Rui Car
23/06/2017 09h08

Suspeito diz que foi chamado de ‘folgado’ antes de tiroteio que matou 2 delegados da PF em SC

Veja teor do depoimento dele

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G1 SC

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Nilton César de Souza Júnior, baleado durante o conflito que resultou na morte de dois delegados da Polícia Federal na madrugada de 31 de maio, em Florianópolis, deu à Polícia Civil na quinta-feira (22) sua versão sobre o crime, em uma casa usada para prostituição. Dono de um trailer de cachorro-quente, o suspeito teve alta e foi encaminhado para o Presídio de Florianópolis ainda na quinta.

 

O G1 teve acesso à íntegra do depoimento. Pela versão de Nilton, um dos delegados teria atirado primeiro e ele, já baleado na perna, atirou de volta. Nilton afirma ter feito de quatro a cinco disparos, de dentro do local e durante a fuga, do lado de fora do imóvel. O homem ainda afirmou que só soube que os dois eram delegados quando já estava no hospital.

 
Conforme o delegado Ênio Matos, da Delegacia de Homicídios, o suspeito confirmou as versões de depoimentos de outras pessoas ouvidas. Segundo Matos, inquérito já foi enviado para a Justiça. O Ministério Público de Santa Catarina ainda não fez a denúncia.
 
 
Adriano Antonio Soares, de 47 anos, e Elias Escobar, de 60, eram delegados da PF no Rio de Janeiro. Escobar era chefe da PF em Niterói e foi atingido por tiros na cabeça e no peito. Ele morreu no local. Já Soares chegou a ir para o hospital, mas morreu em seguida. Ele era chefe da PF em Angra dos Reis. 
 
 

Um laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) apontou que os dois delegados tinham elevado nível de álcool no sangue.

 

Entrega do cachorro-quente

Conforme o depoimento, Nilton chegou à casa à 1h30 para entregar lanches, como normalmente fazia. Segundo ele, nas quitinetes do endereço residem várias pessoas, entre elas algumas que eram garotas de programa e recebiam clientes.

 

Delegados foram mortos no bairro Estreito (Foto: Julio Ettore/RBS TV)Delegados foram mortos no bairro Estreito (Foto: Julio Ettore/RBS TV)

Delegados foram mortos no bairro Estreito (Foto: Julio Ettore/RBS TV)

 

Os lanches eram destinados a duas garotas de programa. Após entregá-los, Nilton teria esperado na área de serviço do prédio pelo pagamento dos lanches junto com um funcionário dele, que era frequentador do local. No meio tempo, a campainha tocou. As garotas de programa, que eram suas conhecidas, já o haviam instruído a esperar na área de serviço quando chegassem clientes.

 

Ele disse ter esperado no local, mas um dos delegados teria forçado a porta da área de serviço para entrar. Uma garota de programa repreendeu o cliente.

 

O dono do trailer de cachorro-quente ainda afirma que os delegados pediam cigarros e bebidas, mas as garotas de programa afirmavam não vender esses produtos no local. No entanto, uma delas ofereceu um cigarro a R$ 5, e um dos policiais teria achado muito caro.

 

Delegado teria dito: ‘tu é folgado’

Ainda segundo o depoimento, um dos delegados teria visto Nilton na área de serviço e falou “tu é folgado”. Nilton, por sua vez, retrucou e disse “eu sou de boa”.

 

O taxista que teria deixado os dois delegados no local pediu para eles irem embora. Depois, uma das garotas de programa pediu para Nilton ir embora, porque ela iria fechar a casa.

 

Nilton disse que viu que um dos homens levantava a blusa e deixava ver uma pistola na cintura. No depoimento, o homem ainda diz que chegou a pensar que era um assalto, porque “ninguém falou que era policial”.

 

O suspeito contou ainda que saiu da área de serviço e achou que todos já haviam ido embora, mas os dois delegados ainda estavam na sala da local. Novamente, segundo o depoimento, um dos delegados falou “tu é folgado” para Nilton e ele repetiu:“eu sou de boa”.

 

‘Agora todo mundo vai morrer’

O dono do trailer de cachorro-quente afirma que estava saindo do local, indo em direção ao corredor, quando ouviu alguém dizendo “volta, volta”. Disse que quando olhou para trás, viu um dos delegados deles apontando uma pistola para a suas costas e dizendo “volta, volta”.

 

Segundo ele, o funcionário dele também teve uma arma apontada para as costas e passou correndo em direção a porta. Um dos delegados disse “Tu vai primeiro, magrão” ao funcionário, que correu. Depois, o delegado falou “Agora todo mundo vai morrer”.

 

Nilton disse que percebeu que havia um homem no chão e ouviu um primeiro tiro. Ele contou que ouviu um segundo tiro e caiu no chão. Atingido na perna, disse que, mesmo deitado, começou a disparar na pessoa que estava ao seu lado. A pessoa parou de disparar.

 

O vendedor ainda disse que ouvia mais tiros e procurou abrigo na porta de entrada. No depoimento, ele falou que percebeu que havia levado um tiro na mão e foi em direção à rua. Dali, diz que ainda fez disparos.

 

Ferido do lado de fora do local, Nilton contou que viu o funcionário dele no canto da parede, no fundo do corredor. Ele pediu ajuda para ir ao hospital. Depois de acomodado no carro, pediu ao amigo que buscasse sua arma, que havia ficado na cena do crime, antes de ser levado por ele ao hospital, onde ficou internado por mais de 20 dias.

 

No depoimento, Nilton afirmou que estava com a arma porque é praticante de tiro e naquela noirte pretendia ir a um estande de tiro em um bairro próximo. Ele disse não ter porte de arma, apenas uma autorização para trafegar com sua arma de casa para o estande, mas que, por conta de “contratempos” no trabalho, não foi ao estande naquela noite.

 

O G1 não conseguiu falar com o advogado de Nilton até a publicação desta notícia. Na quarta, ele havia informado à reportagem ter solicitado à Justiça a revogação da prisão preventiva e conversão em medidas cautelares.

 

Na época do crime, a Polícia Federal lamentou a morte de dois delegados e informou que estavam na cidade participando de uma capacitação interna.

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