295 municípios catarinense. “Quem procura o problema, acha”, resume Costa.

 

Os resultados foram entregues no final de 2018. “Essa atribuição é do município, mas as vezes os municípios não tem a verba”, pontua Costa. O levantamento tem validade de cerca de dois anos, devendo ser atualizado periodicamente.

 

Estados com mais áreas de risco mapeadas – Foto: PORTAL R7/CPRM/DIVULGAÇÃO/ND

Arte: R7 / CPRM

 

Sobre a situação de Brusque, Costa ressalta as características geográficas da região. Localizado no Vale do Itajaí, o município é formado por uma longas áreas acidentadas. Nesses casos, é importantes políticas de planejamento urbano e plano diretor que definam a melhor ocupação.

 

4 milhões de pessoas em áreas de risco

 

Em todo o Brasil, quase 4 milhões de pessoas vivem em mais de 13 mil áreas de risco no Brasil, segundo o SBG. Cerca de 4.000 delas — ou 30,1% — são áreas consideradas de muito risco, mostram os dados obtidos pelo R7.

 

Entre o total de áreas identificadas pelo órgão nas 1.600 cidades mapeadas em todo o país, os riscos de deslizamento (6.800) e inundação (4.300) são os que aparecem com maior frequência.

 

Além das próprias ameaças da natureza, a gravidade do problema se mede a partir do aspecto socioeconômico, destacam especialistas ouvidos pelo R7, que atinge sobretudo as camadas mais pobres da população brasileira.

 

Nossas cidades são segregadas territorialmente: os que têm mais recursos ocupam as áreas mais seguras, e os que têm menos, por estarem fora do mercado residencial formal, são literalmente empurrados para viver em áreas ambientalmente frágeis, nas encostas e beiras de córrego”, afirma Rodolfo Baesso Moura, pesquisador do LabGRis-UFABC (Laboratório de Gestão de Riscos da Universidade Federal do ABC).

 

O principal fator de influência, segundo Tiago Antonelli, chefe da Divisão de Geologia Aplicada do SGB, é a ocupação em áreas irregulares ou inapropriadas.

 

Geralmente, são pessoas de baixa renda que não têm opção de viver em áreas mais caras e vão ocupar as periferias. Dependendo da região, essas áreas são cercadas de serras e morros”, aponta o geólogo.

 

A argumentação de ambos se sustenta também pelos números: são as famílias pobres e negras as que sofrem mais frequentemente com desastres naturais, segundo dados do Instituto Pólis, divulgados em julho do ano passado, com base em informações de São Paulo (SP), Belém (PA) e Recife (PE).

 

Na capital paulista, por exemplo, as famílias que vivem em áreas de risco têm renda domiciliar média de R$ 1.600, 54% menor que a média da cidade (R$ 3.500).

 

A raça é atravessada também por este problema: se 37% dos paulistanos são negros, nas áreas de risco de São Paulo a proporção dessa população é de 55%.

 

A história de como as grandes cidades foram construídas no Brasil, desrespeitando os espaços dos rios e os transformando de modo a tentar “dominá-los”, aponta Baesso, é outro motivo determinante para que a população sofra hoje com os desastres ambientais.

 

Principalmente por meio das retificações, canalizações, tamponamentos que, somados às altas taxas de impermeabilidade das médias e grandes cidades brasileiras, contribuem diretamente com os processos de inundação”, explica o pesquisador, que conclui: “Importante compreender a construção social dessa problemática, dos riscos e desastres”.

 

Mapear e definir medidas

 

O enfrentamento a potenciais desastres naturais, uma vez identificadas as áreas de risco, varia de acordo com o local, comentam os especialistas.

 

Mapear essas áreas é o primeiro passo, pois assim é possível propor medidas para reduzir os riscos ou qualificar a segurança, diz Rodolfo Baesso. As ações podem ser estruturais, prossegue ele, como obras de contenção, ou não estruturais, como a organização de núcleos comunitários de Defesa Civil.

 

Essa composição de priorização de atuação, a partir dos cenários e graus de risco e da concepção de diferentes medidas, estruturais e não estruturais, é um elemento fundamental para a elaboração de PMRRs (Planos Municipais de Redução de Riscos)”, afirma o pesquisador.

 

As políticas mais importantes passam pela atribuição de recursos para a elaboração desses planos em escala adequada, comenta Baesso, para que as medidas sejam executadas corretamente e se evite a remoção de moradias. Caso a remoção seja inevitável, isso deve ser acompanhado de um programa habitacional.

 

Ao citar a lei nº 12.608, Tiago Antonelli lembra que compete aos municípios o conhecimento de suas áreas de risco — quando isso não é possível, o Estado e a União devem ajudar —, bem como os planos de gestão para evitar potenciais desastres.

 

*Com informações do repórter Guilherme Padin, do R7

 

Fonte: Felipe Bottamedi / ND+
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