Rui Car
27/09/2021 11h32 - Atualizado em 27/09/2021 11h33

Sem previsão de ser duplicado, trecho esquecido da BR-470 no Alto Vale sofre com má conservação

Reportagem traz à tona necessidade de ampliar pistas no Alto Vale

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Enquanto parte do Vale do Itajaí briga pela conclusão das obras de duplicação, há outra que reivindica o mínimo: boas condições de trafegabilidade. A situação da BR-470 entre Indaial e o Alto Vale é de abandono. Em alguns trechos, a sinalização se resume em linhas apagadas no asfalto. Os remendos amontoam-se um sobre o outro e carros e caminhões usam os curtos acostamentos para desviar dos buracos.

 

Dá para enterrar um ex ali dentro!“, berra em tom de brincadeira uma vendedora de tangerinas às margens da rodovia, em Apiúna, enquanto observa os veículos frearem repentinamente diante de uma cratera que se formou no meio da pista.

 

Às vezes o estrago é tanto que de uma só vez o motorista perde dois pneus e precisa acionar o guincho. Marcos Roberto Wunsch, 48 anos, o Marquinhos, como é conhecido na região, trabalha no recolhimento de carros quebrados na BR-470 desde 1998. Em 2004, abriu o próprio negócio. Atende em um trecho de cerca de 100 quilômetros, entre Apiúna e o trevo de Otacílio Costa.

 

Apesar do foco ser o resgate a veículos envolvidos em acidentes, Marquinhos acaba auxiliando também as vítimas da má-conservação da rodovia.

Desde que atendo este é o momento mais crítico da BR-470. Dá até pena de mandar os caminhões para a estrada, um pneu desses é caro. Não sei o que vai ser se não tomarem uma providência com urgência“, lamenta.

 

À espera de uma solução

 

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) lançou neste semestre edital de licitação para a manutenção do trecho de mais de 120 quilômetros, entre Ascurra e o final da BR no Alto Vale do Itajaí. A empresa vencedora, LCM, de Minas Gerais, deve começar os trabalhos em outubro.  

 

São dois anos de contrato já assinado e quase R$ 30 milhões para serviços como roçada, tapa-buracos, remendos técnicos, reparos profundos e correção de defeitos; pintura com cal de sarjetas e meios-fios, remoção de lixo e recomposição da drenagem. 

 

Para o prefeito de Rio do Sul e porta-voz da Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (Amavi) sobre o assunto, José Thomé (PSD), a quantia é insuficiente para resolver os problemas.

 

É tapar o sol com a peneira. Precisamos lutar pelo básico. Sei que todas as rodovias são importantes, mas nada se compara ao nível de precariedade da BR-470. O movimento industrial e a geração de empregos em Rio do Sul é três vezes maior que toda a Serra Catarinense. Precisamos de uma solução urgente“, indigna-se Thomé.

 

Por nota, o DNIT respondeu que elabora um novo edital para “recuperação ampla do segmento entre Ascurra e Ibirama, do Km 85 ao Km 111, cujas obras deverão iniciar no início do próximo ano. Até lá, serão efetuadas intervenções de tapa-buracos e remendos nos trechos mais deteriorados”.

 

Situação da rodovia gera prejuízo a motoristas

Situação da rodovia gera prejuízo a motoristas (Foto: Patrick Rodrigues)


Duplicação no Alto Vale?

 

Agora, o objetivo das entidades e prefeituras é pedir por essa manutenção mais efetiva e urgente. Em paralelo, um desejo mais ambicioso, o da duplicação da rodovia até o Alto Vale, é pleiteado há anos, como lembra o consultor do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Rio do Sul (Codensul), Cleber Stassun.

 

Já se sabe que é preciso, mas é necessário contratar os estudos básicos de viabilidade para ter isso encaminhado quando terminarem as obras nos quatro lotes“, almeja Stassun.

 

Questionado sobre o assunto, o DNIT não mencionou a intenção de estudar a viabilidade da continuação da duplicação e afirmou que uma avaliação feita em 2014 encontrou soluções para os pontos críticos da BR-470 no Alto Vale: manutenção da pista simples, construção de contornos viários em Ascurra e Apiúna, 40,6 quilômetros de ruas laterais, três passagens inferiores, 13 novas pontes, três passarelas e 2,5 quilômetros de terceira faixa.

 

Ou seja, não há perspectivas de duplicação. Tampouco previsão para as obras listadas saírem do papel.

Até os anos 60 você poderia chegar a Rio do Sul de trem, avião, rodovia e até de barco. Hoje não tem nem estrada. Vivemos em uma região desprestigiada e nos sentimos abandonados“, diz o consultor, que lida com o tema BR-470 há quase 20 anos. 

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, já sinalizou o plano de adotar um modelo de concessão à iniciativa privada não só do trecho duplicado, como de todo o restante da rodovia em solo catarinense. A intenção acabou criando um novo obstáculo para o andamento dos projetos de base para a continuação da obra em direção ao Alto Vale, relembra Stassun.

 

A concessão antes da duplicação já se mostrou inviável em outro estudo por conta do custo elevado. E se desta vez se mostrar inviável também? Temos de caminhar com as duas coisas (estudos de viabilidade e de concessão)“, defende.

Enquanto nenhuma ideia evolui, os usuários da BR-470 precisam lidar com a situação da rodovia. O DNIT afirma que a partir de Indaial o trecho está “coberto com contratos de manutenção” e que realmente é preciso uma obra de restauração significativa, mas que as intervenções necessárias estão sendo feitas.

 

Não é o que parece aos milhares de motoristas que trafegam pela BR-470 diariamente.


POR: BIANCA BERTOLI – JORNAL DE SANTA CATARINA / NSC TOTAL

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