Rui Car
06/05/2024 11h21

Tragédia no Rio Grande do Sul chega ao 10º dia com dezenas de mortes e milhares de desabrigados

Além da capital, Porto Alegre, as áreas mais afetadas no estado são os vales dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí

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Imagens da região de Canoas (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Imagens da região de Canoas (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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As fortes chuvas e alagamentos no Rio Grande do Sul, que começaram em 27 de abril, já causaram 83 mortes e deixaram 121.957 desalojados de acordo com atualizações da Defesa Civil do estado na manhã desta segunda-feira (6). Além da capital, Porto Alegre, as áreas mais afetadas no estado são os vales dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí. No domingo (5), o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), publicou um decreto declarando calamidade pública em 336 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, sendo que 345 cidades foram afetadas pelas chuvas.

 

A Defesa Civil do estado contabilizou 111 desaparecidos e 276 feridos – quatro óbitos ainda estão em investigação. Ao todo, 850.422 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas, sendo que 19.368 estão em abrigos. Em todo o estado, 854 mil pessoas estão sem abastecimento de água, 424 mil sem luz e 157 estradas foram bloqueadas. Estima-se que o abastecimento de gás de cozinha esteja comprometido em 30% do estado.

 

O abastecimento de combustíveis não será afetado na capital, de acordo com o Sindicato Intermunicipal do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Estado (Sulpreto), mas cidades como São Leopoldo e Eldorado do Sul tiveram o abastecimento prejudicado, em razão da interdição de estradas.

 

Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) afirmou que os bloqueios nas estradas e ferrovias do Estado, impedem a regularidade do abastecimento de biocombustíveis. A fim de assegurar o fornecimento de combustíveis com o controle da qualidade adequada, a agência autorizou a flexibilização da mistura de biodiesel no diesel e de etanol na gasolina.

 

Em 1º de maio o governo estadual decretou estado de calamidade pública e desde então tem buscado auxílio do governo federal para lidar com a situação. Eduardo Leite solicitou que seja suspenso o pagamento da parcela mensal da dívida do Estado com a União, R$ 3,5 bilhões, pelo período que durar a reconstrução dos danos causados pelas chuvas. Se atendida a solicitação, os recursos serão destinados para restaurar a infraestrutura e para estimular a economia local.

 

O governador ainda solicitou o envio de recursos ao estado e afirmou que será preciso um “Plano Marshall” para reconstruir o Rio Grande do Sul – uma referência aos recursos enviados pelos Estados Unidos para a reconstrução de países europeus após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945).

 

Além disso, se destacam as diversas inciativas da sociedade civil para resgate de pessoas, doações e distribuição de comida. Nas redes sociais, multiplicam-se as publicações mostrando resgates, preparação de doações e de alimentos para os desabrigados. Profissionais oferecem seus serviços para atender as vítimas, incluindo psicólogos.

 

Chuva dá trégua nesta segunda-feira, mas previsão do tempo ainda preocupa

 

A segunda-feira (6) deu uma trégua nas chuvas intensas que têm afetado o Rio Grande do Sul desde o dia 26 de abril causando alagamentos, transbordamentos de rios, deslizamentos, mortes e desalojamentos, entre outras perdas.

 

A previsão é de que o tempo fique firme com sol nesta segunda e terça-feira na maior parte do estado, com exceção do sul e de pontos ao Oeste, onde há previsão de chuvas, que novamente atingem todo o estado na quarta-feira. Na quinta há nova previsão de sol, mas na sexta e sábado há possíveis instabilidades em todo o Rio Grande do Sul.

 

Nesta segunda-feira, o nível do Guaíba caiu 3cm, chegando a 5,27m, segundo informações da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) e da Agência Nacional de Águas. A cota, no entanto, ainda está muito acima do nível de alerta, 2,5m e do nível de alagamento, 3m.

 

Há, ainda, alerta para inundações no sul do estado, especialmente em Pelotas e Rio Grande, onde há preocupação com o aumento do nível da Lagoa dos Patos, que já estava 1,7m acima do nível normal no domingo.

 

Entenda os eventos climáticos que causaram as fortes chuvas

 

De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, as fortes chuvas foram causadas por um fluxo de umidade que desceu da região norte do país. Somada a esse fator, uma frente fria que veio do oceano em direção ao interior intensificou a precipitação na metade sul do estado. Os ventos decorrentes dos fenômenos passaram dos 80 km/h.

 

A interação das duas frentes gerou uma zona de alta pressão, causando as fortes precipitações. As chuvas começaram em 27 de abril, quando algumas cidades do Vale do Rio Pardo, como Santa Cruz do Sul, registraram estragos devido à chuva de granizo.

 

Em Porto Alegre, houve temporal com mais de 1,2 mil raios. Já no dia 28, 15 municípios registraram o impacto das chuvas, e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta laranja de tempestade para toda a região sul do estado. No dia seguinte, foi emitido alerta vermelho para toda a metade sul do estado.

 

Na terça, 30 de abril, ocorreram as primeiras 8 mortes devido às inundações e temporais. Além disso, várias estradas tiveram seus trechos bloqueados: a BR-290, em Eldorado do Sul, teve uma parte do asfalto derrubada pelas águas. Uma ponte desabou no município de Santa Tereza.

 

No dia 1º de maio, quando o governador declarou estado de calamidade pública, os danos já atingiam diversas regiões do Rio Grande do Sul. O número de mortes chegou a 11 e houve registros de deslizamentos de terra e de outras pontes que ruíram com a força das águas. No fim do dia, a Defesa Civil emitiu um alerta para que os moradores do Vale do Taquari deixassem a região.

 

No dia seguinte, quinta-feira, o nível do Rio Taquari alcançou 30 metros de altura, o maior nível histórico. O Guaíba, em Porto Alegre, ultrapassou a cota de inundação, chegando a 3,63 metros. O número de mortes subiu para 32 pessoas e houve rompimento parcial de uma barragem entre Cotiporã e Bento Gonçalves, além da queda de pontes em outros municípios do estado.

 

A situação de Porto Alegre se agravou em 3 de abril, quando o nível do Guaíba ultrapassou os 4,6m, chegando a 4,77 no fim do dia. As águas atingiram a Rodoviária, ruas do Centro Histórico, os centros de treinamento de Internacional e Grêmio e outros pontos. O Aeroporto Internacional Salgado Filho foi fechado, com cancelamento de todos os voos saindo e chegando à capital do estado.

 

Na data, a Defesa Civil emitiu alerta de evacuação de sete cidades devido ao rompimento parcial da barragem 14 de Julho, e alertou para o possível rompimento de quatro outras barragens.

 

No sábado, 4 de maio, o número de mortos chegou a 55, ultrapassando as perdas humanas ocorridas em 2023 no Vale do Taquari, que deixou 54 vítimas. O Guaíba passou dos 5m em Porto Alegre. Uma parte da rodovia Castelo Branco, que liga a capital ao litoral ficou interditada, após o asfalto romper em razão do fluxo de água que passa por uma comporta debaixo da pista.

 

O Guaíba voltou a subir no domingo (5), alcançando 5,3 metros. A Defesa Civil do estado anunciou que o número de mortos em razão das chuvas tinha subido para 66. As aulas foram suspensas em Porto Alegre até a próxima quarta-feira (8), mas em outras cidades do estado estão suspensas por tempo indeterminado.

 

“Tsunami” no Vale do Taquari

 

No Vale do Taquari, as pessoas compararam o volume de água e a rapidez com que inundou as cidades da região a um tsunami. O Rio das Antas, em Cotiporã, subiu drasticamente durante o dia 1º de maio, inundando até as câmeras de segurança. O volume de água desceu para o Rio Taquari e as cidades do Vale começaram a ficar com ruas e praças inundadas no início da noite.

 

Na manhã do dia seguinte as cidades amanheceram completamente inundadas, com diversas famílias tendo que subir nos telhados de suas casas para conseguirem ser resgatadas por helicópteros da Polícia Rodoviária Federal. A correnteza arrastou casas, comércios e pontes nas cidades da região.

 

Prejuízos em milhões para poder público e setor privado

 

A Central de Abastecimento (Ceasa) do estado disse que não há risco de desabastecimento, mas alerta para um possível aumento dos preços. A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima prejuízos de cerca de R$ 71,4 milhões para agricultura do estado.

 

Ao todo, as perdas das cidades afetadas pelos temporais podem chegar a R$ 559,8 milhões, de acordo com a CNM. O montante se refere apenas aos danos já levantados e disponibilizados por 19 municípios dentre os 170 que registraram seus decretos no sistema de Defesa Civil nacional.

 

Fonte: Roberta Ribeiro / Gazeta do Povo
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